LAR DE S. JOSÉ, ÍLHAVO

É fundamental não baixar a guarda em defesa dos idosos

A situação que se tem vivido no Lar de S. José, em Ílhavo, é paradigmática dos tempos que vivemos, obrigando as instituições com respostas residenciais para idosos, mas também todas as que acolhem pessoas portadoras de deficiência, a manterem-se vigilantes, empenhadas e sem poderem baixar a guarda na luta contra o novo coronavírus.
Com 12 mortes registadas, entre um total de 54 utentes, desde que a pandemia foi decretada e o estado de emergência foi, pela primeira vez, instituído em Portugal, a IPSS ilhavense tem vivido um autêntico carrossel de emoções e de… incertezas.
Assim, depois de 30 utentes e 15 funcionários terem testado positivo no início de março, que redundou nos 12 falecimentos devido à Covid-19, já a 24 de abril tudo parecia estar no bom caminho, com praticamente todos os positivos a testarem negativo. Nesta data apenas cinco utentes tiveram resultado positivo, o que deixou os responsáveis pela Estrutura Residencial Para Idosos do Património dos Pobres de Ílhavo mais descansados, mas nunca relaxados.
Os tempos que viveram, em especial os quatro funcionários que durante quatro semanas viveram enclausurados na instituição a cuidar de 30 idosos infetados, não lhes permitiu baixar a guarda, mantendo e incrementando todos os cuidados necessários para que a recuperação dos utentes fosse total, por outro lado, o contágio fosse parado.
Entretanto, nova bateria de testes aos utentes, e apenas aos utentes, na primeira semana de maio, revelou algo que Paulo Edgar, diretor-geral do Lar de S. José, não queria acreditar ser possível: dos cinco utentes que testaram positivo em abril, quatro tiveram resultado negativo, mas outros 16 voltaram a testar positivo.
“Ninguém consegue explicar”, começa por dizer o responsável da instituição, sublinhando: “Os cuidados são os mesmos, não descurámos nenhuma medida emanada da Direção-Geral da Saúde e do Ministério, e ainda não retomámos as visitas por precaução, mas isto foi um enorme balde de água fria”.
Sem conseguir compreender muito bem o que se passou entretanto, Paulo Edgar adianta como uma explicação plausível o facto de “os resultados negativos que tivemos em abril serem falsos negativos, que potenciaram o contágio dos outros utentes”.
O único aspeto positivo da situação que se vivia no Lar de S. José é que todos os utentes que testaram positivos se mantiveram sempre assintomáticos.
“Nem se nota que testaram positivo. Estão isolados dos restantes utentes no primeiro andar, mas fazem a vida deles normalmente, sem qualquer sintoma”, afirma Paulo Edgar.
Entretanto, no dia 28 de maio foi realizada nova testagem a todos os utentes e, surpresa das surpresas (e das boas!)… apenas dois utentes testaram positivo.
“Isto deixa-nos satisfeitos, mas não é para ficarmos aliviados. É sinal que o que estamos a fazer, estamos a fazer bem, mas temos que continuar com todos os cuidados exigidos para ver se, de uma vez por todas, nos livramos do vírus que é muito perigoso”, sustenta.
As dúvidas e incertezas assolam os responsáveis da instituição de Ílhavo, principalmente porque ninguém consegue dar uma explicação para este carrossel de testes positivos, negativos e, novamente, positivos…
“As pessoas valorizam demasiado os testes, mas o que interessa são as pessoas e como elas se sentem, disse-nos a delegada de Saúde”, revela Paulo Edgar, que conta uma situação, no mínimo, caricata: “Um dia depois de termos feito estes últimos testes, uma utente, por outras questões de saúde, teve que ir ao Hospital de Aveiro. Lá fizeram-lhe o teste que deu positivo, sendo que o teste que fez na instituição na véspera havia dado negativo”.
São estas situações que levam o diretor-geral do Lar de S. José a reafirmar que “há que manter todos os cuidados”.
Neste momento, a instituição gasta cerca de 200 euros por dia em Equipamento de Proteção Individual para os 15 funcionários, um montante difícil de comportar, até porque a instituição vinha de momentos complicados em termos financeiros e que, aos poucos, estava a conseguir estabilizar.
Como ajuda atualmente conta com o apoio da Câmara Municipal de Ílhavo, que tem fornecido algum material de proteção e higienização, depois de na fase mais crítica da pandemia, em que o mercado não conseguia responder e quando o fazia os preços eram demasiado elevados, ter contado com a solidariedade da população e das empresas ilhavenses.
Para Paulo Edgar, é fundamental não baixar a guarda, nem dormir à sombra dos testes negativos. Isto é uma mensagem que deve ser assimilada por todos os dirigentes e trabalhadores das IPSS por todo o país, pois quando menos se conta pode-se levar com um balde de água fria.

Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)

 

Data de introdução: 2020-06-04



















editorial

NOVO CICLO E SECTOR SOCIAL SOLIDÁRIO

Pode não ser perfeito, mas nunca se encontrou nem certamente se encontrará melhor sistema do que aquele que dá a todas as cidadãs e a todos os cidadãos a oportunidade de se pronunciarem sobre o que querem para o seu próprio país e...

Não há inqueritos válidos.

opinião

PAULO PEDROSO, SOCIÓLOGO, EX-MINISTRO DO TRABALHO E SOLIDARIEDADE

Em que estamos a falhar?
Evito fazer análise política nesta coluna, que entendo ser um espaço desenhado para a discussão de políticas públicas. Mas não há como contornar o...

opinião

EUGÉNIO FONSECA

Criação de trabalho digno: um grande desafio à próxima legislatura
Enquanto escrevo este texto, está a decorrer o ato eleitoral. Como é óbvio, não sei qual o partido vencedor, nem quem assumirá o governo da nação e os...