CASA DO POVO DE ABRUNHEIRA, MONTEMOR-O-VELHO

Investimento superior a 5,5 milhões de euros duplica capacidade em ERPI e cria nova resposta

A Casa do Povo de Abrunheira, concelho de Montemor-o-Velho, tem crescido exponencialmente na última década e tem em marcha três projetos no sentido de chegar a mais gente que necessita de um local de acolhimento.
O SOLIDARIEDADE regressou à instituição oito anos depois para dar a conhecer estes projetos que a instituição de ampliação e requalificação de duas das suas três ERPI. Em 2016, a Casa do Povo acolhia 81 idosos, em três ERPI, apoiava 16 utentes através do Serviço de Apoio Domiciliário (SAD) e ainda acolhia 15 pessoas em Centro de Dia.
Hoje, a situação é bem diferente e, ainda este ano, a instituição perspetiva concluir duas das três intervenções que está a realizar. Depois de encerrar o Centro de Dia por altura da pandemia da Covid – “O Centro de Dia fechou porque dava prejuízo e a instituição não pode ter ervas daninhas”, afirma o presidente José Carvalho –, atualmente, a instituição apoia nove utentes em SAD e acolhe 89 idosos nas três ERPI, sendo que um destes lares é dedicado exclusivamente a pessoas com demência.
“Apesar de não haver legislação para as demências, criámos uma ERPI dedicada apenas a pessoas com demência”, refere José Carvalho, lembrando que, hoje, a instituição tem mais utentes “com autorização da Segurança Social e na sequência de algumas alterações regulamentares que aconteceram por altura da Covid”.
Quem chega hoje à Casa do Povo de Abrunheira quase não conhece a instituição. Onde até ao ano passado estava um campo de futebol, agora ergue-se um enorme edifício, que liga diretamente com o já existente Complexo Social Sénior e que, fruto da ampliação, vai passar de uma capacidade de 42 para 106 camas, entre quatros triplos e individuais, uma obra prevista para estar concluída em setembro próximo.
“A obra tem um custo aproximado de dois milhões de euros, com um apoio do PRR de 1,46 milhões de euros, mas este valor não paga equipamentos, nem paga IVA”, sublinha José Carvalho, o que indica um custo maior.
Por outro lado, a instituição tem, igualmente, em curso a ampliação e remodelação da ERPI das demências, um projeto para 50 camas, com financiamento exclusivo da instituição, fruto de um empréstimo bancário. A perspetiva é que tudo esteja pronto em julho, agosto, num investimento que ronda um milhão de euros.
E se o alargamento do Complexo Social Sénior tomou conta do complexo desportivo, já os apartamentos destinados a vítimas de violência doméstica irão se erigidos onde hoje está uma garagem para as viaturas da instituição.
“O projeto de construção dos 14 apartamentos, T1 e T2, para vítimas de violência doméstica nada tem que ver com a Segurança Social, mas sim com o Ministério da Habitação. Posteriormente, poderá haver apoio da Segurança Social em termos de acordos de cooperação, mas não para já”, sustenta o líder da Casa do Povo, revelando que já “no início de março vai ser lançado o concurso público para a construção”.
A obra tem um custo previsto de 2,5 milhões de euros, com financiamento do PRR de 1,275 milhões de euros.
“Tudo isto implica um encargo volumoso por parte da instituição, só possível devido a uma questão de credibilidade nos bancos. Não tivemos problema em pedir dinheiro, tivemos foi oferta de dinheiro”, revela, orgulhoso do que a instituição tem alcançado: “Em pouco tempo conseguimos um património elevado, da ordem de alguns milhões de euros e, depois, somos cumpridores e fazemos uma gestão rigorosa”.
Relativamente à ERPI das demências, uma aposta com quase uma década, em 2016, José Carvalho dizia ao SOLIDARIEDADE: “Adquirimos uma residência onde estamos a desenvolver um projeto interessante na área das demências e do Alzheimer. A intenção é fazer um projeto maior, talvez com apoio do Portugal 2020, numa oferta ligada ao Alzheimer e demências equiparadas”, revela José Carvalho, destacando: “Queremos criar um projeto diferente em que as pessoas com Alzheimer ou demência equiparada sintam o espaço como se vivessem o mais normalmente possível o quotidiano. É uma resposta para que as pessoas não sejam desenraizadas da vida quotidiana”.
A intervenção junto dos utentes da ERPI das demências, mas também dos demais idosos em alojamento, é sempre feita “com estimulação, desde que se bate à porta de manhã, se entra no quarto com a música preferida dos utentes, os banhos e o vestir feito ao ritmo da música e assim sempre até ao deitar”.
Nesse âmbito, a instituição pintou os quartos com cenas da vida quotidiana e de determinados lugares das regiões dos utentes, colocou azulejos com relevo à entrada das portas e de diferentes cores nos diversos quartos e erradicou as cadeiras de rodas, substituindo-as por cadeirões articulados com rodinhas, entre outras inovações. Refira-se que o interior da instituição está praticamente coberto por azulejos, restos de coleções que a instituição resgata nas fábricas da região. José Carvalho sustenta que esta intervenção é algo que surge na sequência da Covid, uma das aprendizagens que a instituição tirou da pandemia.
Na ERPI das demências, a Casa do Povo de Abrunheira tem algumas inovações que introduziu a pensar no bem-estar dos utentes. A título de exemplo, todos os cadeirões foram forrados de forma colorida por forma a estimular os utentes e nos quartos existe uma “lampadária”, uma espécie de ecrã no teto, que varia a cor e intensidade da luz e, em alguns casos, a paisagem projetada, no sentido de combater a chamada “síndrome do pôr-do-sol”.
“Estamos certificados pela DGEST para dar formação e temos manuais próprios para trabalhar com os nossos utentes, alguns dos quais teremos de registar a patente porque são únicos”, revela José Carvalho, defendendo que é através deles que fazem uma intervenção inovadora e que recebeu um novo impulso com o projeto «Dar mais memória à memória», bafejado em 2023 com três prémios nacionais.
À semelhança de muitas outras IPSS espalhadas pelo país, também a Casa do Povo de Abrunheira enfrentou problemas de recrutamento de pessoal para trabalhar com os idosos.
“Com a política do RSI, com a qual concordamos, as famílias recebem quase todas na ordem dos 400 euros, e ainda recebem os cabazes de ajuda alimentar que muitas instituições distribuem, depois não querem vir trabalhar para ganhar 700 euros”, atira José Carvalho, que encontrou uma solução para resolver o problema de falta de mão-de-obra nos PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa) e no Brasil.
“Com os PALOP a situação é diferente. Inicialmente fizemos uma seleção apertada, mas agora já não precisamos, porque são os que cá estão que nos indicam familiares e amigos que sabem corresponder ao perfil que queremos. Legalizamo-los e instalamo-los nos nossos alojamentos, que são no antigo centro de dia e em uma casa que construirmos, que é a residência dos artistas, que no fundo, são dois hostels, e ainda temos outras casas que recuperámos no meio da povoação”, revela, explicando que, com a instituição a facilitar na questão do alojamento, a vinda deles é mais fácil: “O alojamento é uma dificuldade e nós proporcionamos-lhes isso, o que facilita a sua integração e fixação. Por outro lado, esta é uma povoação envelhecida e, não fosse a Casa do Povo, a Abrunheira nem metade das pessoas que tem tinha, nem sequer a farmácia e o demais comércio estariam abertos. No fundo, é a Casa do Povo que dinamiza a economia e a cultura”.
Mas a chegada desta população a Abrunheira para trabalhar na Casa do Povo tem uma outra grande mais-valia: “Nós apostamos em casais jovens, que tenham filhos, que tragam filhos e damos-lhes facilidades para que os possam ter cá. A escola na Abrunheira fechou, mas já enchemos um autocarro com os filhos dos nossos funcionários para os levar a Montemor-o-Velho. E isto tem sido às custas dos PALOP, que já são 50% do pessoal que aqui trabalha. E não fazemos diferença entre os nacionais e os PALOP, queremos é os melhores para tratar dos nossos utentes”.
Por outro lado, a instituição tem nos seus quadros uma equipa de 11 funcionários exclusivamente dedicados a obras, “que está constantemente a fazer a manutenção das instalações, por isso é que os equipamentos da Casa do Povo têm sempre um aspeto de novos”.
A justificação de José Carvalho é para que “haja sempre um aspeto de novo, não apenas por uma questão de modernidade, mas sobretudo para que os utentes se sintam bem”.

Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)

 

 

Data de introdução: 2024-02-14



















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