CENTRO SOCIAL DE VALADO DE FRADES, NAZARÉ

76 anos ao serviço da comunidade mais desfavorecida da freguesia do Valado

São 76 anos de história ao serviço da comunidade mais desfavorecidas de Valado de Frades, freguesia do concelho da Nazaré, mas com os olhos postos no futuro e nas necessidades da comunidade que, há mais de sete décadas, o Centro Social de Valado de Frades serve abnegadamente.
“Em 1947, houve uma doação de duas pessoas abastadas da comunidade de Valado de Frades, as senhoras Guilhermina e Dolores O'Neill, que doaram todo o terreno onde hoje a instituição está sedeada, especificamente na condição de ser utilizado para beneficência, no fundo, para ser uma casa de apoio à comunidade”, começa por contar José Adolfo, diretor-geral da instituição, prosseguindo: “A doação foi feita ao Patriarcado de Lisboa, mas quem ficou com a tutela direta e com a gestão deste projeto social foi a Congregação das Servas de Nossa Senhora de Fátima.
As freiras estiveram a gerir diretamente esta casa até 2022, que se foram retirando de forma gradual. Progressivamente foram deixando esta responsabilidade, primeiro no Conselho Fiscal, depois foram ficando menos na Direção até que, por fim, em 2022 a última irmã que integrava a Direção saiu. Entregaram a tutela da instituição diretamente à Paróquia de Valado de Frades, sendo que continua ligada ao Patriarcado”.
José Adolfo não se cansa de elogiar o papel da Congregação, “que geriu a instituição ao longo de 75 anos”, acrescentando que “esta é uma obra delas, pois só se desligaram fisicamente, deixando de estar aqui a gerir a casa”.
Doado o terreno, progressivamente foi sendo construído o edificado, sendo que parte dele tem uma traça de casario antigo, apesar de não ser o mais velho.
“A parte das instalações que é a mais antiga, atualmente não parece ser a mais antiga, porque já sofreu uma intervenção. É a área da infância, mas ainda assim é mais antiga do que a dos idosos. O edificado foi sendo construído gradualmente e funciona circularmente. Apesar de todo o edificado, ainda há muito espaço exterior, com um pátio central e uma área com um parque infantil mais atrás”, explica o diretor-geral, há cinco anos no cargo, altura em que a Congregação começou a preparar a sua saída, optando por uma profissionalização da gestão da instituição.
Hoje, o Centro Social de Valado de Frades acolhe 64 crianças em creche, 50 em Pré-escolar e ainda 18 em ATL, mas apoia ainda 20 idosos em Centro de Dia e 21 através do Serviço de Apoio Domiciliário. Mas nem sempre foi assim…
“A instituição, ao longo do tempo, passou a ter um papel um pouco diferente. No início esta casa era muito mais do que é hoje, mas isso tem que ver com a evolução da sociedade, pois não era apenas um local onde existia uma creche e um centro de dia… Na altura esta era uma comunidade muito mais rural, que nunca foi rica, mas nesse tempo era muito mais parca em recursos e as crianças não tinham o que comer como hoje, isto sem minimizar situações complicadas que existem nos dias que correm. Então, as famílias, muitas vezes, tinham grandes carências alimentares. E esta casa, durante muitos anos, foi o único sítio onde muitas pessoas tinham a sua refeição e onde vinham mesmo só para se alimentar. Era, o que naquele tempo se chamava a Sopa dos Pobres”, conta José Adolfo, fazendo a comparação com os dias de hoje: “Hoje, também fazemos algum apoio alimentar, mas através do FEAC [Fundo Europeu de Apoio a Carenciados]”.
A verdade é que a instituição faz parte da vida de muitos habitantes do Valado de Frades, desde há muito: “Ainda hoje é muito difícil uma família que tenha um casal mais idoso, na casa dos 80 anos, mas também na casa dos 50, que não tenha um elemento que tenha passado pelo Centro Social”.
Criada com o intuito muito específico de servir a comunidade do Valado, José Adolfo avança que hoje, a instituição faz o mesmo trabalho, mas “de uma forma um pouco diferente, porque as casas também se profissionalizam, criam as suas respostas com um apoio muito maior da Segurança Social e as coisas já não podem ser como cada um quer, já as Irmãs, antigamente, tinham uma liberdade muito maior, pois as coisas hoje são menos flexíveis e mais burocráticas”.
Olhando ao espaço e às respostas sociais que a instituição disponibiliza, impõe-se perguntar se não há a intenção de criar uma Estrutura Residencial Para Idosos (ERPI).
“Essa é uma ideia que tem passado pela cabeça dos responsáveis, mas é algo que nunca avançou. Há um projeto que continua a ser pensado. As Irmãs, quando pensaram no assunto, decidiram não avançar. Agora, este edifício onde estamos, o mais recente, tem três pisos e só um deles está a ser utilizado pelos serviços e utentes. O que quero dizer é que até existe espaço, mas essa decisão ainda não foi tomada, mas é algo que está a ser ponderado”, refere José Adolfo, reconhecendo que, a avançar, a instituição “Já teria concorrência”.
“Há duas instituições que já estão no terreno, a Confraria de Nossa Senhora da Nazaré, que é bastante grande, e o Centro Social de Famalicão, que já tomou a decisão que nós ainda não tomámos e avançou para a construção de uma ERPI”, explica.
E se a ERPI é algo que poderá nascer, já o ATL é uma valência que a instituição já ponderou encerrar.
“É a única resposta social que já ponderámos deixar, porque ocupa-nos tempo e recursos e não tem muitas crianças. Para já, decidimos não o fazer a pedido dos pais. Apesar de só fazermos as pontas ao longo do ano, que asseguramos sem problema, o ATL nas férias acolhe muito mais crianças, para além de ser uma valência com mais respostas do que, por exemplo, as do sector público, o que agrada aos pais. Já há três anos foi pensado avançar com um projeto de acompanhamento das crianças de uma forma diferente, não sendo apenas um ATL, mas mais uma ocupação de tempos livres, com autoestudo e acompanhamento escolar. No entanto, meteu-se a pandemia e não se prosseguiu, mas mesmo assim temos dúvidas que tivesse muita procura”.
Sobre o futuro, José Adolfo sustenta que, a nível de valências, “seria a construção de um lar, mas só com um possível financiamento, porque sem isso estas casas não conseguem avançar sozinhas, mas pode ser uma hipótese que não para já”.
“Agora, tentamos fazer uma coisa interessante, algo que as Irmãs fizeram ao longo de todos os anos que aqui estiveram, que é basear os nossos projetos naquelas que são as necessidades correntes. Tentar fazer com que os nossos utentes tenham um serviço mais completo e de melhor qualidade e isso passa por fazer obras nas instalações, alargá-las e criar novos espaços de lazer para os utentes. Nós apostamos muito na qualidade alimentar e, apesar do aumento dos custos com os produtos alimentares, tentamos não baixar a nossa fasquia. O nosso principal projeto é a continua melhoria dos nossos serviços, até para continuar a captar utentes para não baixarmos as frequências”, argumenta, acrescentando: “Estamos ainda, ao poucos, a implementar o projeto de modernização da instituição, algo essencial, especialmente numa instituição com 76 anos. Nesse sentido, acabámos de instalar cerca de 70 painéis solares. Basicamente, tudo fazemos para que os nossos utentes se sintam bem e se sintam felizes”.
Conhecidas as dificuldades financeiras de muitas instituições espalhadas pelo país, o Centro Social de Valado de Frades tem as contas equilibradas, apesar de “não haver folgas”.
“Esta casa o que gasta é o que recebe, ou seja, não há excesso de valor, mas no dia a dia o que se gasta é o que se recebe. Não há folgas. Por isso é que tudo fazemos para que o número de utentes se mantenha, porque um utente faz diferença, e também tentamos manter os recursos humanos motivados o suficiente para não haver absentismo. A saúde financeira da instituição, neste momento, é positiva. Não somos uma das muitas instituições, que sei que existem, que estão com graves problemas financeiros”, afirma José Adolfo, que olha a medida da Creche Feliz como positiva.
“Numa instituição que tenha famílias a procurá-la e que tenham rendimentos mais elevados faz pouca diferença. Algumas poderão até ser prejudicadas… No nosso caso não e, por isso, a Creche Feliz é muito bem-vinda, porque esta zona é mais pobre, com limitação de recursos. Agora, o facto de a Segurança Social comparticipar aquele valor de 460 euros faz com que nas crianças que tenham gratuitidade, e isso vai abranger dentro em breve toda a creche, acaba por nos dar alguma folga financeira. Como as comparticipações familiares eram mais baixas, o Estado acaba por comparticipar um pouco mais do que se não houvesse Creche Feliz”, sustenta, encontrando ainda mais uma vantagem na medida do Estado: “Uma medida deste género permite ainda fazer uma coisa que não é fácil numa casa destas, que é abrir vagas fora do acordo, mas agora com a gratuitidade já é possível. Nesse sentido, pela primeira vez, em setembro estamos a ponderar abrir mais uma sala de creche, precisamente, por causa da Creche Feliz”.
Para José Adolfo, “esta é uma excelente medida, porque os pais precisam”, contextualizando: “A oferta de creche, nesta região, está aquém da procura. Em setembro temos as salas completamente cheias. Ora, para recebermos mais crianças, teremos forçosamente que abrir mais uma sala, mas fazê-lo apenas com a comparticipação dos pais seria impossível”.
E como seria o Valado de Frades sem o Centro Social?
“Não consigo perceber como seria. O Centro Social é uma das principais entidades empregadoras e é-o desde o início da sua existência. Historicamente, é uma referência no Valado, até porque é das instituições mais antigas. Agora, a nível social faz toda a diferença para esta comunidade, como tem feito sempre ao longo dos 76 anos de vida da instituição. Esta instituição continua a ser um suporte social para a comunidade do Valado de Frades”, remata.

Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)

 

Data de introdução: 2023-08-09



















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