CFAD, GUARDA

Aposta nas energias renováveis a olhar para a sustentabilidade

Perguntar-se-á, porventura, o leitor o que terá passado pela cabeça do fotógrafo para registar em foto a torre de menagem do castelo da Guarda através de uma janela fechada. Na verdade, não enlouqueceu, nem tão pouco pretende que a fotografia seja uma obra de arte. Não, a intenção é tão-só a de demonstrar como pode uma IPSS ser energeticamente eficiente, com todas as vantagens económico-financeiras que daí advêm.
De facto, o que se trata aqui é de mostrar como o Centro de Formação, Assistência e Desenvolvimento (CFAD) aposta forte na eficiência energética, até no simples pormenor de as janelas de todo o Lar Santa Clara, que acolhe três dezenas de idosos, reterem o calor do Sol, o que serve para aquecer o ambiente. E estamos a falar de uma instituição sedeada na Guarda, não só a cidade mais alta de Portugal, como seguramente uma das mais frias, senão a mais gélida mesmo.
Explicada a estranha fotografia que ilustra o início desta reportagem, é bom que se diga, até pelo excelente exemplo, que o CFAD é, provavelmente, a IPSS do País que, até ao momento, mais apostou nas energias renováveis, uma forma de diversificar as suas receitas e, dessa forma, garantir uma melhor sustentabilidade financeira.
Os responsáveis pelo CFAD não se contentaram com a colocação de uns quantos painéis solar-térmicos e/ou fotovoltaicos, como acontece, e bem, já em muitas instituições espalhadas pelo País. Na Guarda, sob a batuta e visão estratégica do padre Virgílio Ardérius, presidente do CFAD, a aposta foi mais longe e requereu um investimento de cerca de 1,5 milhões de euros.
“Apostando na rentabilidade e igualmente num projecto de longo prazo, temos uma iniciativa, porventura caso único no País, que é um projecto que recebeu o nome de «Utilização Racional de Energia e Eficiência Energética Ambiental em Equipamentos Colectivos»”, começa por referir o padre Virgílio Ardérius, recordando que no início eram poucos os que acreditavam no projecto: “Houve quem dissesse que eu estava louco por me meter numa coisa destas, mas, como acredito na tecnologia, nos projectos e nos técnicos, avancei com uma candidatura, em 2007, para poder montar centrais fotovoltaicas com produção a 5kW/h. As condicionantes para este projecto eram que as centrais fotovoltaicas fossem instaladas em escolas e com uma dupla finalidade: a sensibilização das camadas mais jovens para a utilização das energias renováveis e a promoção de medidas de solidariedade social. Portanto, era necessário ser uma IPSS a concorrer e escolas a receberem as centrais, para formação das crianças. O projecto esteve a hibernar cerca de dois anos e só em 2009 foi desencadeado o processo. Tive a colaboração da Câmara da Guarda, porque as escolas são na maioria pertença da autarquia, que aderiu de imediato à iniciativa. A rentabilidade, soubemos depois, não tem sido a que deveria ser, porque há escolas que não têm as melhores condições para receber uma central deste género”.
Actualmente, instaladas e espalhadas pelo concelho da Guarda estão a funcionar 45 centrais fotovoltaicas, em outras tantas escolas.
“Estamos agora a tentar valorizar a produção, porque isto requereu um investimento de quase 1,5 milhões de euros, a cargo do Centro. É um projecto para estar pago em 10 anos e na esperança de que em cada ano já sobre algo para o apoio social, o que, diga-se, já tem acontecido. O projecto está a pagar-se a si próprio e num futuro breve esperamos que seja uma fonte de receita para a instituição”, assegura o presidente do CFAD, que lembra ser este um projecto com uma vida útil de 25 anos.
Firmes na intenção de aproveitar ao máximo a energia do Astro-Rei, os responsáveis da instituição têm ainda mais duas centrais a produzir energia para se pagarem a elas próprias em cinco anos. “Para além disto, temos um outro projecto aprovado, que estamos agora a implementar, que é o MaisCentro, e que tem três finalidades essenciais: a produção de energia eléctrica para consumo próprio; a implementação do solar-térmico, ou seja, painéis solares para aquecimento de água; e ainda a eficiência energética, como a troca de lâmpadas de filamento por LED e toda uma outra série de medidas. Esta é uma forma de reduzirmos os consumos energéticos, o que tem grande impacto na sustentabilidade da instituição”, argumenta Virgílio Ardérius.
Mas a aposta nas energias renováveis não se ficou por aqui. Situado numa região em que a Natureza é pródiga, desde a qualidade do ar, à força do vento e ao calor do Sol, entre muitas outras mais-valias naturais, o CFAD adquiriu a Quinta das Fórnias, que o presidente considera ser “um paraíso natural às portas da cidade” e onde pretende instalar um parque eólico.
“É uma quinta com cerca de 120 hectares, que surgiu por causa da energia eólica. Temos um protocolo com o grupo GERNERG e espero ver por lá alguns aerogeradores a produzir energia dentro em breve, aproveitando os recursos endógenos que temos”, revela Virgílio Ardérius, que tem ainda outra intenção para aquele espaço, sempre com a saúde financeira da instituição debaixo de olho: “Já estamos também a cultivar a quinta, onde já produzimos batata, melância, courgetes e outras verduras, de harmonia com a capacidade de armazenagem de água que temos. No ano passado já produzimos produtos que consumimos na instituição. É mais uma forma de rentabilizarmos a quinta e darmos mais sustentabilidade à instituição. Estamos ainda a pensar instalar na quinta uma carreira de tiro para profissionais, ou caçadores, e para lazer. Aliás, a recuperação da casa da quinta foi feita com alguns apoios e será para receber um centro de cultura, desporto e lazer. E também se recuperou a capela que estava a servir de vacaria”.
O exemplo de boas práticas aqui plasmado teve sempre como finalidade a sustentabilidade financeira da instituição, como o seu responsável máximo o defende, com a aposta forte na diversificação das receitas: “Se assim não fosse não tínhamos crescido como temos feito, nem teríamos o desenvolvimento que sofremos. Isto é um desafio permanente e estou a trabalhar para que os meus continuadores possam ter a vida mais facilitada”.
Produção eléctrica para consumo próprio, produção de energia solar-térmica para aquecimento de águas e eficiência energética são três apostas ganhadoras por parte do CFAD, que tem proporcionado à instituição um crescimento e desenvolvimento que de outra forma talvez não tivesse.
Mas, como refere o padre Virgílio Ardérius, “a sustentabilidade é sempre relativa”, pelo que o rigor na gestão é fundamental.
“O Centro tem tido um desenvolvimento permanente, mas sustentável. Temos crédito nos bancos e temos bens ao Sol que nos permitem recorrer aos bancos para financiarmos o empreendimento”, sustenta, acrescentando: “O património aumentou e já está a contribuir para a instituição. Com o rendimento bem administrado e fruto das sinergias dentro da instituição podemos continuar desenvolver outras actividades, como alargar a frota de veículos e a fazer novas candidaturas, entre outras. Temos uma previsão de médio-longo prazo para a realização destas melhorias. O edifício é da instituição, mas as dificuldades são inerentes a todas as instituições que viram subir os preços da electricidade, do gás, da água, etc., pelo que tem que haver uma gestão muito rigorosa”.

PESSOA GLOBAL

O rigor na gestão do CFAD tem-lhe permitido um crescimento e desenvolvimento contínuo, com a criação sucessiva de respostas aos problemas sociais que vão surgindo na comunidade do concelho da Guarda.
Quando em Dezembro de 1988, por acção dos padres Virgílio Ardérius e José Cabral e da assistente social Maria da Graça Andrade Salvador, nasceu o CFAD, o propósito foi, desde logo, “o de ir ao encontro das pessoas da cidade e não só, vendo-as na sua globalidade, em especial as famílias”.
“O lema deste Centro foi, desde início, a formação integral do ser humano. A ideia de abarcarmos a família em todas as dimensões, para que faça uma progressão e para que, porventura, em situações de carência possam ter o apoio necessário a todos os níveis da própria família. E por isso é que surgiu o Centro com a primeira resposta social a ser o apoio às famílias no domicílio. Vendo a necessidade de pessoas que pela idade e pelas circunstâncias estavam sós, começámos pelo apoio ao domicílio, para um grupo de 30 idosos”, recorda o padre Virgílio Ardérius.
Após a criação do Serviço de Apoio Domiciliário, o CFAD, “pela necessidade de alguns idosos, ainda com capacidade de estarem em casa, mas com necessidade de conviver com outras pessoas”, foi instituído o Centro de Dia, desde sempre com 30 idosos.
Entretanto, a instituição criou o Lar Santa Clara, fechando um ciclo de apoio à terceira idade. Neste particular, o CFAD tem um projecto, ao qual faltam apenas as licenças camarárias, para ampliação do equipamento, criando, assim, mais 20 vagas.
“Esperamos apenas a licença de obra, para fazermos a candidatura, provavelmente ao PRODER, mas queria ver se arrancávamos com as obras ainda este ano”, revela o padre Virgílio Ardérius, explicando que a intenção é requalificar o terceiro piso do edifício do CFAD já vago, passando o lar a ocupar três andares (do terceiro ao quinto).
“Quase desde o início também olhámos para as crianças, para os casais que trabalhavam e precisavam de quem recebesse as crianças. E por essa razão surgiu o ATL, neste momento com 81 crianças”, explica o presidente da instituição, prosseguindo: “Para além do ATL, temos a Ludoteca «Branca de Neve» para 60 crianças instalada no Parque da Cidade, para lhes permitir um espaço em que se desse lugar à imaginação, à fantasia e à criatividade, porque é um bom contributo para o desenvolvimento escolar”.
Ainda na área da infância, o CFAD dá resposta a outras necessidades da comunidade, como as das famílias que tinham crianças a precisar de apoio a nível psicológico, psico-social e fisioterapia, entre outras, uma valência denominada como Terapias, que a instituição mantém, apesar de não ter nenhum apoio da Segurança Social.
Na matriz do CFAD está a pessoa em todas as suas dimensões, pelo que a Formação sempre foi algo muito acarinhado e incentivado.
“A Formação é uma área a que nos dedicamos bastante. Ao longo dos anos temos feito muita formação profissional, de harmonia com as candidaturas que iam surgindo e lançadas pelo Governo e também pela União Europeia. O Centro é uma entidade acreditada para a Formação. Estamos em fase de renovação para continuarmos esta dimensão e tarefa. A formação profissional está praticamente parada e, neste momento, temos apenas unidades modulares certificadas. Até ao dia 31 de Março, e desde há sete anos, desenvolvemos um Centro de Novas Oportunidades (CNO), tendo certificado cerca de 1500 adultos, o que para eles foi uma segunda oportunidade, não só para a auto-estima, mas também para enriquecimento pessoal em várias áreas, nomeadamente nas novas tecnologias”, sublinha o padre Virgílio Ardérius, referindo ainda que a instituição que lidera tem “sido a entidade gestora do PIEF” na Guarda.
Para além destas respostas, no CFAD, que tem um corpo de 49 funcionários e ainda oito com Contrato Emprego Inserção, funciona um Núcleo de Apoio à Vítima de Violência Doméstica. Paralelamente está ainda a implementar o projecto «Mais Igualdade – Menos Violência».
Singular a nível nacional é o facto de a instituição deter uma estação de rádio, a Rádio Sátão, no concelho do mesmo nome e que pertence ao distrito vizinho de Viseu.
Para Virgílio Ardérius, “é uma voz que tem um cariz de ordem social e pugna pela solidariedade”.
Com o fim dos CNO, no CFAD espera-se apenas a abertura de candidaturas para novos centros mais virados educação e qualificação profissional.
“Já estamos a dar os primeiros passos, novamente virados para um sector em que não há nenhuma instituição que tenha esta tradição e traquejo nesta área. É uma evolução um pouco diferente, mas muito semelhante em vários sectores. Terá sempre em conta a valorização das pessoas e da experiência de vida que elas vão ganhando. Já estamos a trabalhar no sentido de nos candidatarmos a este novo centro, virado para dois segmentos: os portadores de deficiência e as instituições sociais”, explica o padre Virgílio Ardérius.
Refira-se, em jeito de remate, que de 1989 até 2006, em parceria com a vizinha Fundação Frei Pedro, funcionou nas instalações do CFAD um estabelecimento de ensino superior, o ISACE – Instituto Superior de Administração, Comunicação e Empresa, de onde saíram mais de mil licenciados e alguns bacharéis.

Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)

 

Data de introdução: 2013-06-13



















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