1. "Para tudo há um momento e um tempo para cada coisa que se deseja debaixo do céu" (Ecl 3)...
Até agora, houve um longo "tempo eleitoral": novos tempos já se anunciam.
Várias vezes prognosticado, o tempo eleitoral iniciou-se há quase dois anos com a despedida da "troika". Fora pré-anunciado com "primárias" que precederam as "legislativas", continuadas por um prolongado "tempo de compensação", vaticinado por alguns como ainda sujeito a umas quaisquer "penalidades".
Ainda o "árbitro" hesitava em pôr fim ao "tempo de compensação" e já entravam em cena as "presidenciais". Com muitos candidatos, escasso entusiasmo e muita monotonia. Como "o povo é quem mais ordena", este longo ciclo foi encerrado sem recurso a tempo de compensação que seria uma eventual "segunda volta".
Com o fim das constrangidas campanhas, dos monótonos debates, das demarcadoras sondagens, das inesperadas negociações e das reduzidas votações, um "tempo novo" se anuncia
Se as "legislativas" tinham deixado a pairar no ar algumas dúvidas, as "presidenciais" foram eloquentes no seu resultado, a ponto de todos se renderem à inevitabilidade de o "tempo novo" dever ser precedido por um "tempo para unir aquilo que as conjunturas dividam".
2. No rescaldo eleitoral, Sampaio da Nóvoa, o antigo reitor da Universidade de Lisboa sublinhou o facto de, "pela primeira vez" na história da democracia portuguesa, "um cidadão independente "ter estado perto de passar à segunda volta" e de ter ultrapassado 20% e um milhão de votos, "dando sinal forte da nossa democracia". E sublinhou de uma forma muito sensata e clara: "A partir de hoje, Marcelo Rebelo de Sousa é o meu presidente e o de todos os portugueses", dizendo que esta sua atitude se baseia na campanha que fez, "pela positiva", em que foi "apelando à união", sem "fraturas" e "clivagens". E disse que esta era a sua "profunda convicção democrática". Atitude de grande dignidade e de enorme responsabilidade daquele que foi digno candidato à presidência.
Por sua vez, sublinhando os desafios que se perfilam no horizonte de todos nós e temendo tempos de instabilidade, aquele que tomará posse em Março como próximo Presidente da República, também no rescaldo eleitoral, mostrou-se preocupado com o crescimento económico e com a estabilidade financeira. E afirmou que todos "temos de agir com prudência para minimizar os riscos dispensáveis", e temos de "ser capazes de crescer de forma sustentada, de gerar emprego, de corrigir injustiças sociais que a crise agravou". E prometeu "prestar atenção preferencial aos mais carenciados, "os que vivem nas periferias da sociedade, de que fala o Papa Francisco".
Resumiu, assim, a sua visão para o país durante o seu mandato: "Em palavras simples e diretas: no tempo que aí vem, a opção é clara: ou crescemos economicamente de forma sustentada, criando justiça social, combatendo a exclusão, a pobreza e a desigualdade, ao mesmo tempo que moralizamos a vida pública e atalhamos as corrupções, ou só contribuiremos para agravar as tensões sociais e os radicalismos políticos". Sem dúvida, atitude preanunciadora de bom magistério.
Assim seja e assim se deseja.
3. Para além de dotado de sabedoria, de inteligência e de bom senso, espera-se sempre que o Presidente da República seja uma referência em que todos sintam enlevo e conforto. Como tal, deve ter um cadastro limpo, de estar recheado de sensibilidade humana e social e ter boas provas éticas e humanas. A sua magistratura deverá ser orientada para a coesão, para a justiça e para o desenvolvimento do País. Assim, simultaneamente, será uma espécie de "provedor" e de aglutinador das vontades ao mesmo tempo que mobilizará para as boas causas que ele próprio assume.
Contactada por candidatos à Presidência da República no período pré-eleitoral, a CNIS disponibilizou-se junto de todos eles a recebê-los e a promover encontros com dirigentes. Assim foi estabelecido um bom diálogo com sete deles que reconheceram a importância da CNIS, das IPSS e da cooperação para a promoção de uma comunidade nacional menos pobre e mais justa e mais solidária.
Marcelo Rebelo de Sousa foi um deles e provavelmente o mais diligente. Porque "é quem mais ordena", o povo elegeu-o certamente por ver nele as qualidades suficientes para o exercício da presidência da República e por reconhecer nele a capacidade e a determinação necessárias para ser o 20º Presidente da República.
Contamos com ele nestes tempos novos e ele contará com a nossa confiança e com a nossa lealdade. Também com o precioso contributo de todas as Instituições Particulares de Solidariedade Social para o bem comum.
Lino Maia
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