A.I.T.I. ERVEDOSA DO DOURO

A grande necessidade é um Lar de Idosos

Que fazer com uma senhora só, de 90 anos, acamada, que, ”ainda para mais, teve quatro filhos e as noras não querem saber dela”, e que não tem o mínimo de condições para viver em sua casa?
“As pessoas não são um bem descartável” é a certeza de Joaquim Monteiro, presidente da Associação para a Infância e Terceira Idade de Ervedosa do Douro (AITIED), cujo grande sonho é construir um Lar Residencial para acolher com dignidade quem necessita.
“Há pessoas que começaram no Apoio Domiciliário e no Centro de Dia, que, entretanto, ficaram acamadas e que não podemos mandá-las embora ou enterrá-las vivas… Temos que as acarinhar e levá-las até ao seu fim de vida com o mínimo de dignidade”, defende, revelando que a instituição vai encontrando formas criativas de (tentar) solucionar os problemas: “E é isso que nos dá força. Há pessoas que nos impedem de atingir os nossos objectivos, mas nós arranjamos sempre soluções e estamos a prestar um óptimo serviço”.
Desde o arranque da instituição, formalmente em 1993, mas no terreno apenas uma década depois, que o grande anseio é a construção de um Estrutura Residencial para Idosos. Contudo, 100 mil euros, em terreno e projecto, e diversas candidaturas ao PARES e POPH depois, a AITIED ainda não conseguiu aprovação de fundos para a criação do tão almejado e, como dizem os responsáveis pela instituição, tão necessário Lar.
“Temos lista de espera bastante grande para o Serviço de Apoio Domiciliário e uma solicitação muito grande para a resposta de Lar”, começa por dizer a directora-técnica Alexandra Vilas Boas, acrescentando: “Conseguimos colmatar algumas dessas necessidades com o Apoio Domiciliário, especialmente as mais prementes e mais urgentes, e naquelas a que não conseguimos chegar diariamente, devido à distância, temos colmatado com o empréstimo de ajudas técnicas aos familiares”.
Ervedosa do Douro, concelho de S. João da Pesqueira, é uma freguesia rural, com cerca de 1300 habitantes, conhecida como «a rainha do vinho generoso», sendo a maior produtora de vinho do Porto, mas cuja população tem envelhecido um pouco à semelhança de todo o Interior do País, até porque os jovens há muito que emigram.
“Ao início as pessoas não acreditavam muito no projecto, até porque não havia Lar… As pessoas daqui estão habituadas a trabalhar até muito tarde, há pessoas com 70 e muitos anos e até com 80 que ainda trabalham, e quando ficam sem forças, digamos assim, querem um lugar para ficar, que seria um Lar”, sublinha o presidente da AITIED, recordando: “Não foi um início fácil, mas fomo-nos impondo ao longo do tempo e pensamos, enquanto Direcção, que prestamos um bom serviço à população. Não somos uma instituição que prime pela beleza e pelo luxo, mas em termos da resposta às necessidades e a preços baixos prestamos um serviço óptimo. E quando começámos encontrámos situações muito degradantes nesta terra”.
A luta por um Lar vai continuar e Joaquim Monteiro acredita que ele será construído, por ele ou por quem lhe suceder, mas o que lamenta é o que tem travado o sonho da AITIED.
“Não devia ser, mas a política, muitas vezes, sobrepõe-se à necessidade de servir melhor as populações”, começa por dizer, explicitando um pouco mais: “A rivalidade antiga entre Ervedosa do Douro e S. João da Pesqueira subsiste, mas hoje são outros interesses que se manifestam e, depois, tem que ser sempre tudo para a sede de concelho… Antigamente era tudo para as Misericórdias, agora é tudo para as sedes de concelho”.
Actualmente, a instituição, que tem um corpo de 31 funcionários, apoia 37 pessoas através do Serviço de Apoio Domiciliário, acolhe 21 em Centro de Dia e, desde 2009, no, denominado, «Palácio da Fantasia», 33 crianças em creche, apoiando ainda algumas crianças em ATL, em regime pontas, estrutura criada nas antigas instalações da tele-escola.
“E a preços baixos, porque estamos numa região essencialmente agrícola em que as reformas são baixas… Não ganhamos dinheiro, mas dá para o dia-a-dia e para pagar o que devemos”, reforça Joaquim Monteiro, que sublinha a quebra de rendimentos que a freguesia tem sentido: “Ervedosa do Douro vive do vinho e da vinha. E aumentou a quantidade de vinha, mas diminuiu a receita pela maior quantidade de vinho que se produz na freguesia… Os agricultores estão com metade da receita de há sete, oito anos. Isso cria problemas às pessoas, que têm menos dinheiro e muita gente emigrou e continua a emigrar, logo há um esvaziamento de população”.
Tal como noutros pontos do País, a quebra de rendimento das famílias repercute-se na vida da IPSS localizada no Alto Douro Vinhateiro.
“Como instituição, até à data, não temos problemas, mas já há pessoas que não pagam as comparticipações que deviam. Na creche há pais que têm mensalidades muito atrasadas e damos de comer a muita gente. Ainda vamos podendo, mas é com muita dificuldade, temos muitas dores de cabeça, porque precisamos de meios para prestar os serviços necessários à população, mas os meios são cada vez mais escassos e as solicitações muitas”, sustenta Joaquim Monteiro, ao que acrescenta Alexandra Vilas Boas: “Especialmente de jovens… Há famílias e pessoas que viviam sozinhas, na faixa etária dos 40, 50 anos, que nos solicitam ajuda, principalmente, na parte alimentar, mas também em serviço de lavandaria e outros… Têm-nos aparecido casos muito complicados”.
Mesmo assim, o presidente da instituição, que se fez sempre acompanhar do «vice» Telmo Fernandes, assegura que a AITIED não está com a saúde financeira em risco.
“Para os tempos que correm, estamos bem. O que devemos, vamos pagando, mas está tudo controlado… Por vezes, parece um milagre a forma como arranjamos o dinheiro necessário, mas o que devemos é apenas o empréstimo que fizemos para a construção da creche, tendo agora recorrido à Linha de Crédito criada para ajudar instituições que construíram equipamentos… Não temos dinheiro de sobra, mas está tudo controlado”, afirma Joaquim Monteiro, que deixa mais uma crítica: “Acredito que somos ajudados, mas não por aqueles que nos deviam ajudar, que é o poder local e distrital”.
E se a prioridade é dada aos habitantes da freguesia, a verdade é que a instituição já ultrapassa os seus limites no apoio que presta.
“Não trabalhamos apenas a área da nossa freguesia. Começámos pela freguesia apenas, mas agora abrangemos áreas limítrofes, servindo pessoas de outras freguesias e até de outros concelhos. Por exemplo, a creche acolhe crianças das freguesias vizinhas de Trevões, Vilarouco, Soutelo do Douro, Nagozelo do Douro e Valongo dos Azeites”.
Relativamente à creche, e levando a cabo uma política que procura ir de encontro às necessidades, a AITIED pratica um horário e presta um serviço na creche que o seu presidente acredita “ser inédito no País”.
“A creche abre às 5h30 da manhã e na altura da vindima está aberta durante todos os dias da semana. Fazer uma creche para horário de funcionário público, no meio rural, não faz muito sentido… Temos que prestar o apoio a quem necessita e olhando ao meio em que estamos inseridos”, defende, explicando: “As pessoas agora começam a trabalhar às 7h00, mas no Verão é às 6h30 e com a falta de trabalho que há, o que aparece é agarrado com unhas e dentes. E as pessoas para irem trabalhar têm que deixar os filhos em algum lado… Temos duas carrinhas que saem da creche às 4h30 da manhã e às 5h45 chegam com as primeiras crianças. E há outras crianças que saem às 19h00, porque também há aqueles pais que não têm os horários da agricultura”.
Esta adaptação dos serviços às necessidades estende-se igualmente ao Serviço de Apoio Domiciliário.
“O problema de grande parte destas pessoas é o isolamento e o que elas querem e, realmente, necessitam é de vir para Lar… Como este não existe, há pessoas que passam aqui o dia e à noite ficam em duas casas alugadas aqui no centro da freguesia em condições óptimas e vigiadas por uma funcionária. É uma forma de colmatar a falta que nos faz a estrutura Lar, que seria para 33 utentes, que desejávamos e que não conseguimos a aprovação por razões que ainda estão muito mal explicadas”, confessa Joaquim Monteiro.
Sobre o futuro, o sonho mantém-se, mas os responsáveis pela AITIED não pretendem desistir e para continuar a servir a população e a responder às suas necessidades estão dispostos a continuar a ser criativos.
“Se entretanto não tivermos a possibilidade de construir um lar, pretendemos arranjar casas para prestar outro tipo de apoios. Aliás, estamos em negociações com a Caixa Agrícola por um espaço muito agradável que eles têm para fazer um espaço social para as pessoas que já não cabem aqui”, sustenta Joaquim Monteiro, que, questionado como seria Ervedosa do Douro sem a AITIED, atira de pronto: “Muitas das pessoas que aqui estão e que atingiram os 80 anos já tinham morrido à fome e ao frio… Nas crianças, a maior parte dos pais não podia trabalhar”.

Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)

 

Data de introdução: 2013-03-23



















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