PADRE MARINHO A. CIA

Faleceu um dos fundadores da União das IPSS

As instituições não são proprietárias, mas unicamente administradoras de um produto que se lhes confiou. Para que a confiança dos doadores não seja defraudada e a canalização dos contributos seja eficaz é absolutamente necessária uma organização eficiente que possibilite uma administração correcta, mas sem esquecer nunca de imbuí-la de um profundo sentido evangélico”.

Padre Marinho Apezteguia Cia. 1920 – 2007

O Padre Marinho Apezteguia Cia, Fundador da UIPSS e Director-Fundador do Centro de Caridade Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, no Porto, faleceu no passado dia 29 de Agosto na instituição que ajudou a criar. Marinho A. Cia tinha 87 anos e padecia de doença prolongada que o obrigava, nos últimos tempos, a uma situação de dependência e algum isolamento.

Marinho Cia era sacerdote Redentorista, diplomado em Música e Canto Gregoriano. Foi professor no Seminário Redentorista de Cristo-Rei; foi Director-Fundador do Centro de Caridade Nossa Senhora do Perpétuo Socorro; foi Membro da Comissão Permanente da Caritas Nacional Portuguesa.
Num momento débil da democracia portuguesa, foi um dos fundadores do movimento social que viria a resultar na criação da União das Instituições Particulares de Solidariedade Social. Com efeito, no II Congresso das IPSS, realizado no Porto, nos dias 14 e 15 de Junho de 1980, o sacerdote desempenhou um papel fundamental na congregação das vontades para que se retomasse a organização das instituições que havia sido interrompida em 2005, altura da realização do I Congresso.

Nos primeiros meses de 1979, um grupo de representantes das Instituições Particulares nas Comissões de Participação e Consulta junto das Direcções de Segurança Social tomou em mãos o desafio de organizar um congresso. O processo foi longo e sinuoso. As Comissões foram entretanto extintas e criaram-se os Centros Regionais de Segurança Social. Um grupo de Instituições do Porto, onde se incluía o Centro de Caridade Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, do padre Marinho Cia, contactou os promotores, aceleraram a iniciativa e não deixaram esmorecer o entusiasmo à volta da causa social.

Lê-se no livro do II Congresso que “para promover e levar a cabo esta iniciativa, foi criado, no decurso da mesma reunião, um Secretariado constituído por um membro de cada Instituição representada e escolhido como Secretário-Geral de todas as actividades de organização e realização do II Congresso das IPSS o Pe. Marinho A. Cia, Director-Fundador do referido Centro de Caridade.”
José Paínho, também fundador deste movimento social, recorda a vivacidade de um “homem cuja acção acabou por permitir a criação da União das IPSS”. José Painho, antigo presidente da UDIPSS de Santarém, destaca a “disponibilidade de Marinho Cia, que chegou a emprestar as instalações do Centro que dirigia para a realização do Congresso e da I Assembleia Geral.”

Ao contrário do que se pensa o padre Marinho Cia não chegou a ser presidente das IPSS ou da UIPSS. “Só porque não quis”, recorda José Paínho, “foi convidado insistentemente para que aceitasse liderar o movimento, mas recusou todos os convites. Acabou por ser o Padre Orlando o primeiro Presidente. Mesmo assim, foi um homem muito importante para a nossa causa. A União deve-lhe muito”.
O II Congresso realizou-se nos dias 14 e 15 de Junho de 1980, no Cinema Estúdio, do Centro de Caridade Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, no Porto.

O Secretário-Geral conduziu os trabalhos e fez uma intervenção de fundo sobre a Caridade. Preocupado com o desvirtuamento do sentido da palavra e do conceito, o padre Marinho citou Jacinto Prado Coelho, Eugénio de Andrade e Vergílio Ferreira, - para quem a palavra caridade significava decadência, esmola, submissão, humildade, resignação e devia ser substituída por “Justiça -, para os rebater com argumentos filosóficos, religiosos e de prática social. Escreveu que “não há oposição entre justiça e caridade. Mas não é possível intentar suprir uma por outra, como alguns pretendem. A justiça tem um papel intransferível no drama da existência humana. O nosso mal foi intentar muitas vezes que a caridade substituísse a justiça e vice-versa.” O sacerdote terminou a intervenção com uma exclamação ainda hoje plena de significado: “As instituições não são proprietárias, mas unicamente administradoras de um produto que se lhes confiou. Para que a confiança dos doadores não seja defraudada e a canalização dos contributos seja eficaz é absolutamente necessária uma organização eficiente que possibilite uma administração correcta, mas sem esquecer nunca de imbuí-la de um profundo sentido evangélico”.

Essa organização medrou e transformou-se em União e depois em Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade, CNIS, como hoje a conhecemos.
A morte do Padre Marinho Apezteguia Cia aos 87 anos é, por isso, uma perda para todos aqueles que diariamente se entregam de forma voluntária e despretensiosa ao cuidado dos outros, à caridade, como ele gostaria de lhe chamar.

O presidente da CNIS, padre Lino Maia, reconhece nele o perfil do dirigente social de que a actualidade carece. “O padre Marinho Cia é, para nós, mais do que um fundador. É um símbolo deste movimento que tentamos manter vivo e actuante. Os tempos que correm exigem homens com o perfil do antigo Secretário-Geral: um líder que assume as diferenças e que é capaz de remar contra as marés, dando sinais claros do caminho a seguir. Lamentamos a perda do padre Marinho Cia e aproveitamos esta oportunidade para endereçar os mais sentidos pêsames à família do Centro de Caridade Nossa Senhora do Perpétuo Socorro que o acolheu até aos últimos momentos.”

 

Data de introdução: 2007-09-14



















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