DIA MUNDIAL DO REFUGIADO

Mais de 65 milhões de deslocados à força no mundo

Os números impressionam, os rostos impressionam muito mais, mas a situação dos refugiados que pretendem chegar à Europa continua muito, muito difícil.
Pela primeira vez, segundo o ACNUR (Alto Comissariado da ONU para os Refugiados), o número de pessoas deslocadas ultrapassa os 60 milhões, cifrando-se no final de 2015 em 65,3 milhões de pessoas, na esmagadora maioria refugiadas de guerra.
Por seu turno, a Europa vive a maior vaga de refugiados e requerentes de asilo desde a II Grande Guerra Mundial. Isto apesar de apenas 14% do total de refugiados terem procurado refúgio na União Europeia, contra 86% que neste momento estão albergados em países de baixos e médios rendimentos fora do bloco regional.
Refugiados sírios, afegãos e somalis constituem mais de metade dos 65,3 milhões de deslocados, segundo cálculos da agência da ONU sobre os novos pedidos de asilo apresentados em 2015.
Destes 65,3 milhões deslocados à força, 21,3 milhões são refugiados, 40,8 milhões deslocados internamente nos seus países e 3,2 milhões de requerentes de asilo.
Ainda segundo o relatório do ACNUR, em média, durante 2015, 24 pessoas eram deslocadas de suas casas a cada minuto, qualquer coisa como 34 mil pessoas por dia. Estes números são sintomáticos quando comparados com as 30 pessoas deslocadas por minuto em 2014 e as seis por minuto em 2005.
No âmbito do Dia Mundial do Refugiado, o coordenador do Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR), a que a CNIS pertence desde a primeira hora, faz um balanço “muito positivo” do acolhimento destas pessoas em Portugal, que recebeu até agora cerca de 370 refugiados, número que vai aumentar até ao final deste mês.
“A PAR recebeu 125 pessoas, mas Portugal, no seu todo, já recebeu cerca de 370 pessoas, que estão acolhidas não só na PAR, mas também noutras instituições como a União das Misericórdias, a Cruz Vermelha, a Câmara de Lisboa ou o CPR [Centro de Acolhimento para Refugiados]”, afirmou Rui Marques.
O responsável tem a expetativa de que a PAR, direcionada para o acolhimento de crianças e respetivos familiares, “venha a ultrapassar as 200 pessoas” acolhidas até ao final de junho.
“Nos próximos dias vamos receber mais refugiados. Praticamente [em] todas as semanas que se seguem há já planeamento de receção de mais famílias de refugiados. Agora a cadência de chegada é semanal e tem corrido muitíssimo bem”, sublinhou Rui Marques.
O coordenador da PAR conta que após meses em que o programa de recolocação de refugiados “não funcionou”, a realidade atual é bem diferente, com uma inversão deste rumo, que se acentuou nas últimas semanas com a chegada de mais refugiados a Portugal.
“O processo de acolhimento está a seguir em muito bom ritmo. O balanço de acolhimento de refugiados é muito positivo”, sustentou Rui Marques.
A PAR contempla mais de 320 organizações da sociedade civil, nomeadamente do Setor Social Solidário, empresas, fundações, universidades e autarquias.
“Esta rede de organizações foi capaz de montar um programa de acolhimento de refugiados, em particular dos refugiados mais vulneráveis, que são as crianças, e felizmente muitas delas estão acompanhadas pelas suas famílias. Por isso este programa chamou-se PAR famílias”, referiu o coordenador desta Plataforma, que tinha inicialmente 704 lugares disponíveis para acolhimento de refugiados, número que ainda está longe de ser atingido, mas a perspetiva é a de angariar mais instituições anfitriãs, além das 110 que já existem.
“Vamos lançar agora uma campanha para aumentar a capacidade de acolhimento com mais instituições anfitriãs”, anunciou Rui Marques.
No Dia Mundial do Refugiado, o coordenador da PAR deixou o aviso de que, apesar de tudo, ainda há muito a fazer.
“Há muito a fazer no sentido de que Portugal tem de manter esta posição de acolhimento e de integração de refugiados. Tem de contribuir para que a resposta europeia seja solidária e eficaz, e precisa de continuar na interação no quadro da União Europeia a sensibilizar a opinião pública para uma cultura positiva face a este drama enorme dos refugiados”, alertou Rui Marques.
Recorde-se que Portugal teve como primeira meta acolher cerca de 4500 refugiados, mas com a entrada em funções do atual Governo esse número passou para os 10 mil.

CLIMA DE XENOFOBIA CRESCENTE

O Alto-Comissário da ONU para os Refugiados, Filippo Grandi, declarou-se preocupado com o “clima de xenofobia” na Europa, numa entrevista à France Presse, em Teerão, antes de uma cerimónia que assinalou esta segunda-feira o Dia Mundial do Refugiado.
“A responsabilidade dos homens políticos devia ser explicar que a imigração, em certos aspetos, contribui para o desenvolvimento das sociedades e que os refugiados (…) precisam de proteção, pois eles não representam um perigo, mas fogem de sítios perigosos”, afirmou Grandi, que se deslocou ao Irão para evocar a situação dos refugiados afegãos no país.
“Aqueles que fazem o contrário e se juntam à opinião pública contra os refugiados e os migrantes criam um clima de xenofobia que é muito preocupante atualmente na Europa”, disse, adiantando que tal “dá um mau exemplo aos países” que não estão na União Europeia (UE).
Filippo Grandi, que assumiu as suas funções em janeiro, lamentou que “as boas decisões” tomadas no ano passado pela UE para melhor gerir o afluxo de milhões de refugiados “não tenham sido aplicadas”.
Esta foi, afirmou, “uma oportunidade perdida”, porque depois “cada país tomou decisões separadamente e fronteiras foram fechadas”.
“Espero que no futuro a Europa retome a discussão para ter um sistema de gestão de fluxos dos refugiados mais coletivo e colegial, baseado na solidariedade e na partilha das tarefas entre Estados”, disse.
Preocupante, segundo Grandi, é também a situação “dos deslocados” no interior dos países em guerra, particularmente no Médio Oriente.
“Dois terços dos deslocados no mundo são deslocados internos”, disse, referindo existirem “milhões no Afeganistão, na Síria, no Iraque, no Iémen”.
“São os mais difíceis de alcançar porque estão no meio das guerras e por isso é perigoso ir ajudá-los”, adiantou o Alto-Comissário das Nações Unidas.

ONU LANÇA 
PETIÇÃO

Entretanto, a ONU lançou uma campanha e uma petição (#WithRefugees) que instam os governos a garantirem a segurança, a educação e o emprego dos quase 20 milhões de refugiados em todo o mundo.
Num vídeo divulgado há dias, mais de 60 personalidades da música, do cinema e da televisão – Barbara Hendricks, Bryan Adams, Juanes, Scarlett Johansson, Helen Mirren, Benedict Cumberbatch, Ben Stiller e Patrick Stewart, assim como do secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, entre outras – juntam-se a refugiados e a trabalhadores humanitários, dando voz à mensagem escolhida pelo ACNUR para assinalar o Dia Mundial do Refugiado: “Nós estamos com os refugiados. Estejam connosco”.
A campanha pretende, por um lado, manifestar publicamente o apoio às famílias forçadas a deixarem os seus países de origem, num contexto de perseguições e conflitos, e, por outro, contrariar a crescente retórica antirrefugiados e as maiores restrições ao asilo.
A petição, que será entregue durante a Assembleia Geral da ONU, em Nova Iorque, a 19 de setembro, faz três pedidos concretos aos governos: que “todas as crianças refugiadas tenham acesso à educação”; que “todas as famílias refugiadas tenham um lugar seguro para viver”; e que “todos os refugiados possam trabalhar e adquirir conhecimentos que contribuam de forma positiva para as suas comunidades”.

P.V.O. (com LUSA)

 

Data de introdução: 2016-06-20



















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