PRESIDENTE DA UIPSS DE LEIRIA:

IPSS com mais leigos e menos padres

Solidariedade - Quantas IPSS se encontram filiadas na UDIPSS de Leiria?
Virgílio Francisco
- Temos cerca de cem instituições filiadas, para um total de 180 existentes no distrito. Em 2004 registámos a entrada de 40 novas filiadas, número que consideramos bom, mas não nos deixa descansados. Pretendemos continuar o trabalho de sensibilização, informando as IPSS da nossa actuação e das vantagens em se encontrarem filiadas. 

Solidariedade - As filiadas recorrem muito aos vossos serviços?
Virgílio Francisco
- O apoio que nos é pedido não difere, pelo que tenho lido nas entrevistas dos meus colegas, do que acontece nas outras UDIPSS. São fundamentalmente as questões laborais que suscitam um maior número de pedidos. Muitas instituições nasceram num sistema familiar, foram crescendo, profissionalizando-se. As exigências são hoje maiores, a complexidade é crescente, há mais profissionalismo. Os conflitos laborais emergem, em minha opinião, como fruto desta transição. 

Solidariedade - O espírito do voluntariado a perder-se nas IPSS?
Virgílio Francisco
- Perdeu-se parte desse espírito de voluntariado, do entusiasmo de outros tempos. É a outra face do profissionalismo, de uma época em que se pressente muito a comercialização das relações. Isto vale tanto a nível laboral como nas próprias relações humanas. A tentação para a mercantilização das relações humanas é grande. Tudo isso nos desafia, é um grande desafio. É preciso recuperar o espírito inicial de boas vontades. A exigência do profissionalismo, de que não devemos abdicar, antes fomentar, não deve, no entanto, matar o espírito da boa vontade, da entrega ao próximo sem esperar nada em troca. 

Solidariedade - O distrito tem uma boa cobertura de IPSS, ou notam-se algumas lacunas?
Virgílio Francisco
- Creio que se nota alguma dificuldade na área da deficiência. Tenho essa sensação, apesar de não termos estudos que o comprovem. Mas não haverá resposta para todas as situações. Na parte respeitante aos idosos registamos a existência de muitos lares. No capítulo infantil também há muitas creches e ATL’s.

IDOSOS RETARDAM, CADA VEZ MAIS, A SUA ENTRADA NUM LAR

Um facto é notório: as pessoas idosas vão retardando, cada vez mais, a sua entrada num lar. Vivem-se mais anos, e entra-se mais tarde para o lar. Isto significa que muitos já entram com um grau de dependência significativamente acrescido em relação ao que acontecia há anos atrás. Maior dependência e um número mais elevado de doenças do foro psiquiátrico. Têm aparecido mais casos, ultimamente. Logo, temos que estar atentos a esta nova realidade, adaptarmo-nos a ela, para podermos dar respostas cabais às novas exigências. 

Solidariedade - Leiria é um distrito pujante, industrialmente falando. Notam-se repercussões da crise que o país atravessa?
Virgílio Francisco
- Em relação ao desemprego sim. Onde é que o notamos? Por exemplo, no facto de algumas pessoas não poderem pagar as prestações dos familiares que têm nos lares, não conseguirem cumprir as suas obrigações. 

Solidariedade - E quanto à toxicodependência?
Virgílio Francisco
- Há núcleos preocupantes. Trata-se de uma área mais difícil. Tem-se feito algo ao nível da prevenção. Acho esta faceta muito importante, a valorizar e implementar ainda mais. Devíamos avançar para estratégias que implicassem toda a comunidade, que a envolvessem, numa perspectiva abrangente, em torno das tarefas preventivas. 

Solidariedade - Solidariedade ainda é muito Igreja?
Virgílio Francisco
- A Igreja continua a estar bastante presente no mundo da solidariedade. Muitas instituições nasceram de um impulso da própria Igreja. Muitos dos leigos que se encontram à frente das IPSS têm um papel activo na própria Igreja. E até os que não são crentes acreditam nos valores que a Igreja prossegue, os valores da solidariedade, da humanização. Isso é o mais importante. 

Solidariedade - Não o choca o facto de haver não-crentes dirigindo IPSS, é isso?
Virgílio Francisco
- Não me choca.

“NÃO ME CHOCA VER UM ATEU À FRENTE DE UMA IPSS”

Solidariedade - Isso vale também para os ateus?
Virgílio Francisco
- Não me choca ver um ateu à frente de uma IPSS. Em relação às instituições, sou de opinião que a Igreja deve estar presente mais pelos leigos do que pelos padres. É a aplicação do princípio da complementaridade. Adaptando, com as devidas ressalvas, aquilo que puder ser feito pelo mais pequeno não deve ser feito pelo maior. O que puder ser feito pelas IPSS não deve ser feito pelo Estado. O que puder ser feito pelos leigos, não precisa de ser feito pela Igreja. 

Solidariedade - E porquê?
Virgílio Francisco
- Para que os padres possam fazer aquilo que só eles sabem fazer, aquilo que só a eles compete fazer. Possibilitar-lhes mais disponibilidade para as tarefas específicas da sua função. Isto para não falar de outra vertente importante, já aflorada no início desta entrevista. A maior profissionalização das IPSS cria novas e pesadas responsabilidades aos padres, dificulta-lhes a sua acção pastoral. Têm que decidir sobre admissões, têm que resolver casos complicados, conflitos laborais, despedimentos… 

Solidariedade - Ou seja, têm que tomar partido…
Virgílio Francisco
- Exacto. Tudo isso tira ao padre a disponibilidade para ser de todos, para se entregar a todos por igual. 

Solidariedade - E, no entanto, tenho à minha frente um padre, representante das IPSS de todo um distrito…
Virgílio Francisco
- Entendo este meu desempenho como um contributo à sociedade. Recebi um convite honroso, e não podia dizer que não, virar as costas. E posso dizer que o balanço é positivo. Não me sinto plenamente satisfeito, porque acho que é possível fazer mais, temos que fazer mais, acompanhar mais a vida das IPSS. Temos necessidade de dirigentes novos, é uma batalha difícil de travar. Hoje em dia as pessoas andam muito ocupadas, seja a nível laboral seja a nível familiar. Há uma grande competitividade, e isso reflecte-se na dificuldade que sentimos para a renovação de alguns quadros dirigentes. 

Solidariedade - Também há "dinossauros" à frente das IPSS, é isso? Não apenas em algumas autarquias…
Virgílio Francisco
- Também há “dinossauros”, sim senhor. Em muitos casos, são uma pedra basilar do funcionamento das instituições. O que defendo é que se deveria ir procedendo a uma renovação, correndo a par com exigências de profissionalismo de que não deveremos abdicar nunca. 

Solidariedade - Quanto ao entrosamento com a CNIS…
Virgílio Francisco
- A CNIS é uma estrutura de suma importância. Hoje as políticas não são fáceis, as negociações a alto nível exigem uma preparação que as Uniões não têm. O trabalho das Uniões é importante, indispensável, mas a CNIS desempenha o seu papel a outro nível. É uma estrutura com peso reconhecido e, em minha opinião, devemos contribuir para que tenha cada vez mais peso.

 

Data de introdução: 2004-12-07



















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