ASSOCIAÇÃO QUINTA DAS PONTES, PENELA

Nova casa é mais-valia para a reabilitação dos utentes

A Associação Quinta das Pontes foi fundada, em 2001, por um casal de alemães, que criou uma comunidade sócio terapêutica. A expensas próprias e com apoio de uma instituição alemã, a Associação funcionou durante alguns anos com apenas quatro utentes, não tendo qualquer protocolo com a Segurança Social. Em 2004 foram assinados quatro acordos de cooperação com a Segurança Social, mas, como recorda Ana Catarina Pereira, presidente da instituição, “a ideologia do casal alemão não ia de encontro ao que é a Segurança Social e gerou-se uma situação complicada”.
Em 2007, ano em que a atual presidente entrou para a instituição ainda apenas como técnica, foi elaborado um projeto de alargamento das respostas sociais, no âmbito do PARES II, cuja candidatura foi aprovada, tendo, então, início um período de grandes mudanças.
“No final de 2007 entrei nesta casa como estagiária e o objetivo era desenvolver esse projeto, porque os alemães estavam completamente fora daquilo que é a burocracia e a realidade portuguesa. Nessa altura, comecei também a trabalhar com os utentes numa perspetiva da reabilitação psicossocial, como modelo de intervenção”, recorda Ana Catarina Pereira, que acrescenta: “A Associação trabalha com pessoas que tenham deficiência e doença mental grave, ou seja, duplo diagnóstico. Foi nessa transição que comecei a trabalhar com os utentes nessa vertente e com esse modelo de intervenção”.
Entretanto, o casal de alemães desligou-se do projeto e exigiu 500 mil euros pelo terreno e pela casa onde a instituição nascera e sempre funcionara. Como o projeto aprovado pelo PARES II se destinava a intervir nas instalações da Quinta das Pontes, perante a verba pedida pelos alemães, a instituição não tinha condições para avançar, pois, com apenas quatro utentes, “não tinha capacidade financeira para tal investimento”.
Entretanto, fruto do apoio da Câmara Municipal de Penela, que cedeu por comodato o terreno onde agora se ergue a nova casa da Associação, foi solicitado à Segurança Social a alteração da localização da construção.
“Nessa altura, os alemães disseram que não queriam continuar na instituição, pelo que se elegeu uma nova Direção. No entanto, eles não permitiram que continuássemos na Quinta das Pontes, pelo que passámos provisoriamente para uma casa no centro da vila de Espinhal”, conta a presidente, relatando que nem tudo foi negativo com esta mudança: “A experiência neste edifício fez-nos perceber que quanto mais integrados estivermos mais reabilitação conseguimos com os utentes, uma vez que o que trabalhamos é a autonomia deles. Nesse espaço estivemos a funcionar com uma licença provisória, que acabou por ser válida de 2010 até agora que mudámos para as novas instalações. Mesmo assim, conseguimos o alargamento de acordos com a Segurança Social”.
E se o passado foi, de certa forma, algo atribulado, o presente e o futuro afiguram-se promissores, face à entrada em funcionamento dos novos Lar Residencial e Residência Autónoma.
“No final do ano vamos iniciar, na cave deste novo edifício, a instalação do novo CAO, para depois também pedirmos o alargamento dos Acordos de Cooperação”, afirma, revelando que, apesar de a resposta ser frequentada por 12 utentes, só nove vagas estão contratualizados com a Segurança Social.
“O CAO ainda se mantém nas instalações no centro da vila, até porque tentamos ter atividades reais de ocupação que depois permita aos utentes aceder a bolsas de emprego. Temos parcerias com a Junta de Freguesia no âmbito da jardinagem e com a Câmara Municipal na área do catering”, explica a presidente, lembrando: “Para haver o alargamento de acordos no âmbito do CAO, temos que construir um novo espaço, pelo que já deixámos a cave do novo edifício preparada para poder receber essa valência”.
Mas se se pensa que a instituição está acomodada às novas instalações, puro engano. Aproveitando o ímpeto, a Associação Quinta das Pontes preparar-se para recuperar um projeto antigo, desta feita no âmbito dos Cuidados Continuados em Saúde Mental. Assim, está para breve a entrada em funcionamento de duas respostas sociais na área da Saúde Mental: a Casa Trevo, um projeto-piloto que é uma residência de apoio moderado, e um SAD.
“Em 2003, para conseguirmos receber e nos podermos candidatar a receber pessoas dos hospitais, tínhamos que ter uma infraestrutura para tal. Nessa altura, no âmbito da legislação dos Cuidados Continuados, criámos uma unidade de apoio moderado para receber este tipo de pessoas. Porém, a candidatura não foi deferida, mas a instituição ficou sempre com a casa que já tinha adquirido para o efeito”, recorda, explicando a nova vida do projeto: “Entretanto, em meados de junho foi-nos feito o convite para nos candidatarmos novamente e recebermos pessoas no âmbito de um projeto-piloto de Cuidados Continuados em Saúde Mental. A nossa candidatura incluía apoio moderado de capacidade máxima, ou seja, uma residência para oito utentes viverem em ambiente o mais familiar possível e em grupo, em que não há um período de tempo limite para a reabilitação, e também um Serviço de Apoio Domiciliário para 30 pessoas”.
Apesar de tudo, Ana Catarina Pereira deixa um lamento, face à lentidão de todo o processo: “Para já temos a candidatura aprovada e já tratámos da burocracia para entrarmos na Rede de Cuidados Continuados, mas neste País tudo o que tem que ver com Saúde Mental está um pouco para o parado e nunca mais nos disseram grande coisa. O que posso dizer, que é o que consta da nossa candidatura do SAD, é que queremos dar resposta ao Pinhal Interior Norte, que abrange os concelhos de Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos e Penela, onde há uma equipa de apoio comunitária com a qual pretendemos trabalhar em parceria. No entanto, para já, não temos certeza alguma de que será assim”.
Nas outras valências, a instituição acolhe utentes oriundos de todo o País, sendo que apenas uma utente é do concelho de Penela.
“Como temos acordo com o Centro Distrital da Segurança Social de Coimbra, tentamos que os utentes venham do distrito, mas temos utentes de Lisboa, Porto, Serra da Estrela e outros locais. No fundo, temos uma abrangência nacional”, refere Ana Catarina Pereira, que considera a distância de casa uma vantagem para a reabilitação dos utentes: “Acreditamos que conseguimos mais sucesso nos planos individuais de reabilitação com pessoas que são de longe. A única dificuldade é a articulação com as famílias e a falta de motivação que a ausência das famílias provoca nos utentes. Por vezes eles sentem-se como que abandonados pelas famílias, mas tentamos arranjar estratégias, como períodos de férias e fins-de-semana, para que eles se sintam envolvidos com as famílias. No entanto, sempre que são utentes oriundos do concelho e há alguma dificuldade, eles vão-se embora, o que não acontece com aqueles que são de mais longe”.
Financeiramente, a instituição já viveu momentos muito complicados. Porém, com o passar dos anos e o crescimento das valências, as coisas estão mais equilibradas e com futuro.
“No início foi difícil, mas tenho que referir a equipa fantástica da Associação, que quer muito avançar e mostra sempre grande apoio às estratégias da Direção”, diz a presidente, que revela o plano de fundraising que tem sido determinante para a sustentabilidade da instituição: “O facto de todas as atividades no âmbito do CAO serem em parceria, o que nos rende também alguma verba, é bastante importante. Fazemos muitos eventos. Nesse plano de fundraising temos, por exemplo, em Dezembro um passeio de todo-o-terreno (Os amigos do Natal), que entretanto já tem 500 participantes, e que num dia nos rende sempre cinco mil euros. Depois, desenvolvemos igualmente uma série de atividades anuais nas quais definimos sempre qual o destino a dar ao dinheiro que pretendemos angariar para que as pessoas saibam onde vai ser aplicado”.
Através dos eventos que promove, preferencialmente sempre estabelecendo parcerias, a instituição consegue reconhecimento e a divulgação do trabalho que se realiza no seu interior.
“Conseguimos o reconhecimento do nosso trabalho, uma vez que os utentes participam em todas as atividades e isso serve para atenuar o estigma que ainda há relativamente à deficiência e à doença mental. Esta é também uma forma para os melhor envolver na comunidade. Por outro lado, conseguimos a divulgação dos nossos serviços junto da comunidade e, assim, angariar mais donativos e doadores, que recorrentemente nos apoiam. Não é só a questão financeira, que é muito importante, mas também este reconhecimento do nosso trabalho e o envolvimento das pessoas com a nossa causa”.
Neste sentido, a certificação de qualidade conseguida em 2010 também tem sido determinante na evolução da instituição.
“Este foi um passo importante para aquilo que é a gestão da instituição ir de encontro aos requisitos da Segurança Social. Depois, com os hospitais, com quem também trabalhamos de uma forma muito estreita, a certificação e o bom trabalho na reabilitação dos utentes fez com que a Segurança Social e os demais serviços do Estado no vissem com outros olhos. Hoje temos uma articulação muito grande com os serviços públicos de saúde, porque há um entendimento de ambas as partes nos benefícios para os doentes destas sinergias”, afirma Ana Catarina Pereira.

 

Data de introdução: 2016-11-02



















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