ASSOCIAÇÃO FRATERNA DE PREVENÇÃO E AJUDA, OVAR

Gabinete de Apoio ao Cuidador Informal é inovador, pioneiro e essencial

No passado dia 3 de julho, a Associação Fraterna de Prevenção e Ajuda (AFPA) celebrou 31 anos de existência e de trabalho em prol das comunidades do concelho de Ovar. A AFPA é um excelente exemplo do que é uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS), daqueles que espelham muito do que é o Sector Social Solidário. Nasceu para combater a problemática da toxicodependência e, hoje, acompanha pessoas com diversas disfunções e criou um gabinete de apoio ao cuidador.
Quando nasceu em 1988, a AFPA tinha um propósito muito bem definido e que hoje já nada tem a ver com a ação da instituição.
A constituição da Associação deu-se para lidar com a problemática da toxicodependência e desenvolver ações no sentido da resolução, educação e ajuda com alguns programas às pessoas toxicodependentes.
“A AFPA nasceu em 1988 numa altura em que essa problemática tinha muita influência e, nomeadamente, para os fundadores que eram pais de jovens que estavam muito preocupados com a questão da toxicodependência”, conta Maria da Conceição Graça, atual presidente da instituição sedeada na freguesia vareira de Esmoriz.
No entanto, a atual líder da AFPA apenas entrou para a Associação em 2008, “na altura como coordenadora técnica, em que fazia o ajuste das atividades que os utentes desenvolviam”.
A esta altura, a instituição já havia virado o foco da sua ação, porque a necessidade já não era a problemática da toxicodependência, mas mais o acompanhamento de pessoas com problemas motores.
A mudança de propósito da AFPA surge porque um problema acometeu o, então, presidente da instituição (XXXXXXX), que acabaria por conduzir a instituição para um outro caminho, onde as necessidades eram evidentes.
“Nesse tempo, a Associação era centrada na Oficina de Arte, Movimento e Bem-estar para pessoas que tivessem sofrido um AVC. Esse foi o motivo pelo qual entrei para a associação em 2008 e, nessa fase, foram reestruturados os estatutos para poder ter essa valência para pessoas com deficiência motora”, começa por explicar Conceição Graça, acrescentando: “Por volta de 2002, o presidente teve um AVC, tendo sido inclusive meu doente no hospital, e há uma fase em que está connosco três, quatro anos, mas depois, como é óbvio, teve que sair para os cuidados da comunidade. No entanto, quando chegou às clínicas convencionadas percebe a diferença no acompanhamento. Eu, francamente, também lhe fui metendo o bichinho de que as pessoas têm, passados aqueles anos de reabilitação e esta estabiliza, que aprender é a viver de forma diferente e em grupo. E estimulei-o muito a propósito de criar essa Oficina de Arte, Movimento e Bem-estar. E, então, ele desafia-me a, com ele e uma assistente social, desenvolver essa Oficina”.
Três décadas depois, a AFPA é a mesma instituição, mas tem uma ação e pessoas completamente diferentes, adaptadas à realidade volvidos 30 anos e com a mesma missão: servir a comunidade.
“Este foi o momento em que entrei para a Associação, inicialmente apenas como técnica, que contatava fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e da fala e até, por momentos, professores de História”, recorda, deixando um lamento: “Andámos a lutar com isso até 2014, sempre sem conseguir implementar algo como um centro de convívio. Esta era a nossa luta, ter um apoio da Segurança Social para um centro de convívio. Isto desgastou muito o senhor e os nãos sucessivos e as dificuldades económicas até para pagar os transportes e os terapeutas criou-lhe diversos constrangimentos e, em 2015, é quando eu avanço para a presidência. No mandato anterior ele já me tinha convidado para a Mesa da Assembleia Geral, mas quando ele saiu eu assumi a Direção”.
E, então, quando a AFPA renasce baseando a sua ação na Oficina de Arte, Movimento e Bem-estar, dando-se a alteração dos estatutos que apontam para “um novo foco da associação que é o acompanhamento as pessoas com múltiplas disfunções”.
“A associação não é para jovens, adultos ou seniores, mas é para todas as pessoas que tenham uma disfunção motora, independentemente da idade, e que precisem de acompanhamento. Os nossos utentes são pessoas que têm alguma alteração motora, relacionada ou não com alguma alteração cognitiva, pelo que o nosso foco não é apenas uma determinada patologia”, afirma a presidente, revelando o passo, entretanto, dado pela Associação: “O que se tornou diferente a partir de 2017 foi a integração da área dos cuidadores. Esse foi um passo interessante que demos, porque também foi uma oportunidade. Fomos convidados a aceitar um curso de cuidadores na comunidade e foi o desenvolvimento desse curso, juntamente com as pessoas que participaram, que se mantiveram amigas e outros que se juntaram, para fazer progredir a associação”.
É quando nasce o GACI - Gabinete de Apoio ao Cuidador Informal, um protocolo com quatro entidades parceiras (Câmara Municipal de Ovar, Hospital de Ovar, Liga dos Amigos do Hospital e Junta de Freguesia) para promover um dia de literacia, de educação na comunidade, que é composto por um painel sobre temáticas relacionadas com os cuidadores informais, e para além disso tem uma mostra de produtos e serviços.
“Já vamos na terceira edição, sendo o quarto já no próximo dia 5 de novembro. Um dos encontros será sempre nessa data, porque é o Dia Internacional do Cuidador Informal, e o outro em maio, consoante as nossas capacidades”, explica Conceição Graça, que sublinha o trabalho que a instituição desenvolve em “espaços como a piscina, com os programas de terapia aquática e natação adaptada”.
No entanto, lamenta a falta de um espaço para melhor desenvolver a sua ação na área dos cuidadores.
“O gabinete de apoio ao cuidador, em termos físicos, não tem um espaço definido. Estamos a aguardar uma resposta da autarquia. Neste momento, sendo virtual já tem algo muito palpável, pois já fez esta parceria que tem por propósito desenvolver, semestralmente, este dia de literacia”.
E algo que sucedeu após os primeiros dois dias do cuidador foi que os parceiros que foram à mostra apresentar os seus serviços passaram “a integrar a bolsa de responsabilidade social da Associação, na qual temos já oferecido massagens, tratamentos de osteopatia, de higienização dentária, consultas de medicina geral, manicure, pedicure e psicologia”.
E para que a seleção das pessoas a aceder a essa bolsa seja o mais transparente e eficiente possível, salvo algumas exceções de contactos diretos, “o acesso a essa bolsa de serviços, direcionada para pessoas carenciadas, é feita preferencialmente através da Câmara Municipal e da sua Divisão de Desenvolvimento Social e Saúde, onde são avaliados os candidatos”.
E nesse âmbito, a AFPA já estende a sua ação às freguesias de Válega, Ovar e Esmoriz, “tentando cobrir o território do concelho”.
Para além dos dirigentes e voluntários que participam na vida da AFPA, a instituição tem um corpo técnico formado por professor de natação e uma fisioterapeuta e ainda uma assistente social em part-time, o que é insuficiente segundo a presidente.
Porém, a instituição não tem condições financeiras para contratar, apesar de continuar a tentar. Prova disso é a candidatura ao Prémio Maria José Nogueira Pinto para conseguir ter dois técnicos (“uma psicóloga e uma assistente social”), durante dois anos… “A ver vamos se conseguimos”, sustenta.
“A Associação, financeiramente, vive de algumas candidaturas, como, por exemplo, a «Realizamos Sonhos», da empresa Yazaki Saltano, e alguns donativos, como o de um benemérito que já nos disse que podemos contar sempre com ele. Depois somos ainda apoiados pela Câmara Municipal”, revela Conceição Graça, repetindo o lamento pela falta de um espaço e de apoio estatal.
“Um dos projetos que já desenvolvemos através do Gabinete é um Grupo Coral, que, no fundo, é um grupo de ajuda mútua para cuidadores, e gostaríamos de conseguir um apoio da Segurança Social para esse grupo, a fim de podermos fazer saídas e outras atividades”, argumenta, lembrando: “Temos o desejo de voltar a abrir a Oficina de Arte, Movimento e Bem-estar, onde aí, sim, poderíamos ter uma espécie de centro de convívio. Nos dois anos anteriores abrimos a Oficina porque tínhamos uma parceria com um Centro de Dia que nos transportava os pacientes até ao seu espaço, onde as nossas técnicas trabalhavam com os nossos pacientes e alguns utentes dessa instituição, mas este ano não conseguimos abrir, porque essa instituição recebeu mais utentes e não tinha disponibilidade para as nossas deslocações”.
No início de junho, a AFPA realizou o seu I Torneio de Natação Adaptada, “um sonho que começou, há 27 anos, com a Associação Arco-Íris de Ovar, que, infelizmente, acabou em 2010”, conta a presidente, acrescentando: “E esse sonho de fazer um torneio que nasceu com a natação adaptada nessa altura, foi materializado com o impulso desta nova Direção da AFPA”.
“Eu não fazia parte deste sonho, mas quando entrei para a Associação foi-me atribuída a coordenação das crianças e senti que as mães tinham vergonha dos miúdos”, começa por dizer Graça Coelho, da Direção da AFPA, prosseguindo: “E o torneio é uma forma excelente para os miúdos sentirem a alegria de ganhar uma medalha e os pais terem orgulho neles. Para além disso, é também uma maneira de dar visibilidade a estas crianças e jovens. Um dos principais objetivos é dotar os nossos atletas de uma necessária motivação competitiva, dando-lhes a oportunidade de demonstrar as suas capacidades, independentemente das limitações de cada um”.
Na primeira edição do torneio participaram 25 nadadores, oriundos da AFPA, do Feira Viva e da Cercivar.
“Somos um grupo de voluntários grato por todo o tipo de apoio na realização deste sonho, que acreditamos fortemente que nos levará a realizar cada vez mais ações pela nossa comunidade”, afirma Conceição Graça, lembrando… “Quando o sonho existe, todo o sacrifício é Esperança!”.

Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)

 

Data de introdução: 2019-08-05



















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