ASSISTE – ASSOCIAÇÃO DE SOLIDARIEDADE SOCIAL DE CORTES, LEIRIA

Sonho do Lar de Idosos continua vivo

Cortes situa-se às portas de Leiria e é daquelas freguesias que já não o é, agregada que foi, com Pousos e Barreira, à da sede do concelho, Leiria. População iminentemente rural e muito envelhecida, a Assiste é o porto de abrigo de muitas dessas pessoas, ora através do SAD, ora do Centro de Dia.
Pouco passava das 10h00 quando a primeira carrinha da instituição com os primeiros utentes chega, começando o edifício a encher-se aos poucos de gente e boa-disposição. Enquanto uns se ficam pelo espaço exterior passeando em torno do edifício, quais caminhantes dando anos à vida, apreciando a paisagem que no horizonte vê erguer-se a Serra da Senhora do Monte e no rosto vão sentindo uma brisa fresca a adivinhar chuva. Pouco depois as primeiras pingas caíam… mas disso também não passou.
No interior, enquanto uns menos autónomos se acomodavam, as colaboradoras preparavam a atividade matinal que consistia em descascar nozes para a posterior feitura de um bolo. A tradição manda que por altura do Dia de Todos os Santos se coma bolo de noz. Então, uns de martelo na mão e os demais de dedos afiados para retirar o miolo da casca, lá se passou mais uma animada manhã, que mais tarde deverá ter dado um belo lanche.
São 19 os utentes que frequentam o Centro de Dia e ali desenvolvem as mais diversas atividades.
No exterior, a instituição ajuda 48 idosos através do Serviço de Apoio Domiciliário, confeciona 110 refeições/dia para as escolas de Cortes e leva ajuda alimentar a cerca de 20 famílias, no âmbito do PCAAC (Programa Comunitário de Ajuda Alimentar a Carenciados). Para desenvolver toda esta ação social, a Assiste conta com um corpo de 21 funcionários.
A instituição é ainda a gestora de um ATL frequentado por 31 crianças, por solicitação da autarquia, e que funciona mediante um protocolo com uma instituição que já se dedicava a essa valência.
A Câmara Municipal de Leiria solicitou que a Assiste efetue o transporte das crianças para as três escolas existentes, “uma forma da população ver que a instituição tem um papel importante na vida da comunidade”.
A Assiste nasceu em 1997 e dois anos volvidos estava a servir a primeira refeição do que era o arranque do Serviço de Apoio Domiciliário. Uma década volvida sobre a fundação da instituição dá-se início à construção do edifício-sede, que passará também a albergar o Centro de Dia, e que cerca de um ano depois entrava em funcionamento.
Anteriormente, a instituição funcionava na Casa Paroquial, até que o terreno no lugar de Alqueidão, de 20 mil metros quadrados onde agora está sedeada, foi doado à instituição, pelo sócio e benemérito António Gonçalves de Oliveira, membro dos órgãos sociais da instituição.
“Foi necessário recorrer à Banca para construir a sede”, refere Alberto Achando, presidente da Direção há quatro anos, explicando que, apesar do crédito por saldar, a situação económico-financeira é estável: “Não está ainda regularizada essa dívida, mas está a caminho de se resolver. A saúde financeira da instituição está bem. Não nos podemos queixar dessa parte, devemos dinheiro, é verdade, não é muito, mas ainda devemos. De qualquer maneira temos dinheiro para o dia-a-dia”.
Por seu turno, o diretor-técnico Sérgio Marto sublinha que esta estabilidade existe, “porque se mantém uma política muito rigorosa de controlo dos custos”.
A navegar em águas seguras, a Assiste acalenta o sonho de construir uma Estrutura Residencial Para Idosos, “o grande projeto da instituição”, afirma Alberto Achando, dando conta do que tem obstaculizado à sua concretização: “Estamos a desenvolver esse processo de construção de um lar. Está em andamento, mas tem havido alguns obstáculos, porque a nossa sede, e respetivo terreno, está inserida numa zona de RAN (Reserva Agrícola Nacional), portanto há uma grande dificuldade em libertar terrenos para construção. No entanto, o PDM está a ser alterado e temos a promessa da libertação de 1200 metros quadrados, para ampliarmos este edifício. Será numa ala que já está mais ou menos programada que construiremos um Lar com a capacidade de 30 quartos. Por isso, penso que dentro de alguns anos isso será uma realidade”.
Para o presidente da instituição de Cortes, “este é o grande objetivo e o grande projeto da instituição”, revelando que a instituição está a pesquisar formas de financiamento que passam pelo próximo Quadro Comunitário de Apoio: “Estamos em estudo para ver da possibilidade de nos candidatarmos ao Portugal 2020. Estamos a tentar ver onde podemos ir buscar algum financiamento, mas penso que será muito difícil, porque o conhecimento que temos é que não deverá haver verbas para lares de idosos”.
Os dirigentes da Assiste não estão muito crentes na abertura de financiamento para lares, até porque “a verba disponível será mais dirigida para a deficiência e não para a terceira idade”, acrescenta Sérgio Marto, no que é acompanhado pelo presidente da Direção: “Dizem-nos que será difícil arranjar financiamento para lar de idosos, até porque já há resposta na nova freguesia. Como fazemos parte da freguesia agregada de Leiria, com 30 mil habitantes, uma área geográfica enorme e onde já há diversas instituições com lar. Esta resposta social em Leiria já é bastante alargada, não digo que seja a suficiente, mas é bastante alargada, por isso, eles neste momento apostam em outras áreas, como os Centros de Noite”.
Perante o contexto social de Cortes e o momento atual, o Centro de Noite poderá ser, numa primeira fase, a forma de a instituição chegar a mais pessoas e, assim, cobrir mais necessidades dos idosos da zona.
“Se calhar, o Centro de Noite poderá ser uma boa solução para a região e já ponderámos essa hipótese. Se não conseguirmos construir o lar, começamos por um Centro de Noite e depois vamos caminhando lentamente para a valência Lar. Não sei como será, mas são situações a analisar no futuro”, sustenta Alberto Achando, que acrescenta: “A nossa instituição tem vindo a crescer na resposta que dá à medida que as outras instituições vão ficando lotadas, pelo que a nossa área de ação é vasta e tem crescido. Em diálogo com as outras instituições, temos, de facto, alargado a nossa área de ação”.
E juntamente com este alargamento de área de influência e com o projeto, para já, adiado do Lar de Idosos, a Assiste tem outros projetos, alguns já abandonados, mas outros que pretende implementar assim que possível.
“A Direção tinha um projeto para uma creche, mas nos dias que correm os tempos são complicados para essa resposta social. As famílias têm vindo a diminuir e esse é um projeto que nos passou pela cabeça ainda primeiro do que o do lar, mas hoje é algo que não dá para avançar”, revela o presidente, acrescentando: “O desemprego também aqui chegou e as famílias em que só o pai trabalha, a mãe está em casa e cuida das crianças”.
Por seu turno, Sérgio Marto avança com outras razões que justificam a não abertura de uma creche em Cortes: “Também tem que ver com a questão demográfica, porque não se permite muito a fixação das pessoas. O PDM não permite construir e os jovens acabam por ir para outros locais e os que aqui estão vão-se embora”.
É o desenvolvimento local que sofre, assistindo-se à fuga dos mais novos para a vizinha Leiria e não só.
Mas há outros projetos na Assiste que visam reforçar a resposta que dá à população, cada vez mais envelhecida.
“Temos falado no reforço da resposta do Apoio Domiciliário. Não é transformá-lo num SAD alargado, mas caminhar para um SAD mais completo, em que durante a noite haja um reforço da equipa com pessoal com conhecimento médico e de enfermagem. Queríamos melhorar e aumentar o tipo de serviços que prestamos, especialmente integrar nas equipas a vertente clínica, para fazer um trabalho de qualidade e mais completo. E pensamos que esse é o próximo passo a dar”, defende o diretor-técnico, explicando que esse tem sido um propósito da instituição subjacente à formação que é dada aos colaboradores: “A instituição aposta muito na formação dos funcionários e temos tido de forma exaustiva sessões de formação, na área da saúde inclusive. Fizemos uma aposta na Tipologia 2.6, que é mais voltada para os conhecimentos da área da saúde e fomos das poucas instituições contempladas com esse programa. Fizemos uma formação bastante exaustiva, mas continuam a ser auxiliares de ação direta, não são pessoas com conhecimentos de enfermagem”.
Esta aposta na formação tem um objetivo muito claro, como refere Alberto Achando: “Os últimos dois anos e meio foram repletos de ações de formação do pessoal, porque assim se melhora o serviço e as pessoas ganham mais confiança na instituição. Temos vindo a crescer lenta mas sustentadamente. Começámos com pouca gente e, quando esta Direção entrou em funções, há quatro anos, apostou na formação do pessoal e no alargamento das respostas”.
Nesse sentido há uma outra ideia a fervilhar nos dirigentes da Assiste e que passa pela criação de uma Escola de Pais.
“É um projeto a curto prazo para dar algum apoio e formação às famílias. Dar-lhes competências para lidar com os mais diversos problemas e situações da vida atual. E isto não se cinge aos pais, pois a ideia é ser extensível aos cuidadores que estão em casa a tratar de dependentes. Pequenas coisas que podem fazer uma grande diferença na qualidade de vida dos que são cuidados”, argumenta Sérgio Marto.
A abertura da instituição à comunidade tem sido outra aposta da Direção, através da qual tem realizado alguns eventos, como noites de fado e outros, com um propósito bem definido: “O dinheiro angariado não serve para a gestão corrente da instituição, mas para comprar equipamentos novos para uso dos utentes. Já conseguimos comprar duas camas articuladas e a próxima aquisição é uma grua de transferência de dependentes”.
Neste âmbito, a Direção criou há três anos o Dia da Assiste, sempre em junho, que consiste num almoço de confraternização para reforço das relações com a comunidade.

Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)

 

Data de introdução: 2014-11-13



















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