CENTRO SOCIAL DO CANDAL-MARCO

Arranjámos um vírus que pode alastrar

Em Setembro de 2012, e com um ano de atraso, o Centro Social do Candal-Marco, em Vila Nova de Gaia, inaugurava uma nova creche, o Jardim da Régia, adaptando um edifício devoluto, a escassas centenas de metros do edifício-sede da instituição, o Jardim das Camélias.
Na nova creche a instituição acolhe 33 bebés, do total 78 que frequentam esta valência. No sentido de dar continuarem a acolher as crianças que chegadas aos três anos necessitam de resposta em pré-escolar, o Centro do Candal criou mais duas salas no Jardim das Camélias, estando uma já em pleno funcionamento. Só que os responsáveis pela instituição deparam-se actualmente com um problema, para o qual não têm para já uma resposta, vendo o equilíbrio financeiro da instituição posto em causa, pela falta de Acordo de Cooperação com a Segurança Social e DREN para estas duas novas salas.
“Na planificação que fizemos e orçamentámos a médio prazo, estaríamos seguros e a sustentabilidade também seria conseguida com essa comparticipação estatal, mas, neste momento, essa parcela não existe e temos uma perna manca que desequilibra a mesa… Agora, quando é que a mesa tomba é que não sei”, lamenta Manuel Santos, presidente da instituição há mais de três décadas, que recorda como decorreu todo este processo de crescimento do Centro: “Foi através do PARES e do Programa de Alargamento da Rede do Pré-escolar que construímos a nova creche, que é o Jardim da Régia e ao mesmo tempo criámos mais duas novas salas para o pré-escolar. Este alargamento tem que ver com o plano de gestão, porque como abrimos uma nova valência de creche ao fim de três anos teremos um grupo de crianças a precisar de um novo espaço. Como não tínhamos, e pensando a médio prazo, criámos esse novo espaço de duas salas de pré-escolar para receber as crianças da nova creche. O que nos está a preocupar é o que se vai passar com o pré-escolar, porque neste Protocolo a Segurança Social diz que não mexe nesta resposta, mas não faz referência nenhuma ao que pretende fazer”.
O líder da instituição esclarece que a aposta de crescimento nunca descurou a sustentabilidade da mesma, mas o atraso na conclusão da obra, primeiro, e a falta de apoio estatal, antes e agora, está a colocar obstáculos a que a mesma se concretize.
“A dificuldade que temos em mãos, neste momento, é criarmos a sustentabilidade na instituição. Primeiro, tivemos diversos problemas com a construção da nova creche, pois o empreiteiro está em pré-falência, o que atrasou a obra em um ano. Ora, com a previsão que tínhamos de as obras ficarem prontas em Setembro de 2011, fomos admitindo crianças e quando chegou a altura de abrir a obra não estava pronta. A solução encontrada passou por utilizar espaços que tínhamos aqui no Jardim das Camélias, mas durante quase um ano não recebemos o subsídio, apesar das entidades oficiais saberem que tínhamos efectuado esta espécie de remendo. Como não tínhamos o novo edifício não podiam fazer o Acordo de Cooperação, pelo que tivemos que suportar os custos inerentes a essas crianças durante um ano. Só que agora temos um novo problema com o pré-escolar… Já tínhamos as duas novas salas concluídas e colocámos as crianças que transitaram da creche numa dessas salas. Só que, apesar de a obra estar vistoriada e com todos os requisitos necessários, não há acordos de cooperação, o que nos levanta uma nova dificuldade. Não havendo protocolos não existe nenhuma espécie de comparticipação, nem da Segurança Social, nem da DREN, e isto é um peso muito grande que a instituição está com dificuldades em suportar”.
É grande a preocupação dos dirigentes do Centro Social do Candal, porque, neste momento, são mais de cinco mil euros/mês que a instituição está a suportar pelas 22 crianças da nova sala, uma despesa não prevista.
A instituição, que se dedica exclusivamente ao apoio à infância, acolhe no Jardim das Camélias, 45 crianças em creche, 88 em pré-escolar e ainda 57 em ATL, laborando com um corpo de meia centena de funcionários.
Foi no ido ano de 1975 que a instituição nasceu, ainda sem a actual designação, por acção de uma comissão de moradores que ocupou a devoluta Quinta das Camélias e onde, ao longo dos anos, a instituição foi crescendo, servindo uma população bastante heterógenea e fiel. “Já temos aqui um neto de uma antiga utente”, refere o líder do Centro.
“As dificuldades foram tremendas até 1982, altura em que conseguimos o acordo com a Segurança Social, legalizámo-nos e, a partir daí, passámos a ter subsídios, a ter os recursos humanos devidos e a fazer o percurso de crescimento”, recorda Manuel Santos, sublinhando: “Agora estamos nestas instalações, mas isto era uma antiga quinta que estava abandonada e que teve que ser toda recuperada. Esses custos é que foram a situação mais difícil. Entretanto, a Junta de Freguesia e a Câmara foram apercebendo-se do trabalho que íamos aqui fazendo e foram-nos auxiliando. Fomos crescendo com uma gestão muito rigorosa e que tem a qualidade como grande objectivo”.
O presidente sustenta que a vida da instituição nunca foi fácil, mas o futuro apresenta-se como uma grande incógnita.
“Dificuldades durante estes períodos houve sempre, porque foram tudo obras sempre a contar tostões, pois nestas casas nunca sobra nada”, recorda, apontando, agora, a crise que o País atravessa para renovadas dificuldades: “Nas reuniões semanais de Direcção somos sempre confrontados com pedidos de reanálise das mensalidades”.
Ainda sobre o problema que têm em mãos, Manuel Santos frisa que não foi por luxo que criaram os novos espaços, mas porque a procura assim o exige.
“Assim que abrimos vagas a creche encheu e foi de tal forma que, quando a creche não ficou pronta, tivemos que colocar as crianças aqui no edifício-mãe. A nova creche nasceu da necessidade”, sustenta, lançando um repto: “As instituições tiveram a possibilidade de criar novos espaços, com acordos de parceria com o Estado, mas, para além desse apoio estatal à construção, contava-se que haveria um suporte do Estado para o seu funcionamento. O que aconteceu foi uma descapitalização das instituições, co-responsabilizada pelo Estado. O que fizemos foi o que nunca se faz, um investimento numa área que não ia ter qualquer rentabilidade. A instituição criou um espaço para dar uma resposta social, porque em termos de mercado ninguém entra numa descapitalização sabendo que não vai ter rentabilidade, nem segurança, nem sustentabilidade. E, pelo menos, era muito importante que essas instituições fossem vistas com mais atenção e se não houver a possibilidade de receber o subsídio da Segurança Social e da DREN, pelo menos que houvesse comparticipação de uma das partes. Neste momento arranjámos um vírus que pode alastrar para o resto da instituição”.
A rematar, Manuel dos Santos diz que “o que era suposto trazer uma maior sustentabilidade à instituição, apresenta-se agora como algo que pode desequilibrar as contas”.
Por isso é que, olhando o futuro, os responsáveis pelo Centro Social do Candal-Marco, apesar de terem sonhos, não entram em aventuras: “Neste momento quereremos assegurar a sustentabilidade das respostas que temos e só então poderemos ponderar avançar com outras respostas. Primeiro queremos garantir o equilíbrio económico-financeiro e só depois avançar com novos projectos”.

Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)

 

Data de introdução: 2013-02-26



















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