PROSTITUIÇÃO

Nove em cada dez prostitutas foram violadas na infância

Nove em cada dez prostitutas foram violadas durante a infância e quase metade destas mulheres voltou a sofrer abusos sexuais desde que começou a trabalhar na rua, revelam estudos sobre prostituição em Portugal.

Um inquérito efectuado a 41 mulheres que no ano passado se prostituíam nas ruas do Porto denuncia elevados graus de violência exercida sobre as prostitutas, muitas vezes perpetrada pelos homens com quem elas têm de forçosamente estar: os seus clientes.

Segundo o estudo efectuado pela investigadora Alexandra Oliveira, a que a agência Lusa teve acesso, mais de 80 por cento das mulheres inquiridas foram vítimas de agressões verbais ou físicas. A maioria das prostitutas admite ter sido "pontapeada, esmurrada, atirada ao chão ou roubada", mas há também histórias de mulheres vítimas de violência sexual (quase metade das inquiridas) e um terço refere mesmo ter sido raptada.

"A percentagem de vítimas encontrada neste estudo é semelhante ao que tem sido encontrado noutras investigações", afirma a investigadora da Faculdade de Psicologia e de Ciências de Educação, da Universidade do Porto.

Já no que toca aos casos de violação, os números avançados por Alexandra Oliveira diferem dos revelados noutros estudos: "As tentativas de violação ou violações relatadas pelas entrevistadas rondam os 50 por cento, enquanto noutros estudos conhecidos aproximam-se dos 70 por cento".

As histórias dramáticas destas mulheres não começam apenas quando entram para o mundo da prostituição, mas logo na infância, segundo Inês Fontinha, presidente da associação O Ninho, que apresenta números chocantes. Um inquérito feito a sete mil mulheres portuguesas acompanhadas ao longo de 10 anos denuncia que "cerca de 90 por cento das prostitutas foram vítimas de violação ou abuso sexual entre os oito e os 12 anos", afirmou a presidente da instituição que há 38 anos apoia as mulheres vítimas do submundo da prostituição.

"São mulheres oriundas de famílias desestruturadas, muitas vezes com casos familiares de alcoolismo, que nunca foram amadas e, por isso, são vulneráveis a entrar neste mundo", afirmou aquela responsável, para quem a prostituição "é a maior forma de violência exercida sobre uma mulher".

Além dos maus-tratos psicológicos, dados divulgados por Alexandra Oliveira demonstram que as agressões são uma constante do dia-a-dia daquelas mulheres: mais de metade das prostitutas foi agredida quatro ou mais vezes, sendo que muitas das histórias se referiam a um passado recente. "Perto de um quarto afirma ter sido objecto de violência mais que 10 vezes desde que iniciou a sua actividade de prostituição", afirma a investigadora.

Os autores das agressões são, na maior parte das vezes, os próprios clientes, uma realidade que coloca as mulheres numa situação difícil, "já que o contacto com os clientes é indispensável nas relações sexuais", explica a investigadora.

Existe um óbvio paradoxo entre ter que encontrar clientes e simultaneamente ter que fugir deles. Muitas vezes acabam por só poder confiar no que algumas chamam de "sexto sentido" e que as leva a recusar um serviço quando pressentem que algo de mau vai acontecer.

As mulheres que trabalham na rua utilizam "técnicas" de protecção pessoal como não entrar em carros com mais do que um homem ou evitar locais escuros e isolados.

Tentam trabalhar sempre no mesmo local e estar acompanhadas por outras colegas com quem trocam informações sobre potenciais agressores e carros suspeitos, explicou Isabel Brasão, técnica da associação Drop-In, que trabalha com prostitutas do Intendente.

Segundo Alexandra Oliveira, apesar de arranjarem os seus clientes na rua, normalmente as mulheres acabam por ir para as clássicas pensões, hospedarias, hotéis e automóveis dos clientes.

No entanto, algumas admitem ter relações sexuais em locais públicos, como ruas e matas, ou mesmo deslocar-se a casa dos clientes, infringido as "regras básicas de segurança". No topo das prostitutas mais agredidas estão as toxicodependentes, que "são menos selectivas devido aos sintomas de abstinência de droga", afirma Alexandra Oliveira.

A investigadora defende que as taxas de agressão física são mais elevadas na rua, mas em contextos de interior as mulheres sofrem mais violência sexual e são mais facilmente ameaçadas com armas.

Inês Fontinha reforça: "a violência dentro de quatro paredes é oculta. Há histórias de mulheres que foram queimadas com pontas de cigarros, outras foram obrigadas a ficar durante horas em pé a fazer de estátua".

Segundo esta especialista, as mulheres que se prostituem em bordéis e casas de passe são obrigadas a fazer tudo o que o cliente quer, até porque "ele paga bem e tem a garantia do anonimato".

Clientes, proxenetas, companheiros e outros desconhecidos são apontados como sendo os autores de actos que vão desde o insulto até ao assassinato.

Embora a violência dos clientes seja significativa, as agressões "frequentes e brutais" exercidas pelos proxenetas afectam negativamente a saúde e o bem-estar das mulheres. "O chulo é a sua verdadeira relação afectiva. Para elas, os chulos são sempre os companheiros das outras, nunca os homens delas", explicou Inês Fontinha.

17.12.2005

 

Data de introdução: 2005-12-28



















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