POBREZA

Mais de 85% da população que a Misericórdia de Lisboa auxilia vive abaixo do limiar de pobreza

Mais de 80 por cento (85,4) da população auxiliada pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) vive abaixo do limiar da pobreza, já que a média de rendimentos auferidos ronda os 285 euros por mês. A conclusão consta de um estudo apresentado pela SCML e que tinha como objectivo "aprofundar os perfis das pessoas que se socorriam daquela entidade, pessoas que por definição necessitavam de apoio e de políticas sociais", explicou a responsável pelo estudo, Isabel Guerra.
Isabel Guerra afirmou que "todas as medidas governamentais de retirada de direitos, principalmente os não contributivos, só vai agravar a situação, causando um aumento destas situações".
O secretário de Estado da Segurança Social, Pedro Marques, que esteve presente na apresentação do estudo, admitiu à Lusa que a retirada de algumas medidas de acção social "é difícil", mas "necessária para o país para reequilibrar as contas públicas".
O valor do limiar de pobreza relativa situa-se nos 406 euros. A média de rendimentos da população auxiliada pela SCML situava-se nos cerca de 285 euros por mês.
Apesar de a maioria da população activa auxiliada pela SCML se encontrar desempregada (57,3 por cento), a minoria empregada (26,1 por cento) não aufere rendimentos acima dos 400 euros. O estudo conclui que mesmo a maioria da população que tem um emprego consegue arrecadar cerca de 332 euros por mês.
Estes valores estão relacionados com a "precariedade na relação com o mercado de trabalho: intensidade laboral fraca e ausência de vínculos formais na contratação", já que da minoria integrada no mercado de trabalho, apenas cerca de 30 por cento afirma ter trabalhado no ano passado e desses apenas um terço teve uma actividade durante os 12 meses do ano.
Foi perante estes números que a SCML definiu três "perfis tipo" dos seus utentes: "pessoas que dependem das políticas sociais e que delas não se conseguem autonomizar"; "pessoas em trânsito de oportunidades" e "pessoas que não conseguiram traçar o seu projecto de vida". No primeiro grupo inserem-se idosos e pessoas com alguma deficiência "que não tem condições de autonomização das políticas sociais", no segundo estão pessoas "que têm autonomia e capacidade para aproveitar as oportunidades mas que não as têm devido à crise" e no terceiro grupo encontram-se pessoas que "foram muito martirizadas na vida desde crianças e que por isso não conseguiram definir a sua identidade", descreveu Isabel Guerra.
Perante estes perfis, que representam, cada um, um terço da população auxiliada pela SCML, a responsável pelo estudo afirmou que "há que rever as políticas sociais e os recursos porque os recursos de assistência não são de todo suficientes: São precisas políticas integradas, educação e formação".
"As dinâmicas do mercado de trabalho estão a penalizar um grupo social que tem capacidades e que acredita nas suas capacidades. A nossa proposta é neste grupo aumentar a qualificação dado que não há empregos para toda a gente e aumentar competências enquanto aguardamos pelo sair desta crise", afirmou Isabel Guerra.

 

Data de introdução: 2010-06-02



















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