ENTREVISTA COM LORA PAPPA

Instituições portuguesas devem estar orgulhosas

Já chegaram a Portugal os primeiros cinco refugiados menores não-acompanhados, que há muito estavam nos abrigos da METAdrasi, a Organização Não Governamental (ONG) que na Grécia tem liderado e tomado em mãos o acolhimento dos refugiados mais jovens que ali chegaram sozinhos.
Lora Pappa, a presidente da METAdrasi, acompanhou a vinda dos cinco jovens afegãos até Portugal, levando daqui “uma grande força para continuar” pela “energia” que as instituições portuguesas lhe transmitiram.
A vinda de Lora Pappa ao nosso País serviu ainda para formalizar o protocolo de cooperação entre a METAdrasi e a CNIS para o acolhimento e integração de refugiados menores não-acompanhados.
Como o SOLIDARIEDADE tem dado conta, a depois da viagem à Grécia do padre José Baptista e de Ana Rodrigues, a CNIS tomou em mãos, em concertação com o Governo, o acolhimento dos jovens que por diversas razões se viram obrigados a fugir dos seus países e sós chegaram ao país helénico.
“Portugal mostrou o caminho da solidariedade e isto é a primeira vez que está a acontecer. Em 25 anos neste trabalho com refugiados, nunca irei esquecer este momento, porque, apesar de dizermos que é impossível fazer uma série de coisas, há muitas coisas que são possíveis de fazer quando há vontade”, sustenta Lora Pappa, que sobre o acordo com a CNIS releva a importância da sociedade civil em todo o processo de acolhimento: “A demonstração da solidariedade entre os povos é dado pela sociedade civil, através do trabalho feito pelas ONG como a METAdrasi, a CNIS e outras, mas é importante que os políticos cumpram as promessas que fazem”.
Para a presidente da METAdrasi, que o SOLIDARIEDADE entrevistou na sede da CNIS, “este exemplo deve ser divulgado e a população deve erguer-se e relembrar à União Europeia (UE) o que é a solidariedade”.
“A UE tem 500 milhões de habitantes e está a entrar em pânico por causa de uns milhares de refugiados. É caso para pensar na forma como países terceiros olham para a UE, quando alguns pequenos países acolhem 1,5 milhões de refugiados. Por exemplo, a Turquia tem 3,5 milhões de refugiados! Que imagem damos nós a estes países? É uma imagem de egoísmo, porque fechamos as fronteiras, não queremos ajudar ninguém e fechamo-nos sobre nós próprios”, justifica, acrescentando: “O que sinto é que Portugal é um País que devia ser muito mais ouvido por outros países, que terão de entender que é incontornável que temos que acolher os migrantes e, por outro lado, o que é a solidariedade, porque de alguma forma parece que perdemos a noção da solidariedade”.
Considerando o entendimento entre a METAdrasi e a CNIS uma “luz ao fundo do túnel”, Lora Pappa afirma: “A primeira coisa que gostaria de destacar, e que é um exemplo, é a cooperação entre a sociedade civil e o Estado. É algo que não acontece na Grécia nem noutros países da Europa. Em Portugal há uma muito boa cooperação entre o Estado e as ONG e isso é algo excelente. Não começámos em grande, cinco refugiados não é um grande número, mas é muito importante, porque é simbólico e é uma afirmação clara de que é possível ultrapassar os obstáculos burocráticos quando há vontade de ajudar. Este é, de facto, um exemplo excelente do que pode ser feito e uma luz ao fundo do túnel e na METAdrasi vamos tentar disseminar este exemplo. Temos recebido alguns contactos de organizações de outros países, mas eles ficam sempre muito céticos, mas agora posso dizer-lhes que é possível e posso apresentar o exemplo de Portugal”.
Dirigindo-se às IPSS que, sob coordenação da CNIS, estão prontas para receber estes “filhos de um Deus menor”, como Lora Pappa lhes chama, a presidente da METAdrasi diz que “devem estar orgulhosas, porque apesar de serem apenas cinco é um começo e é muito bom”.
Apesar da enorme abertura de Portugal para acolher estes jovens que estão bloqueados na Grécia, Lora Pappa é perentória: “Se alguém me dissesse que Portugal recebia agora 1.200 destes miúdos eu diria que não, porque estamos na União Europeia e os outros países devem acolher estes menores também. Apesar de haver uma grande pressão sobre as ONG gregas, porque não têm solução para estes jovens, temos que ir devagar e com cuidado. Depois de ter trazido estes primeiros cinco miúdos para Portugal estou muito otimista. A solidariedade e este coração aberto que aqui encontrei dá-me grande força para continuar”.
Sobre a situação atual que se vive na Grécia, em geral, e na METAdrasi, em particular, Lora Pappa continua muito preocupada.
“Neste momento temos 1.200 menores não-acompanhados fora dos abrigos, em campos de refugiados ou em centros de detenção, pelo que é impossível pedir a um País que criou 1.200 lugares em um ano apenas que crie mais 1.200 lugares. E isto é impossível de fazer rapidamente e estes miúdos continuam a viver em condições de grande insegurança”, revela, acusando: “Os políticos têm que ter soluções de longo-prazo e não estar sempre na expectativa e reagir a posteriori, em vez de serem proativos. Na generalidade não confio nos políticos, e há uma crise de confiança instalada, mas, por vezes, penso que os políticos também não confiam nas pessoas. No pico da crise dos refugiados, na Grécia, centenas de pessoas vindas de toda a Europa e de outros locais no mundo disponibilizaram-se para ajudar a METAdrasi. E isto surpreendeu-nos. Muitas vezes estas pessoas não têm voz, ao contrário de outras que são contra os migrantes e que falam muito alto, mas seguramente não são a maioria. As pessoas querem ajudar e são solidárias”.
Por outro lado, o “maior receio é não haver um plano b, caso aconteça algo este verão, isto é, se os números crescerem de forma descontrolada, não há um plano b e a Grécia não conseguirá aguentar mais uma grande vaga de refugiados”, argumenta Lora Pappa.

Pedro Vasco Oliveira (texto)

 

Data de introdução: 2017-04-13



















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