REMAR, PORTUGAL

Um porto de abrigo em Portugal e no Mundo

O nome não poderia ser mais adequado, pois nesta associação, registada como O.N.G.D. (Organização Não Governamental para o Desenvolvimento), quem tem vontade de o fazer, rema em direcção a uma nova vida. A Remar, cujas iniciais significam “Reabilitação de Marginalizados” nasceu em Portugal em 1989 e rapidamente se espalhou um pouco por todo o país (estão presentes em 23 cidades portuguesas). Todos os que precisem de ajuda são bem-vindos, recebidos sem que lhes seja exigido nada em troca, a não ser a vontade de mudar e o respeito pelas regras e disciplina que a instituição acredita serem fundamentais para que o processo resulte.

A origem da organização é espanhola e remonta a 1982 à cidade de Vitória, no País Basco. Desde o início a missão consistia em ajudar todo o tipo de marginalizados, principalmente toxicodependentes. Rapidamente a instituição ganhou notoriedade espalhando-se pelos cinco continentes do mundo, estando actualmente presente em 65 países, incluindo Portugal. Penafiel acolheu o primeiro espaço representativo da associação, a Quinta da Bela Vista, um local destinado à reabilitação de toxicodependentes. É aqui que todos os dias os utentes aprendem como lidar com os seus problemas, libertarem-se dos seus traumas e medos e adquirirem novos hábitos. Para uma parte dos utentes a vida na instituição significa uma oportunidade para deixarem uma vida de vícios e dificuldades, mas noutros casos, representa apenas um ponto de passagem, um local onde têm a oportunidade de estarem um dias e depois desaparecem sem deixar rasto. Além dos toxicodependentes, grupo que está em maioria, a Quinta da Bela Vista integra pessoas que viviam na mais profunda pobreza, alcoólatras e idosos, ex-reclusos e pessoas com problemas judiciais. Também a estes a instituição presta uma série de serviços sem cobrar um único tostão.

Victor PintoActualmente, a Remar Portuguesa integra cerca de 500 utentes directos, prestando apoio a um leque de pessoas muito variado e sem imporem qualquer tipo de barreiras. Pelos centros da organização já passaram perto de 25 mil pessoas. “Damos ajuda a todo o tipo de pessoas. O necessitado, para nós, não tem dimensão”, explica Jorge Pereira, relações públicas na associação e ex-utente. “Eu estava no mundo das drogas já há alguns anos. A minha vida estava destruída e vivia numa situação familiar completamente degradada e ouvi falar na Remar, como uma instituição que acolhia as pessoas de forma gratuita e sem listas de espera. E foi realmente a porta que se abriu para mim”.

O primeiro contacto pode dar-se de diferentes maneiras, quer seja telefónico, pessoal, através de campanhas de sensibilização que realizam ou nos escritórios e centros que possuem ao por todo o país. Numa primeira abordagem, é feita a descrição pormenorizada do tratamento e normas do centro, bem como das perspectivas de solução para o problema identificado. Uma vez que não rejeitam ajuda a ninguém, apenas impõem duas condições: a vontade expressa de querer mudar, assim como a aceitação das normas internas, que acreditam ser “as mínimas exigíveis para um correcto funcionamento dos centros”. A pessoa é, então, colocada no local que os responsáveis consideram ser o mais adequado, tendo em conta as suas características pessoais. As regras nem sempre são muito fáceis de cumprir. “Não podem fumar, nem beber, não há a troca de nenhuma droga por outra. Quando a pessoa, por exemplo, tem de dormir, tem de o fazer naturalmente, não há o recurso a sedativos. É preferível que a pessoa esteja 15 dias sem dormir e ao fim desse tempo o faça naturalmente, que debaixo de outro tipo de drogas”, explica Jorge Pereira. O tempo de permanência aconselhado nunca é inferior a um ano, embora este período nem sempre seja cumprido. “Muitas vezes os utentes vêm por imposição da família e é mais difícil aceitarem as normas”, diz o relações públicas.

Com uma forte componente religiosa e espiritual enquanto cristãos evangélicos, não impõem, no entanto, que a pessoa que os procure se converta. “Aceitamos pessoas de qualquer tipo de religião. A maior parte de quem aqui chega é, aliás, católica. Embora consideremos como uma das partes fundamentais do nosso trabalho, a conversão não é necessária”. Quem opta por ficar na organização, envereda por um sistema de vida comunitário, assente na força do trabalho e no regime de voluntariado a tempo inteiro, mas sem qualquer tipo de renumeração. “Para quem está de fora acredito que faça confusão não ter na carteira dinheiro para gastar da forma como entender, mas aqui não nos falta nada”, diz Jorge Pereira. Muitos dos membros da O.N.G.D. passam também a viver em comunidade, ou seja, a partilhar casas. “Aqui, cada família não vive na sua casa. Temos comunidades para casais, para solteiros e não há ninguém que viva sozinho, porque acreditamos que esta partilha é fundamental para servir ao outro”.

A filosofia da instituição assenta em quatro pilares fundamentais: o discipulado, o evangelismo, a obra social e a economia do reino. O discipulado é feito em Espanha e consiste na formação de missionários que depois enviam para os centros espalhados pelo mundo. Consideram o trabalho de evangelismo o apoio que prestam às pessoas mais carenciadas nas zonas mais degradadas das cidades, como é um exemplo o programa “Anjos da Noite”, onde são distribuídos alimentos aos sem-abrigo. Na obra social estão enquadradas as acções de acompanhamento a reclusos nas prisões, a visita a doentes nos hospitais, bem como o acompanhamento de famílias carenciadas.

Sem qualquer apoio da Segurança Social e sem qualquer comparticipação dos utentes é nas lojas de novos e usados que foram abrindo um pouco por todo o país que vão buscar rendimentos, bem como nos trabalhos que efectuam, desde transportes, mudanças, limpezas, pinturas, mecânica, serralharia, carpintaria, construção civil, naquilo que apelidam de economia do reino. Várias empresas e particulares contribuem com doações, o que, segundo Jorge Pereira, representa perto de 90 por cento dos bens que utilizam no dia-a-dia. Com uma frota de 70 viaturas em todo o país, a instituição monta esquemas de recolha de bens (alimentares e outros), com circuitos pré-estabelecidos junto dos mercados, comerciantes, grandes superfícies comerciais.
REMAR NO MUNDO

A Remar está espalhada por todo o mundo, com centros na América, África, Ásia, Europa e Austrália, onde tem ajudado muitos milhares de pessoas, com projectos destinados às populações mais carenciadas. Têm diversos refeitórios sociais nas zonas mais pobres das cidades e em prisões de vários países africanos, onde, muitas vezes, os reclusos morrem de fome. Por exemplo, só em Burkina Fasso são servidos mais de 2 milhões pratos de comida. Também têm a seu cargo 19 escolas gratuitas na África, América Central e América do Sul, destinadas a crianças pobres que de outra forma não teriam acesso à educação. A organização fundou por todo o mundo centenas de lares destinados a crianças órfãos ou vítimas de violência doméstica, vários centros médicos de prestação de cuidados de saúde primários e casas de acolhimento para doentes com sida. Anualmente, são enviados contentores com mantimentos e bens para os países em desenvolvimento onde a Remar está presente. Portugal está encarregue da ajuda a Angola, Moçambique e Suazilândia.

 

Data de introdução: 2009-03-23



















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