A CNIS, a Câmara Municipal da Guarda, a FITI e o Centro de Dia e Lar de Santa Ana de Azinha, também conhecido por Lar dos Afetos, assinaram o protocolo GuardAfetos, com o propósito de elaborar o Diagnóstico dos Serviços de Apoio Domiciliário prestados pelas IPSS do concelho da Guarda, mas também definir recomendações que visem uma maior adequação destes serviços às necessidades concretas dos utentes, das suas comunidades, procurando prevenir a doença e promover o bem-estar e a saúde dos utentes, numa linha inovadora e sustentável.
A intenção é adequar o Serviço de Apoio Domiciliário a uma população que vive isolada, em habitações, muitas vezes, sem as condições para que a pessoa tome um simples banho, que enfrenta inúmeros obstáculos para conseguir os medicamentos de que necessita. E porque estamos a falar do concelho da Guarda, não é displicente apontar as características climatéricas como um enorme obstáculo para pessoas idosas fazerem a sua vida normalmente.
Nesse sentido, Rosária Santos, presidente da instituição de Santana de Azinha, e José Carlos Batalha, presidente da FITI – Federação das Instituições da Terceira Idade, lançaram a ideia do projeto-piloto de um SAD feito à medida, primeiro, para a população servida pela instituição, mas o objetivo é alarga-lo, de seguida, a todo o concelho da Guarda e, posteriormente ao todo nacional.
A autarquia da Guarda associou-se ao projeto, tendo o edil Sérgio Costa subscrito o protocolo em nome do município, tal como a CNIS, “o grande chapéu desta iniciativa”, como referiu o dirigente Alfredo Cardoso na sessão de assinatura do protocolo.
Há ainda um quinto elemento nesta equação, que pretende implementar o projeto-piloto em Santana de Azinha, que é o Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP), da Universidade de Lisboa, a quem cabe, agora, proceder à definição do perfil e dos requisitos para o prestador de serviços, no âmbito do Diagnóstico dos Serviços de Apoio Domiciliário do Município da Guarda, um trabalho de inquérito porta a porta.
O valor da prestação de serviços de Diagnóstico dos Serviços de Apoio Domiciliário prestados pelas IPSS do município da Guarda, como a georreferenciação, a abrangência, os recursos afetos, as condições de funcionamento e os perfis de profissionais e de utentes, é de quase 48 mil euros. Este valor é um encargo da Câmara Municipal da Guarda, que deverá ser liquidado: 30% na assinatura do Protocolo; 40% a meio do projeto; e 30% na apresentação final de resultados.
O ISCSP está já a selecionar candidatos para o trabalho de campo, que deverá durar três meses. Os candidatos selecionados colaborarão no desenvolvimento do trabalho de campo, em atividades de recolha de dados quantitativos e qualitativos, bem como na sistematização/preparação desses dados para efeitos de análise e discussão, no âmbito deste projeto. O trabalho de campo será desenvolvido no Município da Guarda (deslocando-se às diversas unidades SAD e freguesias), sob a orientação da equipa de investigação.
No protocolo, assinado no passado dia 27 de agosto, ao Centro de Dia e Lar de Santa Ana de Azinha cabe ser o motor de promoção, mobilização e articulação dos diferentes atores sociais e decisores de vários níveis, conjugando os poderes e os saberes no contexto territorial, designadamente nas freguesias mais rurais, dispersas e desertificadas. Ou seja, a instituição vai ser o ator principal de algo que se quer replicado no futuro.
Por outro lado, à FITI cabe desenvolver o Diagnóstico dos Serviços de Apoio Domiciliário do Município da Guarda, elaborar um relatório final e o Policy Brief, com recomendações especificamente organizadas para o Município da Guarda e, ainda, organizar um Seminário final para apresentação de resultados, na componente científica e produção de conteúdos.
Já a CNIS “obriga-se a estimular e dinamizar a presente investigação, acompanhando o projeto, aprofundando e incentivando a cooperação entre os diferentes atores, levando às diferentes entidades do Estado os resultados que vão sendo obtidos e amplificando e divulgando também as respetivas recomendações”.
Na cerimónia de assinatura do protocolo GuardAfetos, que decorreu nos jardins da instituição de Santana de Azinha e perante utentes, trabalhadores e diversas personalidades locais, Rosária Santos afirmou que “este momento simboliza mais do que um acordo, representa a união de vontades em torno de uma causa nobre, a proteção, o cuidado e a valorização de cada pessoa”, acrescentando: “O GuardAfetos nasce da convicção de que só através da partilha, da cooperação e do afeto é possível construir respostas sociais verdadeiramente humanas e transformadoras”.
“O envelhecimento é um desafio cuja resposta tem de ser dada em rede, de forma articulada entre todos os atores, as autarquias, as instituições e outros”, começou por dizer Fernando Serra, vice-presidente do ISCSP, acrescentando: “Em muitos territórios, não litorais e de baixa densidade, o problema do envelhecimento é muito mais agravado. Há uma lista de espera enorme nas IPSS que apoiam o envelhecimento e, por isso, muitas pessoas não têm outra alternativa senão envelhecerem sós ou acompanhadas por uma pessoa também ela idosa ou sem as competências necessárias para os cuidados necessários”.
Revelando que a agilização dos trabalhos preparatórios para a ida das equipas para o terreno será mais rápida após a assinatura do protocolo, Fernando Serra mostrou-se confiante de que “esse retrato possa ajudar a promover práticas de cuidados domiciliários mais eficientes, abrangentes e relevantes para as pessoas que são seus beneficiários”, sublinhando: “Temos de encontrar outras formas de envelhecimento em casa, com qualidade e dignidade, e oxalá o nosso trabalho possa ajudar a fazer esse caminho”.
Por seu turno, Alfredo Cardoso começou por relevar a importância do projeto GuardAfetos, sublinhando que “este é um projeto muito mais vasto do que a instituição que o acolhe”, revelando que já há instituições à espera de resultados para poderem reproduzir o projeto: “Em Quiaios, na Figueira da Foz, estão ansiosos para ver o êxito deste projeto para o poder replicar”.
Ciente da importância que o GuardAfetos pode desempenhar na desejada e necessária alteração de funcionamento do Serviço de Apoio Domiciliário (SAD), o dirigente da CNIS sustentou: “Este projeto não pode falhar, porque é um projeto-piloto, mas tem a chancela da Academia e a população dá garantias e os parceiros dão garantias. Num momento em que mais 84 mil idosos passaram a aceder ao Complemento Solidário para Idosos (CSI), o SAD é a resposta adequada para manter a coesão social”.
Como um dos grandes instigadores da ideia do GuardAfetos, José Carlos Batalha a primeira palavra que dirigiu aos presentes foi “gratidão, desde logo, a esta casa, a esta região e a estas gentes”.
Enfatizando o carácter inovador do projeto, o presidente da FITI lembrou que tudo surgiu porque “era importante olhar para o Serviço de Apoio Domiciliário de forma diferente daquele que é o paradigma do serviço” e que passe a conjugar “serviço social, da alimentação, da higiene, da preparação e da medicação, com o olhar da saúde, atuando também para prevenir a agudização da doença”.
A grande virtude do GuardAfetos, para José Carlos Batalha é “a conjugação destas duas intenções: o olhar da saúde e o olhar social”.
O edil Sérgio Costa deixou o desafio “para que possamos acelerar este projeto”, porque é política do executivo camarário “desenvolver novas políticas para os nossos idosos”.
“Hoje são os outros, amanhã somos nós”, rematou o presidente da Câmara Municipal da Guarda.
Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)
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