CENTRO PAROQUIAL DE SEIA

Há 65 anos a apoiar crianças, idosos e famílias

Assinalou, no passado dia 9 de fevereiro, 65 anos de vida, mas as raízes da instituição são mais antigas. Se o Centro Paroquial de Seia, inicialmente Obra de Assistência Paroquial, nasceu em 1953 deve-o à fusão de duas instituições de caridade existentes na cidade. Tratava-se do Agasalho dos Pobres (1938) e do Patronato de Nossa Senhora de Fátima (1942). Desde então, a instituição tem crescido e variado as respostas sociais com que presta serviço à comunidade senense, preparando-se agora para uma profunda requalificação e ampliação das instalações.
“Em 1953 foi o começo oficial, mas a instituição já funcionava em termos práticos. Esta instituição é filha da paróquia e com o tempo foi ganhando dimensão, adquiriu autonomia, em função dos acordos de parceria com o Estado, especialmente ao longo dos anos 80”, revela o padre Joaquim Pinheiro, acrescentando: “Isto é caridade organizada e, a partir do momento que ganhou dimensão e organização, exigiu que fosse cada vez mais organizado e é que tem sido feito ao longo das décadas. Com 65 anos esta instituição está com mais pujança do que nunca”.
O Centro Paroquial de Seia, para além do apoio à comunidade que sempre deu e com especial enfoque no início de funcionamento, em 1960 abraçou a área da infância, criando um infantário, hoje Pré-escolar. 21 anos volvidos foi tempo de criar um espaço para acolher os idosos, nascendo assim a Estrutura Residencial para Idosos. Em 1986 é criado o ATL e em 2001 a creche.
“Temos um edifício que as pessoas ainda conhecem por Centro de Dia, e onde funciona atualmente o ATL, mas é uma valência que deixou de existir na instituição. Eu não estava na instituição na altura, mas, do que soube, a valência fechou porque havia pouca solicitação por parte das pessoas”, explica o pároco que é também presidente da instituição.
Acresce que o Centro detém ainda um conjunto de habitações que são ocupadas por inquilinos de baixos recursos e com diversas carências.
“Há uma espécie de protocolo com as famílias, no fundo, é um contrato especial de arrendamento. A ideia é que as pessoas fiquem nessa habitação enquanto têm uma situação precária. Se a situação melhorar devem comunicar à instituição no sentido de a habitação ficar vaga e ser utilizada por outra família que esteja em situação precária. No entanto, há uma tendência à acomodação, mas também não é muito habitual que as pessoas que ocupam as habitações melhorem significativamente a sua condição de vida e, por isso, a situação tende a perpetuar-se mais do que aquilo que era desejável”, constata o padre Joaquim Pinheiro.
Atualmente, a instituição tem um corpo de 60 funcionários, a que se juntam sete prestadores de serviço, que mantêm em funcionamento as respostas sociais.
Assim, em creche apoia 70 crianças, o Pré-escolar cerca de 40 petizes, o ATL 80 adolescentes e a ERPI acolhe 60 idosos.
Só o ATL e a ERPI esgotam a capacidade das valências, enquanto no caso da creche a capacidade é para mais de 80.
“No Pré-escolar ainda dispomos de cerca de 15 vagas por ocupar. Esta é uma valência cuja frequência é de facto um pouco baixa, ao contrário do ATL que, devido às instalações onde está, está próximo de uma sobrelotação. Em certos momentos precisávamos de mais espaço. E estamos a procurar encontrar novas instalações, mais espaçosas e que deem outras condições”, revela o presidente da instituição, justificando a quebra de procura no Pré-escolar: “É difícil melhorar a frequência porque o público abriu essa valência em condições similares às nossas e as pessoas optam pelo público porque não têm que pagar mensalidade. Não temos mensalidades muito elevadas, mas estamos numa zona em que o rendimento das pessoas é baixo”.
Obviamente, a situação tem impacto na sustentabilidade do Centro Paroquial, se bem que não de uma forma incapacitante.
“Estas casas para serem rentáveis precisam de estar na capacidade máxima ou com números muito aproximados aos acordos de parceria com a Segurança Social. Quando a frequência está muito próxima desse protocolado as valências são sustentáveis, agora quando se tem números muito aquém disso as dificuldades são grandes”, começa por dizer, desdramatizando: “A instituição está com bom desempenho financeiro, não tem défices e tem dado resultados positivos, uns mais outros menos ao longo dos anos”.
A estabilidade que o principal responsável pela instituição afirma existir é o que vai permitir avançar com um projeto vasto, mas, segundo o mesmo, necessário para melhorar as condições e otimizar as respostas sociais.
“É a requalificação completa das instalações e ainda alguma ampliação. Por exemplo, a nível da ERPI contempla que o edifício, conhecido de todos como a Casa de S. José, seja adaptado para acolher o lar. Ainda que seja a requalificação de um edifício existente, no fundo é como se fosse um lar novo, mantendo a mesma capacidade”, explica, prosseguindo: “O Pré-escolar vai manter-se no mesmo espaço, enquanto o ATL, atualmente a funcionar num edifício noutro ponto da cidade, virá para aqui. Assim, todas as valências de infância ficarão concentradas neste edifício que será também alvo de alguma intervenção. Já a creche sairá da Casa de S. José e virá também para este edifício. Os espaços que sobram serão para um Alojamento Local e iremos ainda construir um novo edifício para os campos de férias”.
A aposta no Alojamento Local tem já uma longa tradição na instituição e “não visa apenas a sustentabilidade do Centro Paroquial”, pretende também “continuar a dar resposta a uma procura que temos”.
Como explica o padre Joaquim Pinheiro, esta é uma prática já existente na instituição, mas “de uma forma mais familiar e informal”, ou seja: “A Casa de S. José tem recebido grupos de pessoas e pretendemos, de alguma forma, dar um quadro legal a essa resposta que já damos. Já recebemos grupos e alguns campos de férias, mas a partir do momento em que o lar for para aquele edifício já não os poderemos receber ali, portanto vamos criar um novo espaço para continuarmos a dar essa resposta”.
No fundo, “o que existe continuará a existir, ainda que em espaços diferentes e com mais qualidade do que agora”, sustenta, revelando que “o estudo prévio está concluído”, indo agora a instituição procurar quais os programas a que se poderá candidatar.
“No Portugal 2020 há candidaturas que já deviam ter aberto e não estão abertas, pelo que nesse capítulo ainda está tudo um pouco confuso”, lamenta, acrescentando: “Era desejável que a obra arrancasse ainda este ano, embora isto seja uma intervenção faseada. Iremos começar certamente pela requalificação da Casa de S. José, mas sem pôr em causa a qualidade do serviço, pois será necessário transferir utentes e valências”.
Para além deste grande e profundo projeto de futuro, a instituição mantém outros mais pequenos.
“Normalmente fazemos várias candidaturas. Recentemente pudemos fazer a reconstrução e equipar uma sala de fisioterapia fruto do Prémio BPI Seniores. Temos sempre alguns projetos em marcha e vamos sempre fazendo candidaturas. Temos muitas ideias, mas não é fácil concretizá-las, porque é muita gente a concorrer e as verbas não chegam para todos os candidatos”, lamenta Vera Veríssimo, diretora-técnica do Centro Paroquial de Seia.
Reclamada por muitos, especialmente por aqueles com responsabilidades em instituições do interior do País, a discriminação positiva nos apoios não colhe grande simpatia por parte do padre Joaquim Pinheiro.
“Essa pode ser uma forma de evitar a sangria demográfica do interior, mas as medidas de discriminação positiva não são as que mais me agradam, porque, quer se queira quer não, cria uma ideia de desigualdade. Ainda que essa discriminação positiva esteja justificada cria uma ideia de desigualdade, tipo aqueles são privilegiados porque estão no interior”, explica, avançando outros caminhos para combater a interioridade: “Precisávamos que fossem dadas ao interior condições de desenvolvimento iguais às que são dadas ao litoral, mas isso exige uma coragem política muito grande que os governos habitualmente não têm, porque eles governam sempre a pensar em eleições. Não há coragem política para tomar decisões que são impopulares, que não dão votos e geram alguma controvérsia, pois é preciso fazer ruturas com o estado das coisas”.
Para o padre Joaquim Pinheiro “isso não tem existido” e dá um exemplo: “Esta zona foi gravemente flagelada pelos incêndios e criou-se aqui muita pobreza. Costuma falar-se em criar riqueza, mas os fogos neste e nos concelhos aqui à volta criaram muita pobreza. No momento parece que há muita solidariedade, mas a seguir não há medidas que possam contrabalançar a pobreza criada. Há pobreza criada e passado meio ano não se vê, da parte das entidades, uma vontade de criar riqueza que sirva de contrapeso. Esta é uma das zonas do País que está pessimamente servida por infraestruturas rodoviárias e quando acontece a calamidade que aqui aconteceu continua-se a não se perceber que haja vontade em melhorar as infraestruturas e os acessos que são dos piores do País. Hoje em dia não há desenvolvimento onde não há bons acessos. Por isso, a discriminação positiva não faz muito o meu agrado, deem a estas zonas condições para o desenvolvimento e as pessoas começarão a fixar-se, senão a hemorragia demográfica continuará”.
A propósito dos incêndios de outubro de 2017, em que a região de Seia foi fortemente afetada, a instituição foi um dos braços da autarquia no apoio às populações e a outras instituições.
“Habitualmente, o Centro Paroquial associa-se às causas que mobilizam o concelho. Agora com os incêndios houve um abalo do sentimento de segurança que todas as pessoas têm. Temos aqui algumas funcionárias que as suas casas estavam em perigo, enquanto estavam aqui a trabalhar, houve idosos do lar que perderam tudo e tivemos a necessidade de gerir muito bem essa informação, pois são pessoas idosas que reagem mal a estas situações. E prestámos ainda apoio à comunidade, porque houve algumas famílias que ficaram temporariamente sem alojamento. Foi um apoio que demos à Câmara Municipal e ainda acolhemos algumas pessoas na Casa de S. José”, lembra Vera Veríssimo, acrescentando: “A Câmara não consegue garantir serviços e o que faz é articular as respostas que existem, essencialmente das IPSS. Chegámos a receber idosos do lar de Sazes da Beira, porque era impensável eles poderem ficar em colchões nos pavilhões que a autarquia disponibilizou para acolher quem esteve mais em perigo. A Câmara funciona na base da parceria e aqui em Seia as IPSS foram parceiros fundamentais nessa tragédia”.
Hoje, segundo o padre Joaquim Pinheiro, “a fase do choque já passou, até porque houve famílias que ficaram sem nada” e as “pessoas tentam reagir”.
“Há famílias que estão a ser ajudadas, outras há que essa ajuda talvez não tenha chegado. As pessoas passaram do choque à nova realidade que têm. Agora até refazerem as suas vidas vai demorar algum tempo”, acrescenta, frisando que, “para além dos apoios de natureza institucional, tem havido muito apoio por parte das instituições da Igreja e outras”.
E como seria Seia sem o Centro Paroquial? “Faltaria mais emprego porque somos uma das maiores entidades empregadoras do concelho. Toda a gente conhece a instituição, pois são 65 anos oficiais, mas a história é bem mais antiga. A nível de apoio à família, que é também a nossa missão, é fundamental, porque nem todas as instituições têm uma capacidade como a nossa”, sustenta Vera Veríssimo, ao que o padre Joaquim Pinheiro acrescenta: “Bem, na verdade não temos termo de comparação, mas com certeza o Centro Paroquial foi uma mais-valia para a cidade e continua a ser. Dentro daquilo que se chama economia social esta é uma instituição de referência”.

 

Data de introdução: 2018-05-02



















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