OS PIONEIROS – ASSOCIAÇÃO DE PAIS DE MOURISCA DO VOUGA, ÁGUEDA

É fundamental criar uma resposta para as pessoas ainda autónomas e que precisam de apoio

Sedeada em Mourisca do Vouga, concelho de Águeda, a Associação «Os Pioneiros» tocam todas as áreas das respostas sociais, mas é a Aldeia Social o grande trunfo da instituição na abordagem do futuro. Apresentando as casinhas autónomas como a resposta de futuro para idosos ainda autónomos e para quem as ERPI, “que mais parecem Unidades de Cuidados Continuados”, não são solução, o presidente da instituição exige que o legislador olhe atentamente para esta solução e a enquadre devidamente na legislação da proteção social.
“Os Pioneiros foram sempre uma associação muito ativa e sempre tiveram uma atitude de crescimento. Eu cheguei há 10 anos, já isto era uma grande instituição, que tem crescido bastante bem. Nasceu de uma associação de pais perante a necessidade de aproveitamento dos tempos livres quando as crianças saíam da escola”, recorda o atual presidente José Carlos Arede.
Os Pioneiros – Associação de Pais de Mourisca do Vouga é uma IPSS do concelho de Águeda, nascida numa localidade pertencente à freguesia de Trofa, hoje União de Freguesias de Trofa, Lamaçães e Lamas do Vouga, em 1985.
“Neste momento toca quase todas as valências da infância e da terceira idade, resume o presidente da instituição, lembrando que “há cerca de dois anos começou também a trabalhar a área da deficiência, para já com uma Residência Autónoma, pequenina, para cinco pessoas, e ainda há um projeto de CAO, já com equipamento preparado”.
Alexandra Alves, diretora-técnica da instituição, lembra os marcos da história d’Os Pioneiros: “A seguir ao ATL, a resposta que a associação implementou foi o Centro de Convívio. Havia muitos idosos na freguesia que precisavam apenas de um ponto de encontro, pois eram bastante autónomos e independentes. Até nessa questão o nosso percurso é um pouco diferente das outras IPSS, que começam com aquelas respostas mais tradicionais, o Centro de Dia e o Lar, mas nós arrancámos com o Centro de Convívio e, a partir daí, é que surgiu o Centro de Dia, depois o Serviço de Apoio Domiciliário e, só mais tarde, o Lar”.
Por outro lado, a técnica lembra que “igualmente importante foi a vinda para o atual edifício, em 1997, porque a instituição nasceu em duas casas muito pequenas e velhas”, recordando ainda que, “nessa altura, as respostas eram, na infância, o infantário e o ATL e, na terceira idade, o Centro de Convívio, o Centro de Dia e o SAD, pois o Lar abriu apenas em 2001”.
Para o presidente José Carlos Arede, “a instituição tem tido um crescimento sustentado e atualmente abrange as três freguesias de Trofa, Segadães e Lamas do Vouga, que com a união de freguesias acabou por ficar a ser apenas uma”, acrescentando: “A instituição de alguma forma até foi o epicentro disto, porque sempre teve a sua área de intervenção nestas três freguesias e quando houve esta junção, nem Segadães, nem Lamas do Vouga, tinham qualquer IPSS”.
Após 2001, “o grande passo foi o avançar com a ERPI e, em 2010, com a implementação do projeto das casinhas”, acrescenta.
Servindo uma população “de baixos rendimentos, na maioria população rural, com baixas reformas”, e “apesar de haver muita indústria, os utentes eram operários, pelo que os rendimentos são baixos”, sublinha José Carlos Arede.
A isto, Alexandra Alves acrescenta que “o facto de Águeda ser um concelho muito industrializado levou a que muitas pessoas migrassem para cá à procura de trabalho, mas onde não tinham raízes nem família de apoio”. Depois, “a maioria era mão-de-obra não qualificada o que, hoje, na reforma leva a que tenham rendimentos baixos”, o que acaba por condicionar a ação da instituição.
“Bem, as mensalidades são em função dos rendimentos e, como são baixos, temos que fazer uma gestão apertada, até porque não estamos numa grande cidade, onde há mensalidades muito mais altas”, sustenta José Carlos Arede, acrescentando: “Temos que perceber que vivemos no mundo rural, onde muitas pessoas têm uma reforma social, portanto, temos que fazer uma gestão criteriosa e adaptada a esta realidade”.
A realidade d’Os Pioneiros é que tem crianças em creche e idosos em SAD que estão fora do acordo de cooperação, “mas as mensalidades são calculadas como se estivessem protocolizados”, garante o presidente.
“Temos que nos saber reinventar. As IPSS estão a passar um momento terrível, até porque só recentemente, já depois de meio ano decorrido, se soube qual seria o valor da comparticipação do Estado. Entretanto, aumentámos os funcionários, o que representou um impacto de 3.700 euros, e estivemos meio ano sem receber mais nada. Vivemos tempos difíceis e sei, pelas funções na UDIPSS Aveiro, que 40% das nossas instituições estão à beira da falência técnica. Não é o caso da nossa, mas vamos sobrevivendo com algumas dificuldades. Felizmente, não temos nenhum ano em que não tenhamos um valor de cerca de 140 mil euros em donativos, o que ajuda, e muito, a instituição a sobreviver. Sem este complemento era muito difícil”, revela o presidente, especificando: “Temos ainda recebido algumas doações de património, que nunca vendemos, mas que requalificamos e devolvemos à comunidade com rendas sociais. Temos assim 13 casas no âmbito do SAAS”.
No entanto, o momento presente do Sector Social Solidário não deixa José Carlos Arede descansado: “O que eu temo é que quando começarem a desencadear-se os problemas nas IPSS, e a sê-lo será em cadeia, o Governo não consiga fazer nada. Há instituições a pedir financiamento à banca para pagar salários e isto é algo que não devia acontecer. Isto torna a situação das instituições insustentável”.
Apesar da vida não ser fácil, Os Pioneiros é uma instituição que olha para o futuro com ambição.
“Somos sonhadores e, nesta área social, temos que ser um bocadinho sonhadores, senão não crescemos, nem respondemos às necessidades. É preciso ter visão de futuro e ir muito além do que é uma resposta típica para a Segurança Social. E nesse capítulo temos feito jus ao nosso nome, pois temos sido sempre pioneiros”, defende José Carlos Arede, que avança com alguns dos projetos que a instituição pretende pôs em marcha: “Em dezembro, abrimos a Residência Autónoma, para a qual estabelecemos um acordo de cooperação. Temos no PROCOOP uma candidatura para CAO, para 30 utentes, e ainda uma outra para uma resposta atípica e que consideramos muito inovadora que é a aldeia social, ou seja, as casinhas autónomas”.
Este é, de facto, um projeto inovador, abraçado ainda por poucas instituições, mas que o presidente d’Os Pioneiros considera como fundamental para o futuro, que se quer já… ontem: “É urgente o legislador perceber que a realidade mudou. Os lares de há 30 anos são muito diferentes dos de hoje. É que dantes as pessoas entravam ainda com mobilidade, agora quem consegue vaga no lar já está num estado de dependência muito elevado e com mais idade. O nosso lar tem 80% de pessoas acamadas, o que dificulta o trabalho dos nossos trabalhadores e exige, desde logo, uma equipa maior. Depois, é extremamente difícil trabalhar com estes utentes. A razão das casinhas tem que ver com o facto de hoje os nossos lares serem quase Unidades de Cuidados Continuados. E quem ainda é autónomo e quer ir para um lar, quando faz uma visita, apesar de as pessoas serem muito bem tratadas, fica com uma imagem muito negativa. É de facto uma visão deprimente!”.
Por isso, José Carlos Arede reforça que “é importante que o legislador olhe para isto e perceba que é preciso criar uma resposta social para estas pessoas, que lhe chame o que quiser, casinhas autónomas, pré-lar, ante-lar, aldeia social, cohousing, mas, importante, é criar uma resposta para antes do lar para as pessoas que são autónomas, mas que não têm retaguarda familiar”.
Por outro lado, “essa visão deprimente tem-na também a família, mas esta não tem outra alternativa”, refere, defendendo: “Por isso, é fundamental criar uma resposta que anteceda a ERPI. Com a mediatização desta resposta das casinhas autónomas, fomos visitados por muitas instituições. No entanto, há aqui um problema que se prende com o enquadramento legal das casinhas. Esta é uma situação que está a ser empurrada com a barriga, porque em termos de legislação há muito que fazer. Não estamos ilegais, mas precisamos de enquadramento legal para esta resposta, que é cada vez mais necessária. E é uma resposta sustentável, porque num lar os grandes custos são com o pessoal, por causa dos turnos, mas na aldeia social, como são pessoas autónomas, só precisam da equipa durante o dia e, depois, é rentabilizar os serviços da instituição, esticando-os um pouco para apoiarem estas pessoas”.
Para Alexandra Alves, “com o envelhecimento da população e o aumento da esperança de vida, as necessidades e os problemas nesta franja da população são completamente diferentes do que eram há 30 anos”, considerando que “há falta de vontade política para criar essa resposta social e torná-la típica”.
E como seria Mourisca do Vouga sem Os Pioneiros?
“Bem, logo à partida, Os Pioneiros é o maior empregador da freguesia, para além da importância no apoio à população, pois começamos nos bebés e vamos até ao fim da linha da vida. Seria, seguramente, mais pobre, mais desprotegida, com mais problemas de ordem social”, defende José Carlos Arede.
Atualmente, Os Pioneiros acolhem, em creche 75 bebés, em Pré-escolar 44 petizes, em CATL 47 crianças, em Centro de Convívio 30 utentes, em Centro de Dia 37, em ERPI 32 idosos e, nesta área da Terceira Idade, ainda 52 em SAD. Neste âmbito, e no seu projeto pioneiro da Aldeia Social, a instituição apoia 17 utentes.
Para além disto, e já não é pouco, a instituição acompanha 24 famílias no âmbito do RSI, mais de 100 famílias no SAAS, cerca de 70 pessoas em termos de ajudas técnicas e ainda assegura, com sete professores, as AEC de 190 alunos no Centro Educativo de Trofa.
Para além destas respostas, fruto do património doado, a instituição proporciona 13 habitações na União de Freguesias a outras tantas famílias a renda social.
Isto, tudo com o empenho de uma equipa de cerca de uma centena de funcionários.

Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)

 

Data de introdução: 2019-09-04



















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