Vive um momento de grande indefinição, mas os seus responsáveis acreditam que o futuro é risonho. Para já decorre o prazo para entrega de listas candidatas aos órgãos sociais da Associação de Apoio e Desenvolvimento Integrado de Ermidas-Sado (AADIES), uma eleição que já devia ter acontecido em janeiro, mas ninguém apareceu. Com uma herança pesada deixada pela anterior Direção, os atuais responsáveis tentam tudo para repor a normalidade na instituição do concelho de Santiago do Cacém.
O momento atual da Associação de Apoio e Desenvolvimento Integrado de Ermidas-Sado (AADIES) é de indefinição, quando, em janeiro, já deviam ter sido eleitos os novos órgãos sociais.
Marco Peres que liderou a Direção anterior é agora presidente da Comissão Administrativa, por não terem surgido listas a sufrágio.
“Optámos por não avançar com uma lista, porque havia sempre muita conversa de como é que as coisas deviam ser feitas e, então, decidimos esperar para ver se alguém avançava. Claro que não apareceu ninguém. Não somos mais do que ninguém, mas temos feito trabalho, o problema é que a casa tinha muitas insuficiências devido a situações criadas no passado”, justifica o presidente.
Agora, decorre novo prazo para entrega de listas, até final de abril, tal como ficou decidido em Assembleia Geral no início de março.
Marco Peres, apesar dos constrangimentos mostra-se otimista, mas aguarda que alguém avance. No entanto, sempre vai dizendo que “a equipa diretiva acredita na instituição”.
O momento que a AADIES vive deve-se muito às dificuldades que financeiras que atravessa. Há um mandato de quatro anos à frente da instituição, a Direção encontrou uma situação muito complicada que tem vindo a tentar resolver.
“Quando viemos para a instituição, a ideia que passava é que a casa ia fechar, porque as dívidas eram muito grandes. Havia cinco subsídios em atraso aos trabalhadores e uma dívida elevada a fornecedores. Por outro lado, havia uns projetos, feitos pela anterior Direção, para aprovação por parte da Segurança Social, no âmbito do Fundo de Reestruturação do Sector Solidário, e, quando entrámos, havia a garantia de uns apoios do Estado. Desde que aqui estamos temos vindo paulatinamente a saldar as dívidas e já conseguimos pagar um subsídio em atraso e aos fornecedores”, explica, reconhecendo que “nos primeiros dois anos, neste capítulo, as coisas até correram bem”.
“No primeiro ano as coisas ficaram equilibradas e começámos a pagar o que tínhamos que pagar. Havia um estudo que apontava para a dispensa de determinadas pessoas, o que fizemos, pagando as indeminizações. Nesse primeiro ano tivemos um prejuízo de 6.000 euros, o que para estas casas é pouco. No segundo ano tivemos lucro, mas quase tínhamos prejuízo. O superavit deveu-se a uma herança que um senhor deixou à AADIES. No terceiro ano começámos a reparar que as coisas não estavam iguais. Fizemos até uma reunião para tentar perceber por que é que as contas estavam a derrapar. Nesse ano, 2017, estávamos a perder cerca de quatro mil euros/mês. E isto tinha que ver com o facto de antigamente, através do IEFP, com os CEI e outros projetos financiados, colmatava-se o custo com essas pessoas. As regras, entretanto, mudaram e foi necessário ir ao mercado de trabalho, o que implica outros custos. Por outro lado, o salário mínimo tem vindo a ser aumentado”, recorda Marco Peres.
Com elevados encargos com pessoal e receitas parcas, a instituição sente grandes constrangimentos.
“As pessoas não olham muitas vezes a estas coisas, mas isto mexe com as contas da instituição. Quando aqui entrámos o salário mínimo era de 480 euros, agora são 600. As pessoas ganham pouco, mas tem que ser criado um mecanismo por parte do Estado que compense, porque após cada aumento do salário mínimo, a casa não encontra mais dois utentes debaixo de uma pedra!”.
Para o presidente da AADIES, “esta mudança nos custos com o trabalho, em instituições que não estão equilibradas, é logo mais um fator de desequilíbrio”, pois “quando se acrescenta custos a instituição necessita de uma nova fonte de rendimento e sabemos que não vai ter de imediato”.
A situação difícil que a instituição enfrente tem origem, segundo Marco Peres, na quebra de uma receita muito importante e cujo serviço condicionou, de alguma forma, o desenvolvimento da própria instituição.
“Durante muito tempo, a instituição tinha uma fonte de rendimento extra que eram as formações e tempo houve em que havia muitas. Assim que a instituição perdeu essa fonte de receita ficou exposta, porque não tinha capacidade para se manter”, afirma, considerando que, neste momento, a instituição “precisa de injetar valor na instituição”, para tentar resolver as situações de dívidas ainda pendentes, especialmente aos trabalhadores.
A indefinição diretiva que envolve a AADIES tem, segundo Marco Peres uma outra razão.
“Notamos também que durante alguns anos houve um afastamento das pessoas da instituição. Durante alguns anos, a população não tinha um sentir único com a instituição. Penso que poderá ter havido pouca abertura à comunidade”, sustenta, revelando: “Estamos a tentar combater esse afastamento da população com comunicação, tentando chegar a mais pessoas, promovendo eventos e tentando envolver a população. Com uma comunicação assertiva, partilhando o que fazemos, potenciando e mostrando a mais-valia que a instituição é para a comunidade, seja no trabalho com as crianças, seja com os idosos. Com isto queremos chamar as pessoas à instituição, até porque isto é delas não é dos órgãos sociais”.
Para Marco Peres, “houve coisas que, se calhar, não foram as mais corretas no passado, mas aos poucos temos reconquistado a confiança das empresas e das pessoas” e é com satisfação que revela que em 2015 a instituição tinha 186 sócios e que em 2018 esse número cresceu para 412.
Ainda a lamber as feridas da situação herdada, especialmente em termos dos custos com o pessoal, os responsáveis pela instituição não pretendem abandonar o barco.
No entanto, “quando se tem uma carga salarial de 80% nas contas, como se costuma dizer, é a morte do artista!”.
Para obstar à situação, a Direção tem trabalhado em trono da angariação de donativos, iniciativa bem-sucedida, em especial em géneros alimentícios.
“A solução, neste momento, para os nossos problemas é o trabalho e a união das pessoas em torno da instituição. O que achámos que não estava correto entregámos a quem de direito e temos tentado resolver os problemas que surgem”, refere, lamentando que a queixa feita às autoridades por irregularidades detetadas não tenha andamento visível.
Por outro lado, a situação da instituição não permite a implementação de novos projetos.
“Temos que ter os pés muito bem assentes no chão. A instituição tem uma situação complicada, pelo que é preciso ser realista. Face às necessidades da freguesia atualmente, com algumas fábricas novas, colocou-se a possibilidade de se abrir mais uma sala de berçário, o que poderá ser uma oportunidade”, revela, lembrando que uma ampliação da ERPI, de 20 para 25 utentes, seria uma boa ajuda ao equilíbrio de exploração da resposta social e para tirar melhor rendimento do número de trabalhadores afetos ao lar.
No entanto, “a casa não tem condições para o fazer, só se fosse uma entidade terceira”.
A AADIES acolhe e acompanha, neste momento, 20 idosos em ERPI, 23 em centro de dia e 16 em SAD. Na área da infância, tem oito bebés em berçário, 12 petizes em creche e 25 em pré-escolar.
A instituição funciona com um corpo de 37 funcionários.
DONA INÊS: 101 ANOS DE... LEITURAS
Maria Inês Oliva completou a bela idade de 101 anos no passado dia 15 de dezembro. Evidenciando uma lucidez fantástica, não dispensa a leitura do jornal diariamente, apesar de ter que usar uma lupa, mesmo usando óculos.
Órfã de pai aos nove anos, Dona Inês casou, teve meia-dúzia de filhos e, depois de uma breve passagem pelas minas de Lousal, de onde é natural, e de ter ainda ali servido em casas de pessoas mais abastadas, até aos 17 anos, foi em Setúbal que fez a sua vida familiar a partir dos 27 anos. Já viúva e com 93 anos, foi para o lar da AADIES, onde se diz “muito bem”.
Curiosa é a história de como aprendeu a ler: “Só fui à escola um ano e fiz o exame da quarta classe aos 50 anos. Mas esse ano serviu para aprender as letras e depois aprendi a ler sozinha, porque apanhava todos os papéis que encontrava no chão… para ler!”.
Longa vida à Dona Inês!
Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)
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