CENTRO PAROQUIAL DE SOLIDARIEDADE SOCIAL DE CASTANHEIRA DE PÊRA

Encerramento da instituição já esteve em cima da mesa

“Isto é um sufoco”. É desta forma que o padre José Lopes Carvalho, presidente do Centro Paroquial de Solidariedade Social de Castanheira de Pêra, caracteriza a situação da instituição, já depois de ter recorrido ao Fundo de Socorro Social, numa altura em que foi ponderado o fecho de portas. A diminuição de crianças no concelho, onde é a única IPSS com resposta de creche, tem levantado graves problemas à gestão e o futuro não se afigura muito risonho.
Criado em 1982, o Centro Paroquial de Solidariedade Social de Castanheira de Pêra nasceu, pela mão da Fábrica da Igreja, com o propósito de desenvolver atividades de apoio a crianças e jovens, população idosa, famílias, comunidade e população ativa.
O arranque da instituição deu-se pelo Centro de Apoio Familiar (CAF), com o apoio financeiro da Cáritas Diocesana de Coimbra.
Um ano depois, a 1 de maio 1983, já com protocolo com a Segurança Social, entra em funcionamento a resposta Centro de Atividades de Tempos Livres (CATL), com capacidade para 60 crianças.
Durante mais de duas décadas, a instituição desenvolveu a sua atividade num edifício pertença da Fundação Bissaya Barreto e só em 2006, com a construção de um edifício, pela Fábrica da Igreja, o Centro Paroquial pôde alargar as suas respostas à comunidade, com um Centro Comunitário, nascido do seio do Projeto de Luta Contra a Pobreza.
Dois anos volvidos, a 1 de Setembro de 2008, nasce a creche «Os Ouricinhos», com capacidade para 25 crianças.
Nos dias que correm, a instituição acolhe 19 petizes em creche e três dezenas no ATL, agora só pontas, mas que no verão chega às 40 crianças. O Centro Comunitário é frequentado regularmente por oito utentes, que duas vezes por semana vão à piscina, a Figueiró dos Vinhos, e durante as tardes desenvolvem outras atividades.
O início de funcionamento da creche foi promissor, o que levou a instituição a solicitar, em 2010, junto da Segurança Social o alargamento do acordo de cooperação de 25 para 33 crianças, tendo efetuado as obras necessárias, mas, mesmo assim, o pedido foi recusado.
“Tínhamos muitas crianças nessa altura”, recorda Maria Helena Correia, tesoureira do Centro, que entretanto viu esse número ser reduzido para 20 crianças protocolizadas.
Aliás, a instituição tem vivido dias de “sufoco” com a crescente diminuição do número de crianças em Castanheira de Pêra.
“Tivemos um ano que iniciámos o ano letivo com 14 crianças, o que foi uma asfixia para a instituição”, afirma a tesoureira.
No concelho há três IPSS e nenhuma se sobrepõe às outras, pois a Cercicaper dedica-se à área da deficiência, a Santa Casa da Misericórdia aos idosos e o Centro Paroquial à infância. A resposta que dá à terceira idade com o Centro Comunitário não colide com a resposta de Centro de Dia da Misericórdia, porque “há pessoas que preferem o Centro de Convívio, pois pensam que o Centro de Dia é o passo antes de ir para o lar”, explica Maria Helena Correia.
A redução significativa do número de crianças levanta graves problemas à instituição, porque os rácios de pessoal exigido e as verbas comparticipadas pela Segurança Social não ajudam à sustentabilidade.
“Para o ATL, exigem-nos uma animadora cultural e duas ajudantes de ação educativa durante as férias, portanto, com o pouco que a Segurança Social comparticipa, como vamos fazer face a estas despesas? Não chega para os funcionários e, depois, as mensalidades também são baixas, porque os rendimentos das famílias são muito baixos”, argumenta a tesoureira, ao que o presidente da instituição, o padre José Lopes Carvalho, acrescenta: “Quando vim do Seixo da Beira, que também é Interior, fiquei atónito com o valor das mensalidades aqui, que eram cerca de metade das de lá, onde havia bastantes respostas. Em relação há qualidade dos nossos serviços, temos cerca de metade dos alunos da escola, portanto, estamos bem”.
Obviamente, este é um cenário que coloca grandes problemas à gestão da instituição, que em termos financeiros é descrita pela tesoureira como “muito má”.
“Como é que a começar um ano letivo com 14 crianças, que depois vai aumentando ao longo do ano, as contas podem ser equilibradas?”, pergunta o presidente, respondendo de seguida: “Com 25 crianças até equilibrávamos as contas, agora com 15, que é o habitual! Bem, mensalmente temos um prejuízo de 2.500 euros, o que ao fim do ano são 30 mil. O pessoal é o mesmo, mas a receita é muito menor”.
A isto acresce que a instituição funciona ao longo de 11 horas de funcionamento, “de acordo com os horários das famílias, o que obriga a ter mais um funcionário”, aponta Maria Helena Correia.
Para obstar às dificuldades, a tesoureira revela que vão “pedinchando”, contando ainda com o apoio da Câmara, da Junta de Freguesia.
“Já recorremos ao Fundo de Socorro Social, numa altura em que estivemos mesmo para fechar portas, porque as dívidas estavam a acumular-se. A dívida já chegava aos 30 mil euros. Ainda tínhamos algum fundo de maneio, mas acabou com as obras de requalificação e de manutenção que fizemos no edifício”, relata, sublinhando: “E, de ano para ano, a situação vai-se agudizando, pelo que deixámos de ter fundo de maneio. Neste momento, não pagamos vencimentos sem chegar a comparticipação da Segurança Social. Não pagamos porque não temos dinheiro, pelo que se a Segurança Social falhar nós temos que falhar com os trabalhadores. Não temos outra possibilidade”.
E esta falta de capital que a instituição vive repercute-se no cumprimento de algumas exigências, o que deixa sempre no ar a probabilidade de surgir uma coima, para além de que intervenções necessárias têm que ser constantemente adiadas por falta de verba.
“A lei exige-nos muita coisa, tal como as medidas de autoproteção, que ainda não temos, mas está tudo encaminhado. Precisamos é de dinheiro para avançar! Também precisamos de fazer uma intervenção no parque infantil, mas não há verbas. Vamos andando sempre coxos e sempre à espera que alguém nos ajude. Temos uma única carrinha que é do Centro Comunitário e que veio do Projeto de Luta Contra a Pobreza, em 2006, e já não era nova, portanto, já tem mais de 15 anos”, lamenta Maria Helena Correia, que destaca ainda: “A instituição não tem nada! Nem o edifício nem o mobiliário é nosso, é da Fábrica da Igreja com o qual temos um acordo de comodato por 25 anos, sendo que todas as obras são a nosso cargo. Nós até nos poderíamos candidatar a alguns fundos, que os há, mas precisaríamos sempre da nossa parte, porque nada é a 100%, e nós não temos”.
Sedeada na sede de um dos concelhos mais fustigados este verão pelos incêndios, o Centro Paroquial de Solidariedade Social de Castanheira de Pêra também tem estado desde a primeira hora no apoio a quem foi afetado pelo fogo.
“Logo no primeiro dia, que foi um sábado, as nossas funcionárias, por elas, foram colaborar na cozinha que foi instalada nos bombeiros. Tivemos a assistente social e a educadora social no terreno a fazer levantamento das necessidades e a nossa carrinha também tem andado no terreno. A nossa carrinha tem dado apoio, todas as manhãs, aos Médicos do Mundo que têm andado aí no terreno a distribuir alimentos”, conta Maria Helena Correia, que refere ainda um trabalho importante mas pouco visível, que foi “o apoio às crianças”: “Nos dias do fogo e seguintes estava tudo fechado e os pais precisavam de ter onde deixar as crianças. Nós tivemos aqui as crianças da escola e do pré-escolar, cujos funcionários são camarários e estavam todos mobilizados em torno dos incêndios”.
Para a tesoureira, “não foi tão visível, mas foi uma retaguarda importante no que se passou, logo a partir de domingo”.
Questionado sobre qual a grande virtude da instituição, o padre José Lopes Carvalho não tem dúvidas de que é o “bom serviço”.
“É o serviço que presta, um serviço de qualidade e é isso que nos move. Se não fosse isso já tinha fechado a instituição, porque isto é um sufoco. A instituição vive exclusivamente para o dia-a-dia, chega ao fim do ano com prejuízo, que não é contabilístico, é financeiro, porque não há mesmo dinheiro. Continuamos a manter-nos, apesar do senhor bispo já ter dito para quando não der mais fechar, mas tenho muita relutância em fechar, porque depois para onde vão as crianças?”, questiona, lembrando que o concelho não tem outra resposta de creche.
Sentindo pouco apoio da comunidade local, apesar de reconhecer o trabalho importante que é feito, especialmente, com as crianças, o presidente da instituição dá um exemplo da forma como a população apoia o Centro: “A Diocese decidiu que os ofertórios de 2 de julho fossem para as vítimas dos incêndios, o que anunciei nas paróquias e nas capelas. O Coentral, uma paróquia que não tem mais de 50 pessoas, contribuiu com 213 euros, uma capela aqui próxima com 135 euros e Castanheira de Pêra, com cerca de duas mil pessoas, contribuiu com 90,65 euros. Por aqui já vê a generosidade das pessoas de Castanheira”.
No entanto, reconhece que “as pessoas acham que o Centro presta um bom serviço, mas contribuir é outra coisa”, ao que Maria Helena Correia acrescenta: “E acham que temos o dever de ter cá as crianças. Há pais que põe cá os filhos e esquecem-se que têm mensalidades para pagar. O regulamento estipula que ao fim de um período de tempo sem pagar, a criança pode ser suspensa da frequência, mas se nós fizéssemos isso caía-nos o Carmo e a Trindade. E depois não podemos fazer isso às crianças, que não têm culpa”.
E esta é outra situação que agrava a já delicada saúde financeira da instituição.
“Temos alguns valores em atraso, especialmente na creche, e já não sabemos o que havemos de fazer”, lamenta a tesoureira.

Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)

 

Data de introdução: 2017-09-02



















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