UNITATE, VILA VIÇOSA

Solidariedade institucional salva duas IPSS do desaparecimento

É a chamada solidariedade institucional. Perante a iminência de fecho de duas instituições do concelho de Évora, por falência financeira, a Unitate, de Vila Viçosa, disponibilizou-se para as absorver, recuperar e gerir, o que já fez, conferindo-lhes sustentabilidade e alargando a sua ação. “O segredo está na gestão”, afirma Tiago Abalroado.

Sedeada em Vila Viçosa, a Unitate – Associação de Desenvolvimento da Economia Social é uma IPSS de âmbito nacional, fundada em Outubro de 2013 e cujo principal objetivo passa pela promoção do desenvolvimento da Economia Social, mediante a prossecução de atividades e ações com vista à capacitação das instituições sociais.
“A Unitate é uma IPSS que rompe um bocadinho com a lógica comum do que é uma IPSS, ou seja, é uma IPSS atípica, principalmente porque a sua intervenção principal não é a ação social”, explicava, ao SOLIDARIEDADE, em 2015 Tiago Abalroado, presidente e criador da instituição, ao mesmo tempo que revelava que a instituição já tinha uma pequena atividade social, mais concretamente uma resposta de transporte social.
Porém, em 2016 este paradigma foi alterado, com a Unitate a absorver duas instituições do concelho de Évora e respetivas respostas sociais, perante a iminência do seu fecho.
Tudo aconteceu em momento distintos e com cerca de um ano de diferença.
“Começou tudo com a Associação de Idosos e Reformados de S. Vicente do Pigeiro, na Vendinha, e com um pedido de ajuda da anterior Direção à Unitate, porque a instituição, face às dívidas e a uma baixa brutal de utentes, estava na iminência de fechar portas”, conta Tiago Abalroado, que na primeira visita à instituição encontrou uma casa “com instalações, de certa forma, degradadas” e uma instituição “desorganizada”.
Défices sucessivos, um empréstimo bancário e uma dívida da ordem dos 60 mil euros à Segurança Social, que estava em plano prestacional, colocava a instituição à beira do abismo e a necessitar de ajuda.
Aquando do primeiro contacto com a Unitate, dezembro de 2015, a instituição da Vendinha tinha três utentes em SAD e seis em Centro de Dia.
“Após debatermos a situação no seio da Unitate, fizemos a proposta de integrar aquela estrutura e desenhar um plano de recuperação. A Assembleia Geral que deliberou a fusão aconteceu em fevereiro de 2016 e em março assumimos a gestão da instituição”, recorda, acrescentando: “Prosseguimos com o pagamento dos planos prestacionais que a instituição tinha, fizemos uma alteração completa do espaço, à reorganização de todo o funcionamento e encetámos a captação de novos utentes. Havia já uma certa descredibilização da instituição, mas conseguimos criar a resposta de Centro de Convívio com o objetivo de chamar a população até à instituição”.
Ao cabo de dois anos, a instituição da Vendinha conta agora com 12 utentes em SAD e sete em Centro de Dia, numa estrutura com capacidade para muito mais: 20 em SAD (contando com 10 Acordos de Cooperação) e 30 em Centro de Dia (16).
“Devagar começámos a dar alento à casa, transformámo-la substancialmente e a instituição começou a entrar no caminho da sustentabilidade.
Sob gestão da Unitate, a instituição teve um “crescimento na ordem dos 35 a 40 por cento”, com a resposta Centro de Convívio a ser “reforçada”, o que faz com que a população tenha uma maior proximidade e, no futuro, “contratualizem serviços de apoio domiciliário e centro de dia”.
Com a conclusão do processo de fusão, a Associação de Idosos e Reformados de S. Vicente do Pigeiro desaparece, ficando as respostas sociais na Unitate.
Por outro lado, a Unitate replicou na Vendinha o serviço das carrinhas sociais – ou seja, transporte de pessoas –, até porque “é uma localidade que não tem transportes públicos e, por exemplo, o supermercado mais próximo fica a 10 quilómetros, pelo que este recurso é muito importante para as pessoas”.
Desde que absorveu a instituição da Vendinha, a Unitate já criou dois postos de trabalho, um deles uma diretora-técnica “o que acabou por dar algum dinamismo à instituição”.
Paralelamente, houve o processo de regularização do imóvel, que não era de ninguém, pois era uma antiga Casa do Povo, tendo a Unitate acionado a figura do uso capião, tendo aquele sido transferido para a instituição de Vila Viçosa.
“Agora, temos mantido as respostas e estamos a aguardar a conclusão total do processo de fusão, pois nessa altura todos os acordos de cooperação em nome da Associação passarão para a Unitate”, refere Tiago Abalroado.
Quase um ano depois, em janeiro de 2017, outra instituição em grandes dificuldades pediu ajuda à Unitate. Trata-se da ARPIE – Associação de Reformados, Pensionistas e Idosos de Évora, uma instituição com a resposta de Centro de Convívio, sedeada na cidade do Templo de Diana.
“A fusão com a ARPIE deveu-se igualmente a uma situação de desespero. A instituição estava em dificuldades, mas havia a esperança de o novo presidente, porque tinha havido eleições recentemente, desse novo rumo à instituição. Porém, passado um mês de tomar posse o senhor faleceu, ficando a instituição à deriva”, conta, recordando que havia um conjunto de pessoas que não queriam deixar cair a instituição.
“Nós na Unitate já tínhamos a experiência da Vendinha e acabámos por propor à Assembleia Geral da ARPIE a mesma solução”, afirma, revelando: “Na Vendinha a fusão foi aprovada por unanimidade enquanto na ARPIE houve oito votos contra, mas como havia maioria qualificada foi aprovada. Curioso é que os que votaram contra foram os que depois mais ajudaram no processo, porque perceberam que a fusão era benéfica para a Associação”.
A ARPIE tem apenas um Centro de Convívio, com capacidade e Acordo de Cooperação para 40 utentes e está completa.
No processo de fusão a proposta era ficar apenas com uma das duas funcionárias que a ARPIE tinha, dando-lhe sustentabilidade, até porque “não é uma resposta que dê para ganhar dinheiro, mas o Acordo de Cooperação dá perfeitamente para as despesas”.
Um grupo coral, uma turma de informática e convívio em torno de jogos de tabuleiro são as principais atividades dos 40 utentes da ARPIE, que têm também muito a prática e o gosto de viajar, pelo que efetuam diversas excursões.
“Agora estamos a tentar fazer um intercâmbio com as instituições da cidade, porque o grupo coral quer sair mais e pelo que estamos a tentar criar um circuito pelas instituições de Évora”, refere Tiago Abalroado, que tem ainda outro projeto na manga: “Estamos a perspetivar uma forma de intercâmbio com a Cáritas Arquidiocesana para que os utentes que estão isolados possam beneficiar do espaço da ARPIE, porque queremos abrir a instituição à cidade e chegar a mais gente”.
Com o cenário do iminente fecho afastado, Tiago Abalroado sustenta que “o segredo é a gestão, ou seja, usar os recursos existentes e potenciá-los da melhor forma”.
“Nos dois casos, a situação em que as instituições estavam não surgiu por acaso, houve erros de gestão graves, pelo que a simples reorganização das instituições foi meio caminho andado. Sabemos que a forma como as respostas sociais estão desenhadas, apesar de se poder dizer que o Estado paga mal, os valores que são pagos são aqueles por alguma razão. E nas respostas que têm comparticipação dos utentes, como o SAD e o Centro de Dia, não há razão para que as respostas devidamente organizadas não funcionem”, assevera, levantando o véu sobre as medidas que a nova gestão adotou: “O que procuramos fazer é uma boa gestão, por exemplo, na escolha dos fornecedores, na racionalização dos recursos, nas ementas produzidas e que todos os consumos, nunca faltando nada, sejam dignos e modestos. É desta forma que tentamos fazer face à dívida e dar sustentabilidade à instituição”.
Apesar dos riscos, pois é a Unitate que está a assumir todas as responsabilidades (leia-se, dívidas), o presidente defende que esta “é uma característica da Unitate desde que nasceu, pois é uma instituição que serve essencialmente para prestar apoio a outras instituições”, explicando: “Já por si a Unitate foi um projeto inovador e no cumprimento desta missão prosseguimos o nosso caminho. Obviamente, não estava no nosso horizonte gerir respostas sociais, poderíamos ajudar a gerir, mas de outra forma. Porém, surgiram estes casos mais agudos, em que houve necessidade de uma maior intervenção e vimos que a única forma de os ajudar era esta, sob pena de as instituições fecharem e os idosos ficarem sem resposta. Esta foi a solução, respeitando sempre a vontade das populações e mantendo, tanto quanto possível, a identidade dos espaços, porque é importante que as pessoas se sintam ligadas à instituição e não olhem para nós como uns paraquedistas que chegaram para tomar conta da instituição. Temos tentado manter sempre, e isso é ponto de honra, a relação com a comunidade, com os utentes e com as famílias dos sítios a que as instituições estão, dando continuidade àquilo que estava bem feito e, por outro lado, acrescentando algo inovador para conquistar as pessoas e melhorar o serviço”.
E é nesta perspetiva que já está na forja um projeto para a Vendinha, quando há ano e meio estava para fechar portas.
“Neste momento a Vendinha está a funcionar com condições, com um projeto bem definido, o espaço recuperado e na área onde atualmente ainda funciona o Posto Médico, mas que vai sair para outras instalações no final deste mês, projetamos uma ampliação para criar 10 quartos para os idosos, uma espécie de mini lar”, revela Tiago Abalroado, que acrescenta: “Fizemos uma candidatura ao PROCOOP para que o lar possa ser comparticipado, mas se isso não for possível terão que ser as famílias a comparticipar na totalidade, pelo menos, numa primeira fase. Agora, também sabemos que essa não é a via que queremos seguir pois assim só a população com mais possibilidades poderia aceder”.
A verdade é que cerca de 20 pessoas já manifestaram interesse no novo lar, até porque não há nenhuma do género na zona, o que leva as pessoas, quando necessitam, a sair e a desertificar ainda mais a localidade.
“A Unitate está sempre aberta a novos desafios. Havendo alguma necessidade estaremos prontos a estudar a situação e a intervir, até porque somos uma instituição de âmbito nacional, pelo que não nos cingimos às instituições do distrito de Évora”, afirma Tiago Abalroado.

 

Data de introdução: 2018-01-05



















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