CRIANÇA

As crianças cada vez brincam menos na rua

Brincar na rua está em vias de extinção em muitas cidades do mundo e as crianças têm agora um tempo de brincadeira organizado e planeado que lhes diminui a autonomia, segundo um trabalho de Carlos Neto, docente da Faculdade de Motricidade Humana de Lisboa, sobre o jogo e o tempo livre nas rotinas de vida quotidiana de crianças e jovens.

Segundo o docente universitário e presidente do conselho científico da faculdade, os hábitos quotidianos transformaram-se radicalmente, os ritmos e as rotinas das crianças também. Hoje, o tempo espontâneo, da aventura, do risco e do confronto com o espaço físico natural, deu lugar ao tempo organizado, planeado, uniformizado. De acordo com Carlos Neto, esta mudança teve como consequência a diminuição do nível de autonomia das crianças, com implicações graves na esfera do desenvolvimento motor e emocional.

"Sem a imunidade que lhe é conferida pelo jogo espontâneo, pelo encontro com outras crianças num espaço livre, onde se brinca com a terra, se inventam jogos, se vivem aventuras, a criança revela menos capacidade de defesa e adaptabilidade a novas circunstâncias", refere Carlos Neto no documento. A cultura de rua, adianta, é fundamental no processo de desenvolvimento da criança, nomeadamente em experiências de jogo informal decisivas nas aquisições motoras e sociais. "A rua não é só um espaço onde circulam carros e gente apressada, mas também de encontro, descoberta e desordem. Tudo isto é importante para crescer", defende.

Contudo, refere, a rua é um espaço potencial de jogo que está em desaparecimento progressivo da cultura lúdica infantil. Segundo Carlos Neto, algumas investigações demonstram também o efeito da alta habitação (prédios) no padrão de jogo de crianças de pouca idade e os resultados são considerados alarmantes.

As crianças que vivem em prédios altos descem sozinhas para jogar/brincar na rua numa idade mais tardia do que aquelas que vivem em casas baixas. Por outro lado, as crianças que vivem em prédios também não saem para a rua com tanta frequência e têm dificuldade de contacto com os amigos.

As crianças portuguesas entre os 06 e os 12 anos vivem o seu quotidiano com uma agenda preenchida com actividades orientadas ou institucionalizadas para além do tempo escolar, principalmente centrada em actividades desportivas e artísticas. Esta tendência é observada nos grandes centros urbanos e em agregados familiares de classe média e alta. No seu trabalho, Carlos Neto defende que devem ser redimensionados novos modelos de construção das áreas residenciais, procurando definir condições para as crianças jogarem em liberdade e segurança e aproveitadas as potencialidades das escolas e edifícios públicos para o desenvolvimento lúdico da comunidade.

Por outro lado, o professor universitário considera ainda que o futuro do planeamento urbano deve considerar as culturas específicas de infâncias e de jovens quanto ao acesso aos espaços de jogo perto das áreas residenciais.

26.06.2006

 

Data de introdução: 2006-06-27



















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