ASSOCIAÇÃO DO PORTO DE PARALISIA CEREBRAL

Trabalhar por uma plena inclusão

O primeiro grande salto qualitativo na prestação de serviços da APPC foi a criação, logo em 1975, do Centro de Reabilitação do Porto, que hoje serve 1.400 utentes e, entre outras respostas, é o maior centro prescritor de produtos de apoio do País.
Com o firme propósito de trabalhar a inclusão, a APPC tem a esmagadora maioria dos seus serviços abertos a toda(s) a(s) comunidade(s), com e sem deficiência.
“A unidade residencial da Villa Urbana é o único serviço exclusivo para pessoas com paralisia cerebral. Os CAO são para multideficiência, sendo a paralisia cerebral critério de prioridade, mas os demais serviços que existem na Villa Urbana de Valbom são para pessoas com e sem deficiência, seja ela qual for. Nos restantes serviços de todos os polos o critério é a faixa etária e não a condição de saúde”, explica Liliana Araújo, diretora-técnica da Villa Urbana de Valbom, a coqueluche da APPC, por ser o equipamento onde a inclusão é trabalhada mais a fundo.
Isto é, na Villa Urbana, polo de Gondomar, partilham o mesmo espaço crianças, dos três aos 12 anos, com e sem deficiência, e jovens e adultos com paralisia cerebral ou portadores de outras deficiências.
No mesmo espaço, para além da unidade residencial, que acolhe 32 utentes, e um CAO, frequentado por 30 utentes, existe ainda um jardim-de-infância, com 70 crianças, um ATL, com 40 petizes, e ainda um Centro Comunitário, que trabalha com 98 utentes, sendo que apenas 50 estão cobertos por acordo de cooperação. Depois, e porque a APPC, desde setembro de 2014, possui também uma creche, com 28 bebés, dos quatro meses aos três anos, estes frequentemente participam em atividades na Villa Urbana.
Ou seja, a Villa Urbana da APPC é um projeto de inclusão, que nasceu por causa da unidade residencial, mas que pretende, acima de tudo, trabalhar a integração das pessoas com paralisia cerebral e não só.  
“A grande vantagem deste espaço e do funcionamento da Villa Urbana é que desde os três anos, porque a creche não é neste espaço físico, eles fazem tudo em conjunto, em espaços como o refeitório e outros que são comuns”, frisa Liliana Araújo.
Mas a APPC é muito mais do que a Villa Urbana. Dividida em três grandes polos – Porto, Maceda e Gondomar –, a APPC gere ainda mais CAO (55 utentes), um CAO Ambulatório (50), uma unidade residencial temporária (22), um Centro de Recursos para a Inclusão (565), duas ELI – Equipas Locais de Intervenção (Porto Oriental e Gondomar), uma Cantina Social (64 refeições/dia), um Gabinete de Ajuda Mútua (quatro grupos com cerca de 40 pessoas), um GIPI – Gabinete de Inserção Profissional Inclusivo, um Centro de Recursos para o Emprego, uma Academia de Pais, desenvolvendo ainda diversos projetos, na área do teatro ou do Desporto Adaptado. Aliás, relativamente a este último, a APPC conta entre os seus com um campeão do mundo e um medalhado de bronze por equipas nos Paralímpicos do Rio2016 em boccia.
E se a infância, a terceira idade e a deficiência estão abrangidas pelas valências da APPC, também os jovens ali têm lugar.
“Este ano terminámos um projeto que era o Espaço Jovem, que criámos porque o ATL termina aos 12 anos, com o qual dávamos resposta a jovens até aos 18 anos. E, em substituição, este ano lançámos um outro projeto com o apoio do Jumbo e criámos o Playground Digital, onde funciona um serviço pós-escolar para jovens até aos 18 anos, com e sem deficiência”, revela a diretora-técnica da Villa Urbana, que acrescenta: “Tem um funcionamento inclusivo para qualquer criança ou jovem que precise de uma resposta pós-escolar. E esta resposta tem três vertentes muito importantes, que são a ocupacional, a nutricional e o emprego. Como também somos Centro de Recursos para o Emprego (CRE), os jovens que por aqui passem e tenham deficiência serão mais precocemente preparados para o trabalho. Daí este projeto ser mais completo do que o anterior”.
Quando entrou em funcionamento em 2004, a Villa Urbana já carregava consigo o propósito de ser um espaço inclusivo.
“Por alguma razão este equipamento arrancou com o ATL, apesar de o grande propósito ser a criação da residência. Assim, quando os utentes vieram para os apartamentos, as crianças já cá estavam. Ao contrário seria mais complicado”, reconhece Abílio Cunha, presidente da APPC e também ele com paralisia cerebral, sublinhando: “Desde o início que, no âmbito do objetivo da inclusão, quisemos que este edifício fosse da comunidade e para a comunidade”.
Há 12 anos ali instalados, com o jardim-de-infância a funcionar desde 2010, Liliana Araújo mostra-se agradada: “As nossas expectativas em relação à abertura da sociedade foram largamente superadas. Por exemplo, nós nunca fechamos o portão e isso fazia muita confusão aos pais das pessoas que vinham para cá residir. Porém, estamos a falar de pessoas que sempre viveram em casa dos pais e que vêm para cá por vontade própria. Estas não são pessoas institucionalizadas porque, por exemplo, os pais já não conseguem cuidar deles. Não, são pessoas que sabem o que fazer com a sua própria vida, que têm projetos, que durante o dia saem para trabalhar, para estudar ou para programas ocupacionais. Como qualquer pessoa, com 20 e tal ou 30 anos, estas pessoas querem ter uma vida independente. E para os recebermos bem temos que ter a comunidade muito bem trabalhada ou, então, vamos ter aqui algo muito isolado. O que fizemos foi informação sobre como atender pessoas com paralisia cerebral na Junta de Freguesia, na PSP e nas grandes superfícies, criando uma rede para atender estas pessoas quando cá chegassem. E hoje eles vão ao supermercado e não são tratados como uns coitadinhos. Toda a comunidade foi convidada a vir conhecer a instituição e temos já diversas parcerias”.
É nesta perspetiva que surge a creche, em 2014, “uma necessidade que os pais tinham manifestado”, realça Liliana Araújo e que Abílio Cunha complementa: “Primeiro, era um serviço que ainda não tínhamos, depois, é uma evidência que cada vez há menos crianças e, como temos um ATL e um jardim infantil, temos que ter alimento para eles. Este ano, pela primeira vez, conseguimos ter logo em setembro a lotação total. As salas iam enchendo ao longo do ano, mas fruto da nossa aposta na creche, este ano enchemos o jardim infantil logo no início do ano letivo”.
No entanto, criar o pré-escolar e abraçar a creche foi “uma aventura, que ainda meteu uma rasteira”, explica Liliana Araújo: “Tudo nasceu de um erro na cota do terreno, que criou mais um piso no edificado, para onde nada estava previsto, e que funcionava para estacionamento de viaturas. Entretanto, surgiram uma série de projetos para lá, mas que não nos interessavam. Então, em 2007, no âmbito do alargamento da rede de pré-escolar, nós candidatámo-nos. A Carta Social dizia que havia necessidade, o centro infantil, aqui ao lado que é da Segurança Social, tinha previsto fechar as salas de pré-escolar, ficando só com a creche, pelo que o parecer foi-nos bastante favorável. Fizemos a construção de quatro salas para 100 crianças, mas o acordo de cooperação não saiu… e o centro infantil não fechou as salas”.
Esta situação criou graves constrangimentos à instituição, que “suportou todos os custos durante um ano, praticando mensalidades como se houvesse acordo”, só que “a situação ficou incomportável e acabaram por ficar apenas os que conseguiam pagar a mensalidade máxima”.
Entretanto, a Segurança Social protocolizou a valência com a APPC e “a resposta conseguiu sobreviver”. E se ainda houve um ano em que acolheu 90 meninos (a capacidade estabelecida é de 99), a instituição optou por se ficar pelos 70, por questões de segurança económica.
Com a conhecida redução da taxa de natalidade e face às elevadas listas de espera para a resposta de CAO, porquê abrir uma creche e não mais um CAO?
A resposta sai pronta a Liliana Araújo: “Por duas razões óbvias, uma financeira e de sustentabilidade clara e outra pela nossa missão enquanto acompanhantes de pessoas com deficiência”.
Para a diretora-técnica, optar por mais um CAO seria desvirtuar o propósito da Villa Urbana: “A primeira é uma razão de sustentabilidade, os CAO dão um prejuízo gigante. O peso da deficiência é muito grande, por exemplo, em termos de pessoal. O rácio que nos pedem para a unidade residencial para 32 utentes é de 14 auxiliares. Nós temos 21 e não chega. É um investimento da APPC muito grande. Por outro lado, na resposta à infância não é assim, o que dá para equilibrar as coisas. Outro CAO neste edifício mataria o equipamento. A segunda razão óbvia é o propósito para o qual este edifício foi pensado, ou seja, para ser inclusivo e não só para a deficiência. Assim, mais crianças, mais pais, mais informação à comunidade sobre a deficiência, mais facilmente a inclusão acontece”.
Gerir uma casa tão grande não é fácil, mas desde 2008 que a Direção pratica uma política de gestão assente na descentralização, com cada um dos três polos a ter autonomia em determinadas matérias, libertando assim a cúpula para questões mais políticas.
“Fazemos uma gestão partilhada, em que raramente se vê quem lidera, porque toda a gente é convidada a dar o seu contributo”, sustenta o presidente Abílio Cunha, que sobre as finanças da APPC diz: “A nossa gestão tem sido muito ajuizada e temos conseguido manter as contas dentro do que é exigido a estas instituições. Não esqueçamos que o nosso orçamento é de quase cinco milhões de euros!”.
Quanto ao futuro, o grande projeto passa pelo edifício-sede da APPC.
“A nossa sede, em Arca d’Água, é uma casa lindíssima do início do século passado, mas que só não cai porque é de pedra, pois o interior já não tem condições para funcionar e ainda lá temos um CAO. Já temos um projeto na Câmara para a zona da Asprela, onde temos um terreno cedido pela autarquia, para passar os serviços que temos na sede, em especial o CAO, e para criarmos uma nova resposta social”, refere Abílio Cunha, desvendando: “O que queremos ali fazer, no âmbito da inclusão, é uma residência universitária para estudantes com e sem mobilidade reduzida”.

 

Data de introdução: 2016-11-23



















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