NOVEMBRO 2023

Conclusões do Seminário da CNIS

Com momentos repletos de experiências e realidades distintas que deu voz às Instituições, o seminário abriu espaço à reflexão, avançou com a clarificação de conceitos e a identificação de sucessos, dificuldades e perspetivas a concretizar:

- Cuidar é dar atenção e preocuparmo-nos. Esta é, muitas vezes, a sua necessidade. Atenção. As pessoas sentem falta de atenção. Para cuidar é preciso dar atenção e para dar atenção é preciso tempo. Cuidar é amor. Temos de estar, ver e ouvir;

- Às pessoas, possuidoras de direitos, devem ser garantidos: cuidados contínuos, dinâmicos e integrados que devem ser prestados de forma holística à pessoa cuidada, respondendo às suas diferentes necessidades sem espartilho de cada uma delas. Os cuidados são preventivos, integrados, dinâmicos e contínuos ao longo da vida;

- Os cuidados prestados nas respostas sociais de acolhimento não são pré-estabelecidos: são definidos através de uma avaliação prévia multidimensional, identificando as necessidades, potencialidades, capacidades e limitações de cada pessoa cuidada. É necessário reconhecer e desenvolver/preservar essas mesmas capacidades, considerando a pessoa cuidada como um ser biopsicossocial;

- A definição de saúde é um estado completo de bem-estar físico e social. Não há saúde sem uma componente de bem-estar social;

- É vital a existência de uma intervenção multidisciplinar para que haja uma continuidade de cuidados em todas as áreas de intervenção. A articulação entre cuidados de saúde e de apoio social tem de ser efetiva, devendo, todas as estruturas assegurar a continuidade e integração de cuidados sob pena de se continuar a duplicar esforços e a desperdiçar recursos. A partilha da informação é essencial para que as equipas possam trabalhar;

- A duplicação só deixará de acontecer quando a informação de cada um, que é da pessoa, estiver acessível a qualquer profissional de saúde independentemente do local do país onde se encontrar. Dentro do próprio hospital público verifica-se muitas vezes falta de acesso à informação sobre a pessoa que existe dentro desse mesmo hospital;

- A abordagem individualizada multi e interdisciplinar, atendendo e respondendo de forma diferenciada a cada uma das pessoas, exige uma equipa multi e interdisciplinar que permita, de forma integrada e contínua, satisfazer as necessidades e expectativas das pessoas ao longo de toda a vida, com um foco no reconhecimento e desenvolvimento das suas capacidades individuais. Todas as equipas (técnica e de apoio) são fundamentais para a concretização diária destes cuidados e devem ser valorizadas, sendo imprescindível a sua formação contínua e a garantia da comunicação entre os elementos da equipa, bem como entre esta equipa que cuida, a pessoa cuidada e as famílias;

- As respostas sociais de acolhimento não estão legalmente obrigadas a terem profissionais de saúde (médicos e de enfermagem) nos seus quadros de pessoal – à exceção das estruturas residenciais para pessoas idosas que têm de ter pessoal de enfermagem – e é esta não obrigatoriedade que exige que as pessoas cuidadas de todas as respostas sociais de acolhimento tenham de ser consideradas como beneficiárias do Serviço Nacional de Saúde, à semelhança de qualquer outro cidadão, estando integradas na rede local de cuidados de saúde à qual têm de ter acesso;

- A prestação de cuidados continuados e integrados de saúde e ação social não é uma característica exclusiva da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados, mas igualmente de todas as respostas sociais;

- A continuidade de cuidados tem de ser garantida, na perspetiva das próprias instituições considerarem a cada momento, o encaminhamento para a resposta mais adequada para a pessoa cuidada;

- Deve prevalecer o princípio da proximidade na prestação de cuidados, garantindo que no terreno, independentemente da origem da pessoa cuidada, a prestação de cuidados é assegurada no local onde se encontra;

- Um particular destaque à área da saúde mental, que, pela sua necessidade de discussão emergente e urgente, merece uma particular referência e premência neste elenco de dificuldades;

- A complementaridade entre a Saúde e a Ação social é indispensável pela necessidade de uma intervenção holística, centrada nas necessidades da pessoa como um todo, no entanto a sua concretização é difícil. Ou não é concretizada ou é parcialmente concretizada e de forma diferenciada. Não há estratégias de complementaridade, entre as áreas da Saúde e da Ação social, estruturalmente definidas. A complementaridade que existe é na maioria dos casos possível graças ao estabelecimento de relações particulares e de proximidade que, perante a mudança de pessoas, pode, igualmente, ficar comprometida;

 - A complementaridade estrutural das áreas é indispensável para permitir a melhoria da prestação de cuidados, mas, do mesmo modo, a melhoria da eficácia e eficiência dos sistemas sociais e de saúde;

- Complementaridade é aquilo que se completa. Os 3 pilares: Público, Social e Privado não se podem sobrepor, mas antes completar, complementando-se e terminando com o desperdício de recursos, sendo imprescindível, para tal, a colaboração interinstitucional;

- É necessário que a intervenção das entidades públicas seja programada, planeada, integrada e articulada para resolver os problemas, pensar e fazer diferente. Há um caminho grande a percorrer e é em conjunto e só em conjunto – Instituições, Saúde e Segurança Social – que haverá capacidade para fazer mais, melhor e resolver os problemas das pessoas;

- Há, no entanto, uma responsabilidade que deve ser assumida pelo Setor Social e Solidário, a necessidade de se dar a conhecer, de permitir às entidades e profissionais que atuam na área da Saúde saberem exatamente qual o seu papel e em que consistem as respostas sociais que são desenvolvidas – e é este, também, o objetivo deste seminário;

- O Setor Social e Solidário não pode ser considerado com um recetor passivo das situações que afligem os setores públicos da Saúde e da Segurança Social, mas deve ter um papel ativo na identificação das necessidades, de verdadeiro e efetivo parceiro na concretização das soluções, sendo parte integrante da tomada de decisão e não apenas cumprida a formalidade legalmente estabelecida de ser ouvido. Por outro lado, este envolvimento, esta participação ativa e este reconhecimento é essencial que ocorra, igualmente, junto de cada uma das Instituições Particulares de Solidariedade Social nos momentos de responder às necessidades e pressões que são sentidas nestas e por estas áreas. As Instituições são parceiras na resposta às necessidades, pelo que terão sempre de ser ouvidas e consideradas para a tomada de decisão e não, simplesmente, executoras e recetoras passivas;

- As Instituições Particulares de Solidariedade Social devem afirmar a sua capacidade técnica e operacional, serem uma solução efetiva e parceira com as áreas da Saúde e da Segurança Social com o objetivo comum de dar melhor qualidade de vida às pessoas;

- Foram aqui deixados um conjunto de pedidos e propostas concretas que, sendo implementadas, permitiriam melhorar o dia a dia das instituições e o bem-estar e qualidade de vida das pessoas cuidadas;

- Este Seminário deixa, como grande desafio para o futuro, a definição/celebração de um compromisso escrito entre Saúde, Segurança Social e Setor Social e Solidário que assuma formalmente a necessidade de concretização desta complementaridade e que seja vertido na definição de procedimentos operacionais de articulação entre os serviços da Saúde, Segurança Social e das Instituições. Estes procedimentos estruturais devem ser disseminados e conhecidos por todas as estruturas locais, de cada uma destas entidades, no sentido de garantir a existência de uma uniformidade na assunção de responsabilidades que se traduza na melhoria da prestação de cuidados concretizando a garantia do acesso.

Lino Maia

 

Data de introdução: 2023-11-08



















editorial

O COMPROMISSO DE COOPERAÇÃO: SAÚDE

De acordo com o previsto no Compromisso de Cooperação para o Setor Social e Solidário, o Ministério da Saúde “garante que os profissionais de saúde dos agrupamentos de centros de saúde asseguram a...

Não há inqueritos válidos.

opinião

EUGÉNIO FONSECA

Imigração e desenvolvimento
As migrações não são um fenómeno novo na história global, assim como na do nosso país, desde os seus primórdios. Nem sequer se trata de uma realidade...

opinião

PAULO PEDROSO, SOCIÓLOGO, EX-MINISTRO DO TRABALHO E SOLIDARIEDADE

Portugal está sem Estratégia para a Integração da Comunidade Cigana
No mês de junho Portugal foi visitado por uma delegação da Comissão Europeia contra o Racismo e a Intolerância do Conselho da Europa, que se debruçou, sobre a...