OPINIÃO

A Ucrânia, a Europa e a Rússia, por A.J.Silva

Nos tempos que correm, não se pode dizer que a imagem da União Europeia esteja propriamente em alta. É verdade que alguns dos países que dela fazem parte resistiram bastante bem à grande crise económica e financeira de 2008, mas esta provocou entre muitos dos seus cidadãos um forte sentimento de temor e desconfiança, face ao presente e ao futuro. Embora devendo saber que os efeitos da crise seriam ainda mais graves num outro contexto que não fosse o da União, o facto é que o desânimo e o medo foram suficientes para muita gente se questionar acerca das vantagens da sua nova condição de membros de uma Europa unida.
O número de entusiastas incondicionais da União diminuiu sensivelmente, e aumentou o número dos eurocépticos e daqueles que, por razões nem sempre coincidentes, se tornaram antieuropeístas assumidos. Em alguns dos seus estados membros, não faltou mesmo quem levantasse a hipótese de um possível abandono. É verdade que tudo isto nunca passou de uma ameaça, mas o simples facto de se ter colocado uma tal hipótese diz bem de como a construção da Europa deixou de ser uma prioridade para grande parte dos seus cidadãos.
Vem isto a propósito das tensões sociais e políticas que vêm ocorrendo na Ucrânia, durante as os últimos tempos. Dir-se-ia que, enquanto em muitos dos países membros da União se assiste a uma diminuição visível do europeísmo, este sentimento é partilhado de forma impressionante por grande parte de uma nação que pertenceu ao bloco soviético até há poucos anos, e cujos habitantes parecem dispostos a tudo para que o seu governo se aproxime da União Europeia, em detrimento da Rússia.
Os acontecimentos de Kiev trouxeram à memória os dias da chamada “revolução laranja”, do ano de 2004, quando esta era liderada por Julia Timochenco, uma figura carismática que hoje assiste da prisão à segunda tentativa de afirmação do seu país face à Rússia do todo poderoso Vladimir Putin. Será talvez uma tentativa inglória porque, entre as muitas armas de que dispõe, este pode sempre ameaçar os ucranianos europeístas com uma nova guerra do gás, como a que ocorreu em 2006. E nem mesmo a União Europeia tem capacidade para proteger os ucranianos dos efeitos de uma tal guerra.
De qualquer modo, constitui uma verdadeira surpresa assistir à aparente contenção de Yukanovitch, um presidente pró-russo, que tem evitado, pelo menos até agora, responder pelas armas às pressões dos europeístas, evitando assim a eclosão de uma verdadeira guerra civil. No entanto, mais surpreendente ainda será o comportamento de Vladimir Putin, que tem evitado, até ao momento, imiscuir-se, pelo menos publicamente, no drama que se vai desenrolando em Kiev…

António José da Silva
ajsilva1@sapo.pt

 

Data de introdução: 2014-02-04



















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