FAO

Regra de que quem não trabalha não come tem de acabar

O director-geral da agência da ONU para a Alimentação e a Agricultura (FAO) defendeu que a regra de que quem não trabalha não come data da antiguidade clássica e "não pode persistir no século XXI". José Graziano da Silva, que falava aos jornalistas em Lisboa, à margem da cerimónia do seu doutoramento honoris causa pela Universidade Técnica de Lisboa (UTL), disse que é "perfeitamente possível" erradicar a fome do mundo e lembrou que com o que se produz actualmente já seria possível alimentar todos os cidadãos. Recordou o mais recente relatório da FAO, divulgado em maio, segundo o qual o desperdício alimentar entre a produção e o consumo representa 1,3 mil milhões de toneladas de alimentos por ano no mundo, o equivalente a um terço da produção alimentar para consumo humano. "O desperdício na mesa dos países de altas rendas -- Europa, EUA e Canadá - daria para alimentar quase 500 milhões de pessoas a mais", disse o responsável brasileiro, lembrando que o número de pessoas com fome no mundo está estimado em 900 milhões.

Para Graziano da Silva, "se se conseguir evitar o desperdício e mais as perdas que existem, a produção de hoje seria suficiente para alimentar todos" os cidadãos do mundo.

Defendeu ainda a melhoria do acesso aos alimentos, lamentando que a crise e o desemprego levem a um aumento da fome: "Essa regra de que quem não trabalha não come, que é uma regra da antiguidade romana, não pode persistir no século XXI".

O responsável, que foi ministro de Segurança Alimentar e Combate à Fome no primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva, defendeu que o que falta para erradicar a fome do mundo são políticas mais ativas.

Reconheceu que a "vontade política" foi o que fez a diferença no sucesso do "Programa Fome Zero", cuja elaboração coordenou em 2001 e que em cinco anos contribuiu para retirar 24 milhões de brasileiros da pobreza e para a redução em 25 por cento da subnutrição no Brasil. "A diferença foi a vontade política de fazer. É possível erradicar a fome e é preciso tê-la na agenda como prioridade política. O que o Brasil mostrou não foi só que é possível fazê-lo, isso já sabíamos, mas que é possível fazê-lo muito rapidamente e a um preço muito barato", disse.

Nas declarações aos jornalistas, Graziano da Silva lamentou ainda que a crise internacional esteja a contribuir para reduzir a ajuda ao desenvolvimento. "Neste momento de crise é muito ruim perceber a redução da solidariedade internacional, nesse momento é que precisamos mais da solidariedade", disse, referindo-se em particular aos países da União Europeia - "o maior contribuinte da FAO". "Espero que a UE consiga superar este momento de dificuldade sem ter de cortar a ajuda humanitária, sobretudo a ajuda ao desenvolvimento", apelou.

Graziano da Silva falava depois de agradecer, num discurso emocionado, a atribuição do doutoramento "honoris causa" pela Universidade Técnica de Lisboa.

No discurso, o diretor-geral da FAO considerou que a distinção "fortalece uma causa", a da luta contra a fome, e apelou ao contributo do mundo académico para esse combate.

 

Data de introdução: 2012-07-31



















editorial

O COMPROMISSO DE COOPERAÇÃO: SAÚDE

De acordo com o previsto no Compromisso de Cooperação para o Setor Social e Solidário, o Ministério da Saúde “garante que os profissionais de saúde dos agrupamentos de centros de saúde asseguram a...

Não há inqueritos válidos.

opinião

EUGÉNIO FONSECA

Imigração e desenvolvimento
As migrações não são um fenómeno novo na história global, assim como na do nosso país, desde os seus primórdios. Nem sequer se trata de uma realidade...

opinião

PAULO PEDROSO, SOCIÓLOGO, EX-MINISTRO DO TRABALHO E SOLIDARIEDADE

Portugal está sem Estratégia para a Integração da Comunidade Cigana
No mês de junho Portugal foi visitado por uma delegação da Comissão Europeia contra o Racismo e a Intolerância do Conselho da Europa, que se debruçou, sobre a...