CSCRF AVELÃS DE CIMA - AVEIRO

Rigor na gestão tem sido fundamental

Quando há 31 anos um grupo de cidadãos se apercebeu das inúmeras carências a nível social na freguesia de Avelãs de Cima, concelho de Anadia, distrito de Aveiro, o passo seguinte foi criar uma instituição que pudesse dar resposta a essas necessidades. Carlos Martins, um dos principais impulsionadores, congregou o capital humano e financeiro necessário e, em Junho de 1981, nascia o Centro Social Cultural e Recreativo da Freguesia de Avelãs de Cima (CSCRFAC). 
A instituição iniciou a sua actividade em Agosto de 1993 com a resposta social de Centro de Dia, posteriormente com Creche, ATL, e Jardim-de-Infância e, mais tarde, alargou a sua actividade na área da Terceira Idade, com o Serviço de Apoio Domiciliário (1997) e um Lar de Idosos (1999).
Desde então, Carlos Martins tem presidido aos destinos da instituição, mas em Março do próximo ano vai ceder o seu lugar. É que no início de 2012 foi eleito presidente da UDIPSS Aveiro e pretende desligar-se da IPSS que ajudou a fundar, mas não de forma definitiva.
“Irei continuar ligado à instituição, não na Direcção, mas talvez na Mesa da Assembleia, para ficar completamente livre destas preocupações todas e assumir em pleno as funções na UDIPSS”, sustenta o ainda presidente da instituição de Avelãs de Cima, garantindo: “Até ao final do ano deixo a casa completamente arrumada”.
E o facto de ter estado mais de três décadas à frente da instituição não lhe causa receios, nem preocupações quanto ao futuro da mesma: “Tenho a certeza absoluta de que esta instituição, pela estrutura que tem e como está organizada, vai ser sustentável por ela própria. Saio com a consciência de ter a casa arrumada, os investimentos todos feitos e zero de dívidas. Agora, com esta ampliação do Lar, vamos poder melhorar as receitas, desde que haja Acordo de Cooperação. Esta instituição só por azar é que entrará em colapso. Quem me sucederá, e já há quem esteja a acompanhar isto de perto, vai dar continuidade ao trabalho feito”.
Carlos Martins sustenta que a situação financeira da instituição é “equilibrada” e explica as razões por detrás dessa estabilidade: “É fruto de um trabalho de muito rigor ao longo destes anos todos. No final de Setembro sabia que ia ter cerca de 83 mil euros de receita e 88 mil euros de despesa, mas há meses em que a instituição perde e outros em que ganha e, depois, há ainda o pé-de-meia conseguido ao longo dos anos. O rigor na gestão tem sido muito importante”.
O presidente que em Março deixará o cargo sente-se tranquilo com a passagem de testemunho, pois a instituição vive uma situação estável em termos financeiros.
“É óbvio que isto é fruto de um trabalho de muitos anos e da não entrada em loucuras. Nunca fizemos investimento nenhum sem ter a certeza de que havia apoio para ele e que estava dentro das possibilidades financeiras da instituição. Nunca pedimos dinheiro a ninguém”, argumenta Carlos Martins que, no entanto, prevê que, no futuro, alguns problemas possam surgir: “Um dos problemas que poderemos ter será se não conseguirmos o Acordo de Cooperação para os novos quartos do Lar, isso poderá trazer-nos alguns problemas. O segundo, é que quem vier a seguir seja capaz de interpretar convenientemente o trabalho que foi feito. Não quero armar-me em herói, porque não o sou, mas tenho consciência de que fiz aqui um trabalho, que me exigiu muito, mas que me dá grande satisfação e orgulho, pois vou entregar uma instituição que não é um problema”.

AMPLIAÇÃO DO LAR

Neste momento, e é o derradeiro projecto de Carlos Martins enquanto presidente, a instituição está a finalizar a obra de ampliação da capacidade do Lar de Idosos, que passará a dispor de mais 13 quartos, o que fará a capacidade do equipamento crescer para 63 quartos, sendo que dos 50 utentes que acolhem actualmente a instituição apenas tem Acordo de Cooperação para 47. Daí que os responsáveis pelo CSCRFAC olhem para este investimento como uma forma de conseguir mais alguma receita que mantenha as contas equilibradas.
Por outro lado, e pensando em soluções futuras que possam ajudar a população idosa e a própria instituição, o Centro Social de Avelãs de Cima adquiriu um terreno contíguo ao seu com um projecto ainda sem data exacta para ser concretizado.
“Nesse terreno, que já está vedado, pensamos fazer um parque no interior do qual haverá espaço para, talvez, quatro pequenas casas em madeira, uma espécie de bungalows, com ligação ao Lar. Ou seja, será para casais que poderão fazer as suas próprias refeições nas casas ou no refeitório da instituição. Obviamente, isto será fora dos Acordos de Cooperação”.
Actualmente, a instituição apoia ainda 37 pessoas através do Serviço de Apoio Domiciliário e recebe mais 35 no Centro de Dia.
Avelãs de Cima é uma freguesia de cerca de 2500 habitantes de 15 povoações, bastante dispersas entre si e espalhadas por uma área de cerca de 41 quilómetros quadrados. Esta situação geográfica acarreta elevados encargos com o transporte, especialmente, na área dos idosos.
“Temos oito viaturas porque, como as casas são muito dispersas pelo território, é necessário uma grande frota e muito combustível. Uma das coisas, para além do combustível, que está a ser muito pesada nas contas é o custo do gás. Uma casa destas, só para aquecimento, tem um gasto muito elevado. Em Março, em altura de frio, foram mais de seis mil euros… E isto também acontece por causa do IVA”, recorda Carlos Martins, que defende “um preço especial dos combustíveis para as IPSS”, considerando que “seria perfeitamente justo”.
Na prossecução de uma gestão rigorosa e que não aumente os custos, a instituição acaba de abrir um poço, de onde passará a tirar a água para a rega do jardim e da horta social, de 500 metros quadrados.
“Criámos uma horta social e uma grande parte do que se consome na instituição será, dentro em breve, criado nessa horta”, explica, acrescentando que tem ainda um propósito lúdico, até porque aquela é uma população essencialmente rural, para além do convívio e da utilização por parte das crianças que frequentam a instituição.

INFÂNCIA REDUZIDA A METADE

Neste particular, a instituição acolhe 20 crianças em Creche, mais 21 no Pré-escolar e ainda uma dezena em ATL.
“Esta instituição já teve 110 crianças e neste momento tem cerca de meia centena apenas. Ou seja, tem menos de metade, porque, primeiro, a natalidade tem vindo a diminuir por todo o País e, em segundo, muitos alunos vinham para a instituição porque havia umas empresas, que, entretanto, fecharam ou despediram funcionários e estes, no desemprego, procuraram outras instituições que fossem mais em conta por causa das deslocações”, justifica Carlos Martins, que vê nas instituições com grandes estruturas relacionadas com a infância a fonte de maior problema a nível distrital.
Como “as receitas da instituição vêm, fundamentalmente, da comparticipação da Segurança Social e dos utentes”, o momento não é o mais desafogado.
“A gestão é mais apertada, porque as dificuldades das famílias são crescentes e, em vez de aumentarmos as prestações, estamos a baixá-las, porque as famílias não podem pagar mais”, acrescenta.
De forma inesperada, e para dificultar um pouco mais as contas, a instituição assumiu uma das 21 Cantinas Sociais instaladas no distrito de Aveiro.
“Eu queria que esta daqui fosse em Anadia, na Misericórdia, por ser um lugar mais central. Porém, a Misericórdia, como viu que isto dava prejuízo, não quis, então, como tínhamos que arranjar alguém, avançou a minha instituição com esse esforço”, conta o presidente em fim de mandato, que arranjou forma de a situação não ficar tão onerosa, criando uma rede: “Entrei em contacto com algumas instituições da zona, onde deixamos os termos com comida e os interessados vão buscar. Isto são pequenas coisas que ajudam”.
Que ajudam, pois Carlos Martins está ciente de uma dura realidade do concelho de Anadia: “No fundo, todos temos consciência que na freguesia e no concelho há pessoas a passar fome. O que já pedi foi que nos digam onde essas pessoas estão que nós vamos lá. É necessário que a rede camarária e até as autoridades policiais colaborarem na identificação das pessoas. Não queria de maneira nenhuma que no meu concelho, falando como cidadão, houvesse pessoas a passar fome”.
E foi com este espírito que o CSCRFAC acolheu a Cantina Social: “Estamos aqui para ajudar, mesmo com prejuízos, mas temos que ajudar”.
Até ao final de 2012, Carlos Martins conta ter a “casa arrumada”, ou seja, as obras relacionadas com a ampliação do Lar de Idosos terminadas e todo o processo concluído, para nas eleições para os novos órgãos sociais da instituição deixar a presidência que ocupa desde a fundação, há 31 anos. No entanto, há uma obra que é necessário ainda fazer, mas que já será concretizada pela nova Direcção. Tem que ver com a reconversão da fonte de aquecimento da instituição, com o propósito de reduzir os custos com o gás.
“Nós já lançámos esse projecto e é algo que vai passar para a próxima Direcção, que é a caldeira a gás. Alterar a caldeira que temos, substituindo por duas mais pequenas, para ver se conseguimos poupanças no gás. Reconverter a fonte de aquecimento é fundamental”, sustenta Carlos Martins, que pretende à frente da UDIPSS Aveiro disseminar os princípios que tem posto em prática no CSCRFAC ao longo de três décadas.

Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)

 

Data de introdução: 2012-12-02



















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