ARPIAC, SINTRA

Idosos e crianças de Agualva-Cacém têm na instituição um porto seguro

A ARPIAC - Associação de Reformados, Pensionistas e Idosos de Agualva-Cacém, concelho de Sintra, nasceu em 1982 por iniciativa de um grupo de pessoas que já nessa altura sentia a necessidade de apoiar a população idosa da freguesia. Face ao crescimento das necessidades, em 2003 inaugura um edifício construído de raiz que permitiu a abertura de um Lar residencial para idosos e, em 2010, a abertura de uma creche, passando a instituição a desenvolver um trabalho de vertente intergeracional. Com a capacidade lotada, a instituição vive as dificuldades normais de uma IPSS, sendo que apoia uma comunidade a caminho das 100 mil pessoas.
“A ARPIAC nasce no pós-25 de abril, inicialmente com uma comissão instaladora para uma associação de reformados, mas só veio a concretizar-se em janeiro de 1982”, conta Herculano Silva, presidente da Associação de Reformados, Pensionistas e Idosos de Agualva-Cacém, relembrando: “E funcionou inicialmente no Complexo do Zambujal, numas instalações atualmente ocupadas pela Academia Cultural Sénior. Foi ali que a instituição prestou serviço até que construímos o presente edifício-sede, tendo a mudança acontecido em abril de 2003”.
Em 1982, a instituição iniciou atividade apenas com um Centro de Convívio e um Centro de Dia, tendo, mais tarde, arrancado a resposta de Serviço de Apoio Domiciliário (SAD).
“Um serviço ainda sem dar um apoio grande, pois havia muitas limitações de meios físicos e humanos, e foi só com a abertura das novas instalações que esse serviço ganhou mais dimensão no apoio à população idosa”, revela Herculano Silva, há 20 anos ligado aos destinos da ARPIAC.
De igual modo, foi apenas com a entrada em funcionamento do edifício construído de raiz no Bairro da Eureca que nasceu a resposta de ERPI.
Por outro lado, o Centro de Convívio, que esteve na génese da instituição, deixou de o ser, passando a Academia Cultural Sénior, “onde as pessoas aproveitam para conviver e para se valorizarem, enquanto ocupam o seu tempo no pós-serviço ativo no mercado de trabalho”, explica o presidente da instituição.
A Academia Cultural Sénior da ARPIAC foi inaugurada em Outubro de 2003, entrando em funcionamento nesse mesmo ano e iniciando o ano letivo com 90 alunos, que frequentaram cursos diversos, entre os quais o de alfabetização.
Constituindo-se, desde então, como “um polo de agregação e dinamização da cidade do Cacém e um meio de combater sentimentos de isolamento, baixa autoestima e desvalorização que tanto afetam a população mais velha”, refere.
A verdade é que o número de alunos não tem parado de crescer, sendo que, atualmente, frequentam a Academia Cultural Sénior da ARPIAC mais de 250 alunos.
Entretanto, e nos tempos que correm, a ARPIAC acolhe em Lar de Idosos 61 utentes e em Centro de Dia 35, apoiando ainda, através do SAD, 65 seniores.
“O foco foi, desde início, as pessoas idosas e também algumas que desligadas do ciclo laboral ativo e que por deficiência ou outra patologia necessitavam de apoio”, explica o presidente, que adianta a razão que levou a instituição a abraçar o desafio de construir uma creche e que hoje acolhe 83 crianças e bebés.
“A extensão da nossa atividade à infância dá-se em 2010 com a construção do edifício anexo ao principal, que é creche e berçário. Aqui recebemos crianças a partir dos três meses até aos três anos de idade, porque achámos, na altura, que era interessante ter os dois extremos geracionais em contacto. Por exemplo, a nossa tuna académica ainda recentemente aqui atuou na presença das crianças e dos idosos, o que é sempre salutar”, explica Herculano Silva.
E se em muitas localidades de Portugal a baixa taxa de natalidade gera grandes preocupações e levanta alguns problemas às IPSS com respostas para a infância, Agualva-Cacém parece, para já, estar imune a tal problema.
“Aqui não há falta de crianças, há é alguma falta de instalações para as acolher, até porque uma das grandes instituições para crianças da freguesia, que estava ligada ao Centro Paroquial de Agualva, fechou portas no último dia do ano passado por dificuldades económicas”, sustenta o presidente da ARPIAC, sublinhando que “era uma estrutura que comportava cento e muitas crianças e estas acabaram por ter que ser distribuídas pelas outras instituições existentes”.
E nem mesmo durante o período agudo da crise a ARPIAC sentiu diminuição da frequência de crianças, tal como aconteceu noutros locais, em virtude de os pais terem caído no desemprego e ficarem com os filhos em casa.
“Não notámos muita flutuação na frequência das crianças no período da crise, porque muitos desempregados, através dos seus centros de emprego, acabavam por frequentar cursos proporcionados pela Segurança Social, pelo que continuavam a necessitar de um local para as crianças”, afirma.
No entanto, “já nas mensalidades notou-se alguma variação”, revela, acrescentando: “Por vezes a criança é admitida mas a determinada altura do seu percurso um dos pais fica desempregado e é necessário reavaliar a mensalidade, o que a Direção faz”.
De resto, a situação socioeconómica da população que recorre à instituição é “bastante diversa”.
“Temos aqui famílias com um nível bom de vida, mas também temos outras com bastantes dificuldades, tanto na infância, como nos idosos. Há quem tenha reformas razoáveis e boas e outros, em especial os que nos são enviados pela Segurança Social, cuja situação é muito frágil. Aliás, 15 das nossas vagas de ERPI estão consignadas à Segurança Social e essas têm sempre mensalidades muito baixas”, argumenta Herculano Silva, destacando: “Depois é necessário reequilibrar através de outro tipo de apoios para mantermos uma gestão razoável da instituição”.
E se a taxa de cobertura dos Acordos de Cooperação é quase total na maioria das respostas, em creche apenas 66 vagas de um total de 83 estão protocoladas com o Estado.
“No entanto, o diferencial é apoiado pela Câmara Municipal de Sintra. Através do pelouro de Ação Social, a autarquia tem desenvolvido um trabalho muito meritório, que veio suprir muitas das dificuldades que as instituições do concelho estavam a sentir. Normalmente não havia um protocolo que cobrisse a totalidade da capacidade das instituições e, então, estabeleceu-se este segundo protocolo, chamemos-lhe assim, entre a Câmara Municipal e as instituições, com belíssimos resultados para as instituições e para o próprio concelho que assim dá um maior apoio às pessoas necessitadas”, congratula-se o presidente da ARPIAC, frisando que “a Câmara Municipal é um parceiro muito importante e espera-se que no futuro assim continue”.
Já a relação com a comunidade é “normal”, sustenta Herculano Silva, explicando: “É uma relação normal para um local que é um dormitório, como muitas das cidades da periferia de Lisboa. As pessoas têm pouco tempo para se dedicar ou para se voluntariar para qualquer coisa nestas instituições. No fundo, é algo perfeitamente normal. Agora, moralmente a população apoia-nos e compreende as nossas dificuldades, mas pouco mais do que isso. Quando foi para a construção deste edifício fizemos peditórios e a população correspondeu, mas hoje nem o mecenato existe. Por exemplo, nós solicitamos a consignação dos 0,5% do IRS, mas o que dá é muito pouco, é sempre muito residual. Penso que não acontece só connosco, mas as pessoas não estão sensibilizadas para esta doação”.
Apesar das dificuldades inerentes a uma instituição da dimensão da ARPIAC, que conta com um corpo de 108 trabalhadores, a situação financeira “é razoável”.
“Não podemos dizer que esteja muito boa, porque, por exemplo, estamos a precisar de pintar o edifício e não temos verba para tal”, lamenta, acrescentando: “Temos tentado chegar ao final do ano com equilíbrio favorável, porque temos que estar constantemente a investir. Tanto na área das crianças como na dos idosos, há uma deterioração bastante acelerada dos edifícios e é preciso estar sempre a suprir tudo aquilo que aparece estragado”.
Para Herculano Silva, o segredo passa por “uma gestão razoável, preocupada com o equilíbrio de contas, tentando fazer constantes consultas ao mercado para poder optar por preços mais baratos, mantendo a qualidade”.
E é precisamente por a situação financeira ser «apenas» razoável e não muito boa que alguns projetos urgentes ainda estão à espera de ver a luz do dia.
“Neste momento precisávamos de reparar algumas pequenas fissuras que vão surgindo na estrutura externa do edifício e de pintar todo o edifício, mas este é um projeto que terá que ficar adiado, de certeza que ficará adiado para o próximo ano, porque ainda temos que arranjar maneira de suportar essas intervenções. A capacidade financeira de momento é diminuta para fazer as obras”, sustenta, argumentando: “A pintura e reparação nunca será menos de 60 a 70 mil euros e esta é uma verba muito avultada para uma instituição como a nossa”.
Outro projeto antigo, mas definitivamente abandonado foi o da criação da resposta de Pré-escolar, uma vez que as crianças atingindo os três anos são obrigadas a abandonar a instituição.
“Como referi houve o caso da resposta do Centro Paroquial que fechou portas por dificuldades económicas, por isso achámos que seria pouco prudente enveredarmos por esse alargamento, que, depois, ainda dependeria de dois Ministérios, o da Segurança Social e o da Educação”.
De momento, “a maior preocupação é gerir bem a casa, ter os utentes, que são a razão de ser destas instituições, contentes, satisfeitos e servidos com boa qualidade”, refere Herculano Silva, que deixa um lamento: “Pesa-nos, por vezes, o facto de querermos aumentar o pessoal um pouco acima das tabelas mas não podermos. Essa é a nossa maior preocupação, porque queríamos remunerar o pessoal de maneira mais digna, porque os serviços que desempenham são muito violentos, física e psicologicamente”.
E como seria Agualva-Cacém sem a ARPIAC? “Seria difícil, até porque a ARPIAC foi a primeira instituição desta populosa cidade que vai a caminho dos 100 mil habitantes. Foi a primeira instituição a prestar serviços à população idosa. Felizmente outras foram surgindo e abrindo portas, mas nunca somos de mais para as necessidades. É que perante o envelhecimento da população, fruto da melhoria das condições de vida a vários níveis, estas instituições são fundamentais para que os idosos tenham um fim de vida mais digno. E em relação às crianças está a tentar-se transmitir à população que incremente o índice de natalidade, mas também temos que ter estruturas para apoiar as famílias”, defende Herculano Silva.

 

Data de introdução: 2017-11-03



















editorial

NOVO CICLO E SECTOR SOCIAL SOLIDÁRIO

Pode não ser perfeito, mas nunca se encontrou nem certamente se encontrará melhor sistema do que aquele que dá a todas as cidadãs e a todos os cidadãos a oportunidade de se pronunciarem sobre o que querem para o seu próprio país e...

Não há inqueritos válidos.

opinião

PAULO PEDROSO, SOCIÓLOGO, EX-MINISTRO DO TRABALHO E SOLIDARIEDADE

Em que estamos a falhar?
Evito fazer análise política nesta coluna, que entendo ser um espaço desenhado para a discussão de políticas públicas. Mas não há como contornar o...

opinião

EUGÉNIO FONSECA

Criação de trabalho digno: um grande desafio à próxima legislatura
Enquanto escrevo este texto, está a decorrer o ato eleitoral. Como é óbvio, não sei qual o partido vencedor, nem quem assumirá o governo da nação e os...