PESSOAS QUE PERMANECEM NOS HOSPITAIS POR QUESTÕES SOCIAIS

Governo e Sector Social Solidário de acordo para “resolver um problema complicado”

Apesar de ser um processo já em andamento, apenas no dia 2 de fevereiro foi publicada a Portaria (n.º 38-A/2023) que “estabelece os termos e condições em que é efetuada a articulação interinstitucional, para efeitos de referenciação e acompanhamento de pessoas que, por motivos sociais, permanecem internadas após a alta clínica, em hospital do Serviço Nacional de Saúde (SNS), através do recurso a um acolhimento temporário e transitório em resposta social”.
O acordo alcançado entre os ministérios da Saúde, do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social e as entidades do Sector Social Solidário vem sendo trabalhado há muito e, como referiu o presidente da CNIS, na sessão de apresentação do compromisso, que decorreu no Centro de Bem-Estar Social de Alcanena (CBESA), “vem resolver um problema complicado”, porque “há muitas pessoas que vegetam nos hospitais”.
O padre Lino Maia lembrou que a questão “foi profundamente estudada”, primeiro com “o levantamento das necessidades, ainda antes da pandemia”, sublinhando que “um efeito positivo da pandemia foi ter aproximado a Saúde da Segurança Social”.
“Esta acordo que agora apresentamos é um dos bons sinais disso mesmo”, frisou o líder da CNIS, lembrando as vantagens da solução encontrada: “A dignidade destas pessoas que estão nos hospitais apenas por questões sociais não é respeitada, para além de que estão a ocupar camas, impedindo os cuidados a outras pessoas que necessitem. Outra vantagem para o Estado é que uma pessoa numa instituição custa tanto como estando três dias no hospital. O Sector Social Solidário também está a beneficiar, mas está a minorar custos à Saúde”.
Para o padre Lino Maia, “Esta é uma boa resposta para muitas pessoas que veem a sua dignidade posta em causa”.
Por outro lado, o presidente da CNIS considerou que “o processo de aproximação da Saúde à Segurança Social, que começou com a pandemia, é virtuoso, mas não pode ser virtuoso de mais, pois pode tornar-se fanático”.
Afirmando a disponibilidade das instituições sociais, dando “o bom exemplo” do CBESA, “que vai aumentar a capacidade em ERPI para poder acolher mais pessoas”, o presidente da CNIS afirmou: “Quero garantir que o Sector Social Solidário está sempre na solução dos problemas e nunca no agravamento das situações”.
O ministro da Saúde reforçou a ideia de ter sido criada uma “resposta virtuosa”, “uma resposta muito importante a um problema do país e das pessoas”.
Também para Manuel Pizarro, “a dignidade das pessoas é o tema central desta resposta, mas quero lembrar duas razões de saúde que suportam esta solução: os hospitais são bons para ir, e a pessoa tratar-se, mas muito maus para se ficar!”.
Por outro lado, também o governante manifestou a sua “satisfação” pela “articulação do Ministério da Saúde com o Sector Social Solidário e o Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social”, recordando outras iniciativas, como os Balcões SNS nas instituições sociais ou a resposta de um médico na linha SNS24 para apoio às IPSS, e avançando com uma visão de futuro: “Temos que continuar a casar as respostas sociais com as respostas de saúde”.
“A rede está a funcionar e, agora, vamos vendo como pode evoluir”, sustentou o ministro da Saúde, defendendo que “é preciso saber melhor as razões para estas situações, que se prendem com razões sociais ligadas à pobreza”.
A terminar, Manuel Pizarro deixou um elogio à resposta criada para as pessoas que por razões sociais permanecem internadas nos hospitais do SNS, por “criar aconchego a essas pessoas, seja para a recuperação, seja para permanecer num local com dignidade”.
Ana Mendes Godinho sublinhou esta questão, deixando uma palavra a quem esteve no esforço para encontrar a resposta.
“Foi a grande capacidade trabalho em conjunto que possibilitou dar mais dignidade às pessoas”, afirmou a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, lembrando que “isto não foi fácil”.
“As aprendizagens da pandemia ficaram para sempre e mostraram que temos que reinventar as respostas”, recordou, deixando um desafio: “Não podemos ter capelinhas para cuidar das pessoas. Este acordo é a esperança de ser mais um passo na integração das respostas entre a Saúde e a Segurança Social”.
Dos estudos feitos, o Ministério da Saúde dizia necessitar de cerca de 700 vagas, tendo, até ao momento, as associadas da CNIS mostrado disponibilidade para cerca de 400 vagas e as misericórdias 150, havendo ainda algumas de instituições associadas da União das Mutualidades e da Confecoop e não associadas de nenhuma das quarto organizações representativas do Sector Social Solidário.
Desde a pandemia, segundo uma nota conjunta dos dois ministérios, refere que “a articulação entre o SNS e a Segurança Social permitiu dar resposta a cerca de 5.800 utentes que permaneciam internados nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde por motivos sociais” e que “durante o mês de janeiro deste ano, a rede de vagas acolheu 155 utentes, libertando o correspondente número de vagas nos hospitais”.

 

Data de introdução: 2023-02-03



















editorial

O COMPROMISSO DE COOPERAÇÃO: SAÚDE

De acordo com o previsto no Compromisso de Cooperação para o Setor Social e Solidário, o Ministério da Saúde “garante que os profissionais de saúde dos agrupamentos de centros de saúde asseguram a...

Não há inqueritos válidos.

opinião

EUGÉNIO FONSECA

Imigração e desenvolvimento
As migrações não são um fenómeno novo na história global, assim como na do nosso país, desde os seus primórdios. Nem sequer se trata de uma realidade...

opinião

PAULO PEDROSO, SOCIÓLOGO, EX-MINISTRO DO TRABALHO E SOLIDARIEDADE

Portugal está sem Estratégia para a Integração da Comunidade Cigana
No mês de junho Portugal foi visitado por uma delegação da Comissão Europeia contra o Racismo e a Intolerância do Conselho da Europa, que se debruçou, sobre a...