Há 400 mil potenciais duplicações de inscrições nos Centros de Saúde

Depois de o ministro da Saúde ter avançado com a promessa de que todos os portugueses vão ter médico de família, a limpeza de ficheiros em curso nos cerca de 400 centros de saúde do país permitiu já detectar perto de 400 mil potenciais duplicações de inscrições de utentes. Havia mesmo uma pessoa que tinha 15 cartões de utente, segundo adiantou um responsável do Instituto de Gestão Informática e Financeira (IGIF) do Ministério da Saúde.

Apesar dos centros de saúde estarem equipados há mais de uma década com uma aplicação informática comum - o sistema de informatização nacional de unidades de saúde (Sinus), que gere as inscrições e a agenda de marcações de consultas -, as bases de dados não estão ligadas entre si. Para detectar as duplicações foi necessário reunir as quatro centenas de bases num sistema centralizado. O responsável pela informática no IGIF fez, todavia, questão de sublinhar que as duplicações detectadas podem não ser todas reais. Por exemplo, há pessoas que têm exactamente o mesmo nome e que surgem como duplicados.

Por isso é que as listas das potenciais duplicações foram enviadas há algumas semanas para as administrações regionais de saúde e já este mês houve uma reunião com todos os directores dos centros de saúde em que foram dadas instruções para que readequassem as listas dos médicos a esta nova realidade, explicou o adjunto do ministro, António Mocho. Agora, cabe a cada centro perguntar aos utentes registados em mais de um local por qual deles pretendem optar.

O expurgo das duplicações nas inscrições e dos óbitos não abatidos vai permitir identificar vagas nas listas dos médicos de família, os quais, em teoria, deveriam ter 1500 utentes a seu cargo cada. Mas a limpeza de ficheiros não será suficiente para resolver o problema: um levantamento efectuado há dois anos pelo Ministério da Saúde indicava que mais de um milhão de portugueses não tinha médico de família. Seja como for, após um primeiro expurgo de óbitos, o total de inscritos nos centros de saúde é actualmente de 10,643 milhões de utentes, o que ultrapassa nalgumas centenas de milhar a população residente em Portugal.

O número de duplicações não surpreende o presidente da Associação Portuguesa de Médicos de Clínica Geral, Luís Pisco, ainda que seja considerado exagerado por outros especialistas. "Se foram emitidos 11 milhões de cartões de utente (desde 1997) e uma vez que há muitas pessoas que não possuem cartão, é natural que as duplicações abundem", observa. Uma recolha efectuada em Setembro passado na Sub-Região de Saúde de Braga permite perceber que, pelo menos naquele distrito, o problema não atinge uma dimensão tão preocupante: para um total de 900 mil inscritos, havia 7665 duplicações, permanecendo dúvidas relativamente a mais 9680 casos.

Foi graças à necessidade de cada utente ter um cartão do Serviço Nacional de Saúde que os balcões de atendimento dos centros de saúde foram informatizados. Os utentes começaram a inscrever-se a partir de 1997 e cada sub-região de saúde foi desenvolvendo a sua própria estratégia na tentativa de completar o processo rapidamente. Nessa altura, já se falava na duplicação de inscrições, em óbitos não abatidos aos ficheiros e em erros de registo

 

Data de introdução: 2005-01-30



















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