JOSÉ A. DA SILVA PENEDA

Todos temos a nossa cruz

“Todos temos a nossa cruz” é uma frase popular que a todos nos condiciona e é inerente à condição humana. Nenhum ser está imune a sofrimentos, sejam eles dos próprios ou de outros. Esses sofrimentos estão associados a problemas diversos, sejam de injustiças de toda a natureza, de saúde, de relacionamento com os outros, começando pela família, financeiros e morais. São, como diz o povo, as nossas cruzes.

Alguns desses problemas curam-se com o tempo, sem necessidade de grande esforço humano mas outros, normalmente aqueles que todo o dinheiro do mundo não resolve, só podem ser vencidos pela força da vontade humana, pela crença, pela fé inabalável de quem sente que é capaz de ultrapassar todas os obstáculos, por maiores que se apresentem. Aqui, a componente que ajuda a vencer tem muito pouco ou nada de material e tem tudo, quase tudo, de espiritual. A componente que ajuda a vencer está muitas vezes para além do estritamente racional e beneficia de ingredientes que só se podem encontrar no domínio das vontades esclarecidas, das emoções mais sentidas e dos sentimentos mais profundos. O desporto dá-nos muitos exemplos bem impressivos deste tipo de casos, em que o sucesso está, na maior parte dos casos associados a fatores que estão para além do talento.

Para além das cruzes de cada um também há cruzes coletivas que podem afetar uma região, um país ou todo o planeta. É sobre estas que quero deixar uma nota.

Existem, a nível global e no nosso tempo, duas cruzes muito difíceis de suportar e, cada dia que passa, pesam mais. Refiro-me às mudanças climáticas e às desigualdades de rendimento e de riqueza. Para uma abordagem eficaz, qualquer delas exige condições muito difíceis de preencher. Primeiro, teria de ser construído um muito elevado nível de cooperação entre países e dirigentes políticos, a nível mundial. Sem a construção de um edifício desta natureza todos os esforços serão inúteis. Trata-se de problemas globais que exigem soluções globais. Segundo, porque se trata de questão política e, tal como nas cruzes individuais, são precisas vontades esclarecidas, o que pressupõe a existência de convicções robustas, que não variam com modas passageiras e resistem à tentação de trilhar os caminhos mais fáceis, imediatistas, de efeitos de curto prazo e efémeros e que são, normalmente, do agrado de plateias pouco exigentes.

Os tempos recentes mostram que o mundo ainda não se encontra em condições para enfrentar estas duas cruzes. A questão é cultural e política. Cultural, porque não se foi capaz de generalizar uma consciência coletiva que expresse o sentimento de urgência que os dois tipos de cruzes exigem. Política, porque os principais agentes parecem demasiadamente focados em lutas que vão conduzindo progressivamente a tendências isolacionistas, que é precisamente o contrário do que hoje se torna necessário. Este é o maior obstáculo para transformar para melhor, como diz o Papa Francisco, a nossa “Casa Comum”.

A atividade política é hoje muito condicionada por empurrões que surgem de todo o lado, o que faz com que os caminhos traçados se façam aos zigue-zagues, para a frente e para trás, sem uma orientação firme e clara. Esta miopia política não deixa ver mais longe e não deixa que se perceba todas as consequências das decisões tomadas.

Este é o grane problema da nossa casa comum. Porque há que ter a capacidade para analisar as consequências dessas decisões para além do imediato, era bom que os agentes políticos atassem os seus arados a uma estrela.

 

Algarve, 7 de Setembro de 2019

José Albino da Silva Peneda

 

Data de introdução: 2019-09-11



















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