PAULO ARSÉNIO, PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE BEJA

O Município tem uma relação saudável e de parceria com todas as IPSS

A cidade de Beja acolhe, na Casa da Cultura, no próximo dia 24, a XVIII Festa da Solidariedade. Concelho do interior alentejano, Beja tem no envelhecimento da população (23% da população tem mais de 65 anos) o seu maior problema social.
“Devido à idade avançada de uma parte significativa da população, portanto, dentro de um país já envelhecido, somos um concelho um pouco mais envelhecido, temos as dificuldades que daí resultam”, começa por referir Paulo Arsénio, presidente da Câmara Municipal de Beja, acrescentando: “A estas juntamos uma forte comunidade de etnia e uma grande imigração nestes últimos anos”.
A ação da autarquia tem sido no sentido de “esbater as várias dificuldades, através da sua intervenção própria e de parcerias com as IPSS do concelho”.
Em entrevista ao SOLIDARIEDADE, o edil sublinha, entre outras coisas, o papel fundamental das IPSS na coesão social do concelho bejense e ainda a “honra”, pela confiança demonstrada pela CNIS, que é para Beja receber a XVIII Festa da Solidariedade.

SOLIDARIEDADE - A imigração poderá ser um fator de rejuvenescimento da população?
PAULO ARSÉNIO - Muito… Em primeiro, são pessoas extremamente necessárias no território para desempenharem um conjunto de tarefas essenciais para a economia e para as quais não há mão de obra disponível entre a população local, estamos a falar de tarefas na construção civil, agricultura, mas também na hotelaria e restauração. Depois, têm algumas diferenças quer até cavam um fosso cultural entre a comunidade portuguesa e essas pessoas, que são hábitos religiosos e culturais muito diferentes dos nossos. Desde logo com uma barreira muito difícil de transpor como é a Língua. São pessoas necessárias, mas cuja integração nem sempre tem sido fácil.

Já falou em parceira, mas como é a relação da Autarquia com as IPSS?
A relação é saudável e de parceria. Temos IPSS que cumprem funções na sociedade e que cumprem diferentes funções, todas elas necessárias ao bem público. A relação do Município de Beja com as 25 instituições do concelho, com as quais trabalhamos e nas quais noa apoiamos, é muito fraterna, de boa convivência e em que todos temos uma consciência positiva de que só trabalhando de braço dado e com um espírito comum é que podemos ultrapassar as dificuldades que afetam centenas de pessoas no nosso território.

Como define, então, a importância dessas 25 IPSS aqui no concelho?
Todas elas são essenciais. Algumas desenvolvem a sua ação nas aldeias, o que chamamos meio rural, outras na cidade e algumas são mesmo supraconcelhias, como o Banco Alimentar Contra a Fome. Todas elas são absolutamente indispensáveis, todas elas desempenham papéis cruciais naquilo que é a agregação e coesão social do território. Sabemos também das dificuldades que muitas passam, nomeadamente devido ao financiamento do Estado Central, ou seja, desempenham papéis fundamentais, mas vivem, internamente, algumas dificuldades. Nesse sentido, temos vindo a apoiá-las, não em todas as suas dificuldades, mas temos transferido um apoio anual, que tem vindo em crescimento, e neste momento têm uma ajuda da autarquia já muito simpática.

Em que medida a interioridade agrava as situações sociais?
Certamente, os grandes centros urbanos também têm as suas dificuldades, mas a interioridade agrava, desde logo, porque a população é tendencialmente envelhecida e as oportunidades de trabalho e emprego também são menores do que no litoral. Nem todas as pessoas estão aptas para trabalhar, sobretudo, na agricultura ou nas obras públicas e na construção civil, que é aquilo que ainda vai mexendo mais. Havendo uma dificuldade de integração social por as oportunidades de emprego serem menores, dificulta mais o processo no interior. Mas enquanto presidente da Câmara, faço o diagnóstico, mas nunca fiquei no lugar a olhar. Um mundo ideal, que não existe, era onde as IPSS não existissem. Mas são necessárias e desempenham um papel fundamental e a Câmara cá está para ser parceira.

A Creche gratuita poderá inverter a tendência de envelhecimento da população bejense?
É um fator importante. O programa Creche Feliz, que tem vindo a ser implementado e progressivamente aumentado, é também um programa muito feliz para o interior do país, porque, desde logo, desonera os pais de um forte investimento mensal. Neste sentido, é um forte incentivo à natalidade. Quando falamos de incentivo à natalidade, na minha opinião, e não é uma crítica a quem o faça, não é um cheque de mil euros no momento do nascimento. Os pais compram alguma roupa, um berço e mais qualquer coisa e os mil euros vão à vida! Agora, a creche que é paga mensalmente durante uma fase da vida pelo Estado, deixando de ser um encargo muito violento para os pais, aí sim, é um incentivo real à natalidade. Por isso, a Creche Feliz, à medida que se for desenvolvendo no concelho de vagas, criando mais vagas, quase que me arrisco a falar pelos meus homólogos do distrito de Beja, que é uma medida muito positiva e na qual os governos devem apostar e criar uma rede que abranja cada vez mais pais, porque é um incentivo à natalidade e pode ser que daqui a uns anos contribua para o rejuvenescimento da população.

O que significa para Beja receber a XVIII Festa da Solidariedade, evento da CNIS que já passou pela quase totalidade dos distritos?
Em primeiro lugar, estamos muito satisfeitos por ter esta honra de receber a Festa da Solidariedade e pela CNIS ter confiado em Beja e na sua UDIPSS para o dia de encerramento do evento. Portanto, agradecer a confiança em organizarmos esta festa. Depois, esperamos que haja uma boa adesão das IPSS da nossa região e que estejam presentes na Festa em grande número, fazendo dela uma verdadeira iniciativa de solidariedade e ainda que a cidade participe ativamente nesse dia no evento. Para nós, é muito importante, é uma nova experiência e esperemos não ter de aguardar mais 18 anos para a Festa voltar a Beja. Estamos muito confiantes que o dia 24 de outubro seja um grande momento de afirmação da solidariedade entre os portugueses e entre as instituições, que o têm sabido demonstrar em todos os momentos do quotidiano da vida e especialmente nos mais difíceis, e cá estaremos de braços abertos para acolher todos os que queiram vir ter connosco a Beja e esperemos que sejam muitos.

Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)

 

Data de introdução: 2025-10-16



















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