ESTATUTO DO CUIDADOR

Instituições do setor social com reservas

As instituições do setor social manifestaram reservas sobre a criação do estatuto do cuidador, com a União das Misericórdias a defender um estudo sobre todas as dependências e um novo paradigma para o apoio domiciliário. 
"Se legislarmos agora podemos estar a fazer duplicações caríssimas para todos nós", disse no parlamento o presidente da União das Misericórdias Portuguesas, Manuel Lemos.
Durante uma audição promovida pelo grupo de trabalho para o estatuto do cuidador informal, na sequência das propostas apresentadas pelos partidos, Manuel Lemos recordou a falta de unidades públicas para cuidar de pessoas com demência, mas sublinhou que uma coisa é ter cuidadores informais e outra será "formalizar" os cuidadores informais, o que considerou uma "contradição".
"Talvez valesse a pena aproveitar o ´know-how´ que as instituições do setor social têm nesta matéria", disse, acrescentando que é necessário um novo paradigma para o apoio domiciliário que não se foque apenas em cinco dias por semana, sem cuidados médicos que obrigam os idosos a recorrer frequentemente às urgências hospitalares.
O projeto do Bloco de Esquerda, defendido pelo deputado José Soeiro, visa assegurar dias de descanso e outros apoios a quem muitas vezes tem de deixar de trabalhar para cuidar de familiares.
Neste sentido, preconiza também uma alteração ao Código do Trabalho para que seja tido em conta o trabalho do cuidador para efeitos de reforma. "Não estamos a falar dos cuidados formais que devem ser prestados pelas instituições. O que pretendemos é defender direitos e deveres. Definir quem são as entidades que podem reconhecer esse estatuto, estabelecer um plano individual de cuidados. Defendemos também o direito ao descanso e às férias, que é absolutamente fundamental", reiterou José Soeiro.

Em representação da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS), Maria João Quintela, afirmou que o estatuto em discussão não reflete a maioria feminina de cuidadores, face ao que o BE admitiu alterar a designação para "estatuto da pessoa cuidadora".
Face ao objetivo dos documentos que se encontram em sede de especialidade, a responsável da CNIS declarou: "Os cuidados precisam de ser valorizados e dignificados, não tenho a certeza absoluta de que precisem de um estatuto".
"É necessário que não se estrague por um estereotipo a bondade de quem presta estes cuidados", acrescentou, alegando que atribuir um estatuto a uma pessoa poderá contribuir para a sobrecarregar e desresponsabilizar a restante família.
As audições decorreram no âmbito dos diplomas que se encontram no parlamento para se tentar alcançar um texto comum, face aos projetos de lei do BE e do PCP e de resolução do CDS-PP e do PAN.
Em março, os diplomas para reforçar medidas de apoio ao "cuidador informal" e às pessoas em situação de dependência baixaram, sem votação, à comissão de Trabalho e Segurança Social por 60 dias.
O PCP sublinhou na altura que o seu projeto prevê medidas que "respondam à situação de todos os cuidadores por igual", propondo ainda o reforço do apoio às pessoas em situação de dependência.
O projeto de resolução do CDS-PP recomenda ao governo que considere as demências uma "prioridade social e de saúde pública" e elabore um "Plano Nacional de Intervenção".
O projeto do PAN recomenda também ao Governo a adoção de medidas de apoio aos cuidadores informais, nomeadamente apoio psicossocial e sessões de formação.

 

Data de introdução: 2018-06-06



















editorial

Financiamento ao Sector Social

Saúda-se a criação desta Linha de Financiamento quando, ao abrigo do PARES ou do PRR, estão projetadas ou em curso importantes obras no âmbito da transição ambiental e da construção ou requalificação de...

Não há inqueritos válidos.

opinião

EUGÉNIO FONSECA

Agenda do Trabalho Digno – um desafio às IPSS
Durante muitos anos, dirigi, com outras pessoas, uma IPSS. Em um pouco mais de metade das suas valências os utentes não pagavam. Nessas, os acordos de cooperação celebrados com o...

opinião

PAULO PEDROSO, SOCIÓLOGO, EX-MINISTRO DO TRABALHO E SOLIDARIEDADE

Maio, mês do recomeço e do trabalho
Desde tempos imemoriais que em certas regiões europeias se celebra maio como o mês do recomeço, do lançamento de um novo ciclo temporal, a meio caminho entre a Primavera e o...