COOPDELGA – COOPERATIVA DE CONSUMO DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS DE PONTA DELGADA

Resposta pública de pré-escolar coloca dificuldades ao Colégio Arco-Íris

Nasceu há 36 anos para servir refeições aos associados, constituindo um refeitório. Dez anos volvidos, a Coopdelga - Cooperativa de Consumo dos Funcionários Públicos de Ponta Delgada alargou a sua resposta social e abriu o Colégio Arco-íris, a grande bandeira da instituição nos tempos que correm. Uma grave crise financeira há cerca de seis anos colocou grandes dificuldades à cooperativa, mas, entretanto, com a alteração do modelo de financiamento do Governo Regional dos Açores, “as contas ainda não estão equilibradas, mas já estão normalizadas”. A abertura de respostas públicas de Pré-escolar tem levantado alguns obstáculos que a cooperativa quer ultrapassar.
É uma das jovens instituições sociais da ilha de S. Miguel, uma vez que são inúmeras as IPSS centenárias no arquipélago dos Açores.
A Coopdelga - Cooperativa de Consumo dos Funcionários Públicos de Ponta Delgada, CRL é uma instituição prestadora de serviço social aos associados, equiparada a IPSS e declarada instituição de utilidade pública pelo Governo Regional.
Quando surgiu em 1985, a Coopdelga começou por criar um refeitório que preenchesse a lacuna da inexistência de uma oferta social, neste domínio, aos funcionários públicos e de outras entidades com fins públicos.
Uma década depois da constituição da cooperativa, a instituição alargou a sua resposta social, estendendo-a à infância.
“A Coopdelga existe há 36 anos e começou com um refeitório para servir refeições os sócios da cooperativa. Porém, há 27 anos começou a pensar-se em criar um colégio para os filhos dos sócios e foi em 1995 que inaugurámos o Colégio Arco-Íris”, conta Helena Rocha, da administração da Coopdelga.
Na sua ainda curta história, a cooperativa já passou por grandes dificuldades, que, entretanto, têm sido atenuadas.
“Tivemos muitos percalços pelo caminho, porque não é fácil manter uma casa destas, pois os financiamentos não têm sido fáceis e nestes 26 anos tem havido muitas mudanças no modelo de financiamento”, sustenta, revelando a maior dificuldade até agora vivida pela instituição: “Há coisa de seis anos passámos por uma crise muito grande em consequência do modelo de financiamento do Governo Regional. Entretanto, o modelo mudou, mas o anterior criou-nos muitas dificuldades, porque o valor atribuído por criança não correspondia à realidade e isso levou-nos mesmo a fechar uma valência, que era a mini creche, para podermos salvaguardar o resto do Colégio”.
Os problemas financeiros da instituição levaram ainda ao encerramento temporário do refeitório, principalmente porque as antigas instalações, cedidas pela autarquia de Ponta Delgada tiveram que ser encerradas devido ao mau estado do edifício. No entanto, o refeitório voltou a abrir em outubro de 2019, agora com uma melhor centralidade no remodelado edifício do Ministério da Defesa Nacional, sito na Rua da Boavista, fruto de um protocolo estabelecido com a Cruz Vermelha Portuguesa e ainda um entendimento prévio com as demais entidades utilizadoras do imóvel.
As dificuldades financeiras sentidas pela cooperativa levaram ao encerramento da mini creche, mas os responsáveis da Coopdelga conseguiram nos últimos anos reequilibrar um pouco as contas e, assim, melhorar a saúde financeira da instituição, nomeadamente “porque o modelo de financiamento mudou”.
Helena Rocha elogia ainda o trabalho desenvolvido pela URIPSSA – União Regional das IPSS dos Açores, que conseguiu agregar grande parte das instituições sociais do arquipélago e, assim, conseguiu ganhar uma força negocial que as instituições não tinham até aí.
“Por outro lado, neste espaço de tempo surgiu a URIPSSA, que começou devagarinho a alterar a relação entre as instituições e o Governo Regional, porque até aí cada instituição falava por si e isso não trazia resultados para o conjunto. A partir daí, as negociações passaram a ser feitas pela URIPSSA e as coisas começaram a melhorar muito, mesmo muito”, refere Helena Rocha, acrescentando: “Foram alterados os valores por utente, que são atualizados todos os anos e estão mais de acordo com a realidade que vivemos. Ainda há falhas, mas nós já estamos satisfeitos, pois temos conseguido equilibrar as contas da instituição”.
Alcançar uma situação económico-financeira estável é mesmo o grande projeto em curso na Coopdelga.
“Neste momento não temos nada em específico em termos de novos projetos, porque estamos focados em estabilizar a nossa situação financeira. No ano passado já conseguimos ver as melhorias e tem sido uma coisa gradual, porque passámos mesmo por uma crise muito grande”, assegura, revelando: “As contas ainda não estão totalmente equilibradas, mas já estão normalizadas. Esperamos é que isto continue neste sentido, porque estamos a precisar de fazer obras e quem nos pode ajudar é a Direção Regional da Segurança Social. E esse é o próximo passo que temos que dar”.
Dar estabilidade financeira à cooperativa é assim o grande objetivo, até porque há algumas flutuações nas inscrições que levantam sempre alguns problemas a quem gere o Colégio Arco-Íris, que acolhe 42 crianças em creche e 50 em jardim-de-infância, apoiados por uma equipa de 24 trabalhadores.
“O nosso grande objetivo é equilibrar as contas, porque de ano para ano as inscrições variam muito. A nível de creche a situação é boa, não temos problemas, mas no jardim-de-infância sentimos algumas dificuldades. E temos dificuldades porque o sector público já pega nos meninos de três anos e os pais acabam por escolher o público, porque financeiramente é-lhes mais vantajoso. Depois, continuam a abrir cada vez mais respostas de pré-escolar e isso tem sido um problema para nós, porque a sala dos 3-4 anos tem sempre muitas vagas por preencher. Ainda andamos a tentar perceber como podemos dar a volta a esta situação”, confessa Helena Rocha, que revela ainda a intenção antiga de criar um Centro de Atividades de Tempos Livres (CATL), mas que atualmente não tem pernas para andar.
“Tivemos há uns anos um projeto para criar um CATL, mas, entretanto, a Câmara de Ponta Delgada abriu uma série de CATL em todas as escolas, pelo que neste momento não há necessidade dessa valência”, explica.
Tal como a vida de todas e de todas as instituições, a Covid-19 interferiu bastante com a vida da Coopdelga.
“Estivemos fechados várias vezes, porque tivemos várias suspeitas e inclusive tivemos um menino com Covid-19. Por isso, andámos bastante tempo a abrir um mês e a fechar no mês seguinte… Quando isto começou, como toda a gente, ninguém sabia o que fazer, nem a quem pedir ajuda. Os pais e os trabalhadores foram incríveis, porque nessa altura não sabíamos muitas coisas e eles estiveram sempre disponíveis para ajudar”, conta, sublinhando a importância do papel assumido pelo Governo Regional: “A nível de financiamento, nos períodos em que estivemos fechados, a Direção Regional da Segurança Social (DRSS) assumiu tudo. Como o Colégio estava fechado e os pais não pagavam, a DRSS assumiu todas as mensalidades e no prazo de um mês repunham o valor das mensalidades que os pais não pagavam”.
Por outro lado, Helena Rocha revela que a nível de inscrições a instituição não notou nenhuma quebra e, “apesar de alguns pais terem ficado desempregados, optaram por manter as vagas no colégio”.
Já o regresso após as suspensões de atividade… “Foi impressionante, porque as crianças adaptaram-se perfeitamente. As crianças são muito cuidadosas com o lavar das mãos e demais cuidados e estavam muito felizes por voltar, pois tinham muitas saudades dos coleguinhas. Na última vez que fechámos este ano foi a mesma coisa. Os próprios pais diziam que eles estavam desejosos de voltar a estar com os amiguinhos”, lembra.
Já a nível pedagógico, “nos dois e três anos foi complicado e as educadoras até estavam com algum receio que crianças que foram para o Pré não se adaptassem, mas não houve grandes problemas, até porque as educadoras foram sempre trabalhando com os pais que estavam em casa”.
Com todo o pessoal já vacinado, o ambiente agora é mais tranquilo.
E como seria Ponta Delgada sem o Colégio Arco-Íris?
“Seria mais triste, pois nós somos um arco-íris”, começa por dizer, acrescentando: “Somos um colégio de referência no mercado e, pelo feedback, somos uma instituição bem vista em Ponta Delgada, apesar da zona onde o colégio está situado não ser das melhores. O Bairro das Laranjeiras é algo problemático, visto que há muitas famílias carenciadas. Quando abrimos o colégio pensámos que isso poderia prejudicar, mas não aconteceu. O nosso protocolo com a DRSS leva a que recebamos crianças referenciadas pela Segurança Social ou pelo Instituto da Mãe de Deus e não temos uma política de acesso exclusivo aos associados. Essas famílias carenciadas não são obrigadas a ser sócios da cooperativa. Inicialmente tínhamos 10% das vagas para essas situações, mas depois foi aumentada”.
Situado na freguesia de S. Pedro, no seio do Bairro das Laranjeiras, o Colégio Arco-Íris, apesar de não estar no centro da cidade capital dos Açores, é uma referência no mercado.
“No bairro fomos bem recebidos e não temos problemas. Penso que estarmos no bairro não é, nem tem sido motivo para que qualquer pai não inscreva o seu filho no Colégio Arco-Íris. O único motivo que poderá levar um pai a não colocar lá o seu filho é o facto de estar um pouco afastado do centro da cidade e de ser uma zona residencial, onde não há serviços, nem estabelecimentos de ensino”, argumenta Helena Rocha.

Pedro Vasco Oliveira (texto)

 

Data de introdução: 2021-08-26



















editorial

NOVO CICLO E SECTOR SOCIAL SOLIDÁRIO

Pode não ser perfeito, mas nunca se encontrou nem certamente se encontrará melhor sistema do que aquele que dá a todas as cidadãs e a todos os cidadãos a oportunidade de se pronunciarem sobre o que querem para o seu próprio país e...

Não há inqueritos válidos.

opinião

PAULO PEDROSO, SOCIÓLOGO, EX-MINISTRO DO TRABALHO E SOLIDARIEDADE

Em que estamos a falhar?
Evito fazer análise política nesta coluna, que entendo ser um espaço desenhado para a discussão de políticas públicas. Mas não há como contornar o...

opinião

EUGÉNIO FONSECA

Criação de trabalho digno: um grande desafio à próxima legislatura
Enquanto escrevo este texto, está a decorrer o ato eleitoral. Como é óbvio, não sei qual o partido vencedor, nem quem assumirá o governo da nação e os...