OPINIÃO

Fanatismos

O fanatismo é sempre irracional, embora se admita que a dose dessa irracionalidade possa variar. No entanto, há um fanatismo particularmente ameaçador: é aquele que se fundamenta em motivações religiosos, ou então em ideologias políticas que se podem considerar “religiosas”, mesmo quando são o seu contrário. Veja-se a história ainda recente do comunismo. Quando se sacralizam, as ideologias tornam-se doentiamente intolerantes e irracionais.

A este propósito, e se nos reportarmos à actualidade, poderá dizer-se que o grau supremo do fanatismo pode ser atribuído ao comportamento dos chamados talibãs, habitem eles no Afeganistão ou no Paquistão. O “talibanismo”, é um nome que ainda não se usa para designar uma ideologia, sobretudo porque tem ainda um carácter demasiado étnico e geográfico, mas talvez não demore muito a integrar a lista das ideologias mais radicais. De qualquer modo, já se classificam de talibãs aqueles que, no mundo de hoje, copiam o seu estilo da actuação social e política, independentemente de serem ou não islâmicos e independentemente da região em que vivem.

Vem isto a propósito das últimas notícias que chegaram do Paquistão, na sequência das trágicas inundações que devastaram o sul deste país muçulmano. O secretário geral da ONU considerou que este desastre natural teve consequências ainda mais graves do que o terramoto do Haiti e o tsunami de 2004 que atingiu vários países asiáticos. Por isso, Ban Kin Moon laçou um apelo desesperado a todos os países do mundo no sentido de acorrerem em auxílio dos milhões de pessoas desalojadas, e ameaçadas, no imediato e no futuro, pela fome, pela doença e pela falta de habitação. O governo paquistanês não tem possibilidades de acudir, minimamente, a todas as vítimas desta imensa tragédia.

Apesar de tudo, e não obstante a lentidão das respostas, o apelo do secretário geral da ONU teve um eco significativo, e as ajudas foram chegando em quantidades crescentes e a um ritmo cada vez mais veloz. Como sempre acontece, foi no mundo ocidental que o apelo de ki Moon teve maior receptividade, ou não se tratasse da área geográfica e política mais rica do mundo.

O Paquistão não tem possibilidades de valer a todas as vítimas desta imensa tragédia. O seu governo e o seu povo esperam da Europa e da América do Norte o auxílio que atenda ao presente e lhes garanta a esperança no futuro. Ora, foi precisamente neste cenário que a opinião pública internacional tomou conhecimento de que os militantes talibãs fizeram saber aos cidadãos que foram vítimas desta terrível desgraça que não deviam aceitar ajudas ocidentais e, que, de qualquer modo, haveriam de as impedir pela violência e pela guerra! Pelos vistos, o ódio é um sentimento que supera, de longe, o instinto da solidariedade.
O fanatismo é sempre irracional, mas neste caso como noutros em que os talibãs se envolvem, bem se pode dizer que a irracionalidade supera todas as expectativas.

António José da Silva

 

Data de introdução: 2010-09-08



















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