CENTRO SOCIAL E PAROQUIAL DE S. PEDRO DE CASTELÕES, VALE DE CAMBRA

Construir um Lar é a grande ambição

O início de atividades do Centro Social e Paroquial de S. Pedro de Castelões reporta a 1995, apesar de ser um projeto que teve a sua génese uns anos antes.
Tudo começou com o Programa de Luta Contra a Pobreza, em que a instituição foi a entidade jurídica no concelho de Vale de Cambra, conseguindo aí uma vasta identificação das necessidades da comunidade.
“O Programa de Luta Contra a Pobreza é um dos marcos históricos na intervenção social daquilo que é hoje o Centro Social”, sustenta Rui Leite, vice-presidente da instituição.
Em 1997 foi constituído o Centro Comunitário, valência de maior abrangência territorial da instituição, sendo que a construção do edifício onde esta funciona ficou concluída em 1998. Nesta altura, a instituição era fundamentalmente voltada para o apoio à terceira idade, com o Centro de Dia, o Centro de Convívio e o Serviço de Apoio Domiciliário.
Com a chegada do novo Milénio, a instituição abraça as respostas sociais à infância, com a criação dom ATL no ano 2000, para quatro anos volvidos surgir a creche, “um investimento à volta dos 500 mil euros”. Em 2005 surgiu o Gabinete de Apoio à Família e em 2012 a Cantina Social.
O crescimento da instituição, que ainda alimenta a ambição de construir uma ERPI (Estrutura Residencial para Pessoas Idosas), ficou, para já, concluído em 2013, com “a finalização das obras de beneficiação e reconversão do edifício, a fim de o preparar desde já para a possibilidade de criar um Lar”, explica Rui Leite, que resume: “Começámos pela terceira idade, alargámos à infância e queríamos regressar à terceira idade. Este é um propósito claro, porque é a necessidade que identificamos. Quando projetámos a creche era, de facto, a principal resposta a dar, mas pouco tempo depois a resposta essencial a dar é a de lar para a terceira idade”.
A identificação desta necessidade tem fundamentos sólidos que estão plasmados no Censos de 2011, como refere o «vice» da instituição: “O concelho de Vale de Cambra é dos concelhos que mais envelhece no distrito de Aveiro e há sensivelmente dois anos estava identificada a falta de cerca de 100 camas em Lar aqui no concelho. Hoje poderá ser igual… Há uma migração muito grande dos jovens e o último Censos dá conta que o concelho perde população. Apesar de Vale de Cambra ser rica e ter uma componente industrial importante os jovens saem muito. Na parte da serra, na parte alta do concelho, verifica-se também uma grande dificuldade de fixação das pessoas, apesar de todos os acessos terem sido melhorados, e aí o envelhecimento nota-se mais”.
Numa altura em que passam 20 anos sobre a fundação da instituição, os seus responsáveis alimentam o sonho de continuar a responder às necessidades da comunidade que servem e, por isso, a construção de um Lar é o objetivo.
“Mantemos a ambição de erigir um lar. Prosseguindo a filosofia do Centro, o projeto principal é a construção do Lar, porque é uma necessidade”, sustenta Rui Leite, que sublinha: “Para além de ser uma necessidade, se não dermos essa resposta nos dias de hoje em que as pessoas começam a ficar sozinhas, também perdemos a oportunidade de complementar todo o apoio e até de as pessoas participarem mais. Esta é uma das formas de podermos melhorar o tipo de respostas. O projeto que temos é para 31 camas, que serão rapidamente ocupadas e, penso, que teremos, provavelmente, que pensar logo num alargamento”.
Fruto de uma boa relação com a comunidade, o dirigente está convicto de que quando a valência Lar for uma realidade a instituição poderá contar com um maior apoio da população.
“Pensamos que a contribuição e generosidade das pessoas para uma resposta destas poderá ser maior do que para as outras, como o Centro de Dia, por exemplo. Estou convencido que avançando para a construção de uma resposta destas conseguiremos uma maior generosidade das pessoas. Contudo, os números envolvidos é que nos assustam, pois são 1,5 milhões de euros, o que assusta quem acabou de investir 725 mil na requalificação de todo o equipamento”, explica, traçando o retrato da situação financeira da instituição, após o grande investimento na reconversão da casa-mãe: “A saúde financeira da instituição andou relativamente bem até este investimento que fizemos. Tínhamos um problema de manutenção do edifício que era necessário resolver. Este prédio foi construído numa altura muito semelhante a este que vivemos agora, em que as empresas de construção civil passavam um período mau, estamos a falar de 1998. A empresa que esteve na construção do equipamento faliu e, portanto, tivemos alguns problemas. Mas estava na altura de tomar uma atitude relativamente à manutenção do património. Então, concorremos ao PRODER, já com o sentido de no futuro Lar”.
Esta visão de futuro assentou nos dados recolhidos na comunidade, como refere Rui Leite.
“Aquando da abertura do Centro de Dia verificámos que havia uma vontade dos nossos utentes em ficarem cá e até porque, como comprovou o Censos de 2011, há muita gente a morar sozinha. Essa informação que fomos recolhendo alertou-nos sempre para a necessidade de construção de um lar, só que é muito caro”, sustenta, revelando a opção da instituição: “Já que tínhamos que fazer obra, aproveitámos e criámos todas as infraestruturas para, no futuro, podermos criar o lar num piso superior a criar”.
Para a intervenção de fundo no edifício, no qual foram investidos cerca de 725 mil euros, a instituição teve que recorrer à Banca, através de um empréstimo de 100 mil euros, contando ainda com a ajuda de um benemérito.
“Neste momento, a situação económica não nos preocupa, a situação financeira é minimamente equilibrada. É certo que não dá a possibilidade de avançar para a construção do Lar, porque para isso precisaríamos ainda de mais cerca de 1,5 milhões de euros, algo que terá que esperar por melhores tempos ou por algum mecenas”, assegura o vice-presidente, revelando que a instituição ainda vai contando com a boa-vontade da população: “Não nos podemos queixar. Optamos sempre por uma postura low-profile, mas na verdade sempre que batemos à porta das empresas de Vale de Cambra estas foram generosas connosco e ainda há aqui famílias que são generosas. Nesse aspeto não nos podemos queixar muito”.
Tendo uma relação com a comunidade muito boa, a instituição, segundo a diretora-técnica Deolinda Pinho, tem uma grande mais-valia no seu interior: “Temos uma pessoa muito importante connosco, que é o senhor prior Joaquim Martingo… Esta obra social deve-se a ele e à sua visão social. Ele é, sem dúvida, o grande motor da instituição, que consegue arrastar a comunidade”.
A relação com a comunidade é profícua e não se cinge à população, mas também às demais instituições do concelho.
“Nós vimos do Programa de Luta Contra a Pobreza, que envolveu todo o concelho e todas as instituições, que nos escolheram para sermos a entidade de suporte jurídico. E ao longo do tempo mantivemos essa parceria. Havendo as instituições sediadas nas várias zonas, mesmo assim havia respostas que era preciso cobrir e não faziam parte dos respetivos acordos de cooperação dessas instituições… E essa modalidade, que vem desde aí, mantém-se. Ao longo do tempo nota-se o dinamismo na criação de valências no Centro, que fomos criando em função das necessidades da comunidade”, explica Rui Leite, que sublinha a importância do trabalho em rede: “A questão da rede sempre nos foi muito cara e até nos trouxe alguns problemas com a Segurança Social, porque a resposta do Centro Comunitário é muito complicada em termos de Contabilidade, porque é uma resposta atípica. E isto ia contra o princípio do Programa de Luta Contra a Pobreza e da postura que sempre tivemos de trabalhar em rede”.
A este propósito, e refletindo o grande contributo do Centro Social e Paroquial de S. Pedro de Castelões para o dinamismo do apoio social no concelho de Vale de Cambra, Deolinda Pinho recorda o pioneirismo da instituição: “O facto de prestarmos serviços de qualidade, sempre com esta visão de futuro e dando resposta às necessidades das pessoas mais carenciadas foi uma pedrada no charco. Hoje as coisas vão evoluindo, mas na altura eram muito diferentes. O que nos marca é, de facto, o apoio às pessoas carenciadas, o que antes do Centro não existia no concelho”.
Nesse particular o Centro Comunitário é a bandeira da instituição, pois, sendo a resposta mais atípica, é também a que tem maior abrangência, que é concelhia.
“É uma resposta que tem uma frequência livre, onde funciona um Gabinete de Apoio à Família e à Comunidade em que apoiamos 100 famílias carenciadas. A isto acrescem alguns serviços que surgem no âmbito da parceria, nomeadamente o gabinete de fisioterapia e o Atelier de Som, em que no total apoiamos cerca de 150 pessoas”, revela Deolinda Pinho.
No âmbito do Centro Comunitário e nos diversos projetos ali desenvolvidos, a instituição oferece: Atelier de Som (frequentado por 140 pessoas), Éstudo (15), Reviver (7), Com Artes (15), Reabilitação (30) e ainda uma equipa de futebol feminino (20). Para além disto, no pavilhão polivalente, desenvolvem-se diversas atividades, desde zumba a pilates.
Por dia, o Centro apoia 360 pessoas e serve 243 refeições, trabalho desenvolvido por um quadro de pessoal de 43 funcionários, ao que acresce mais seis a recibo verde.
Por valência, a instituição acolhe 36 crianças em Creche, 36 petizes em ATL, 26 idosos em Centro de Dia, oito em Centro de Convívio e ainda 74 em SAD. Na Cantina Social, apesar de estarem contratualizadas 60 refeições/dia, o Centro serve, por estes dias, apenas 33.
“Na Cantina Social o número é flutuante. Como esta zona, a nível de emprego, vai dando resposta, a procura acaba por ser variável”, refere Rui Leite, ao que a diretora-técnica acrescenta: “As pessoas precisam da Cantina Social pontualmente. Um dos problemas do emprego no concelho é o facto de ser temporário e, muitas vezes, as pessoas precisam durante um período, mas depois deixam de precisar quando voltam a ter trabalho. Por isso, é muito flutuante a frequência”.
E se o grande objetivo futuro é a construção do Lar, os responsáveis pelo Centro acalentam ainda outros projetos, como um fórum sócio-ocupacional para pessoas com doença mental, uma vez que o concelho não tem qualquer resposta para a população adulta com doença mental. Mas tal como para o projeto lar, tudo está parado por falta de financiamento.
“Acabamos por ter essas pessoas a ser apoiadas em SAD e em Centro de Dia, mas onde acabam por não ter uma resposta específica para a sua doença”, refere Deolinda Pinho, que revela outra resposta que a instituição gostaria de poder dar, pois é uma necessidade identificada: “Também sentimos a necessidade de um apoio para pessoas sem-abrigo, para pessoas que sofrem de alcoolismo, mas são tudo situações complicadas de resolver sem financiamento”.

Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)

 

Data de introdução: 2015-02-23



















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