EDITORIAL

Bento XVI em Portugal

1. Entre os dias 11 e 14 de Maio, o Papa Bento XVI estará em Portugal. Vem como peregrino. Para reavivar a fé, dinamizar a esperança, revigorar a caridade e fortalecer a unidade. ´
O programa da peregrinação papal inclui: “visita de cortesia ao Presidente da República”, encontro com o “mundo da cultura” e o “Primeiro-Ministro” e “Santa Missa”, em Lisboa, “visita à Capelinha das Aparições”, “celebração das Vésperas” com sacerdotes, “bênção das velas”, “Santa Missa” e encontro com as “Organizações de Pastoral Social” e com os “Bispos de Portugal”, em Fátima, e “Santa Missa” no Porto.
Não sendo a primeira visita papal a este País, porém, é a primeira vez em que é incluído no programa um encontro especial com as organizações de pastoral social.

Certamente para insistir na importância do “amor do próximo”, especialmente “para com as viúvas e os órfãos, os presos, os doentes e necessitados de qualquer género”, que “é um dever antes de mais para cada um dos fiéis, mas é-o também para a comunidade eclesial inteira, e isto a todos os seus níveis: desde a comunidade local passando pela Igreja particular até à Igreja universal na sua globalidade”. Também para reafirmar que “não precisamos de um Estado que regule e domine tudo, mas de um Estado que, segundo o princípio de subsidiariedade, reconheça e apoie as iniciativas que nascem das diversas forças sociais e conjugam espontaneidade e proximidade aos homens carecidos de ajuda. A Igreja é uma destas forças vivas: nela pulsa a dinâmica do amor suscitado pelo Espírito de Cristo. Este amor não oferece aos homens apenas uma ajuda material, mas também refrigério e cuidado para a alma”.

2. No encontro do Santo Padre com as Organizações da Pastoral Social estará um significativo grupo de 308 dirigentes de outras tantas IPSS filiadas na CNIS, ligadas ou não à Igreja Católica. Aliás, espelhando fielmente aquilo que, desde os seus alvores, é a organização representativa das IPSS, em que nas suas quase 2.700 Instituições há IPSS de erecção canónica (41%), Instituições de outras Igrejas e Instituições laicas ou não confessionais numa harmoniosa comunhão. Curiosamente, os primeiros dirigentes a manifestarem vontade de marcar presença no encontro com o Santo Padre foram precisamente dirigentes de outras Igrejas e dirigentes sem opção religiosa ou sem qualquer referência de transcendentalidade. Evidentemente, também, e em bom número, os dirigentes de Instituições de erecção canónica querem estar e vão estar onde certamente devem estar. O Santo Padre sentir-se-á em boa companhia e todos muito beneficiarão com o seu pensamento e com o seu magistério apostólico.

Na grande pluralidade e na firme coesão também radica a força da CNIS: espaço de todos para um serviço a todos e uma voz mais audível num mundo carecido de vozes credíveis e fortes. Isso não significa que, pelo número e pela especificidade, não seja chegada a altura de se justificar uma federação de centros sociais paroquiais ou de instituições de erecção canónica. Até para defesa da matriz que as individualiza no contexto da solidariedade social. Mas o estarem numa organização como a CNIS todas estas Instituições ligadas à Igreja com outras Instituições, é mutuamente vantajoso. Da matriz personalista e cristã em que umas são arautos, todas beneficiam; da matriz qualificativa e organizativa em que outras se arvoram, todas lucram. E, inequivocamente, a presença de todas numa organização como a CNIS, dá mais força à solidariedade e dá mais solidariedade à força. O que, por um lado, une transversalmente todas estas Instituições é a abertura para o todo e para o infinito que faz com que o ser humano seja humano; simultaneamente, o que também aproxima é a certeza de que o homem é homem porque se ultrapassa infinitamente a si mesmo, e por isso é tanto mais homem quanto menos fica fechado em si, “limitado”.

3. Na homilia que precedeu o início do Conclave que o elegeria como Papa Bento XVI, duas palavras-chave se destacaram no discurso do cardeal Ratzinger: verdade e misericórdia. Prenúncio?
Verdade significa o que é real ou possivelmente real dentro de um sistema de valores, o que implica o imaginário, a realidade e a ficção, questões centrais tanto em antropologia cultural, artes, filosofia e a própria razão. A misericórdia é a capacidade de fazer sintonizar o próprio coração com o coração de quem carece de expressões de um amor que envolve e que perdoa.
Talvez as palavras que precederam a sua eleição papal ajudem a compreender o seu pontificado.
A visita do Santo Padre a Portugal foi precedida de algumas notícias que provocam inequívocos incómodos na Igreja e na sociedade. E não satisfaz dizer que onde há homens há pecados: realiza o anunciar e o servir um ideal que se pratica e que liberta. E a Igreja convive muito melhor com o ideal que anuncia do que com o pecado de que se penitencia.

Também algumas vozes se ergueram para questionar o possível silêncio do Papa. Nada credíveis para atingir a sua pessoa, o seu magistério e o seu pontificado.
Pelo contrário: ao assumir uma postura de clareza, de transparência, de exigência e de verdade, Bento XVI indica um caminho que não deixará certamente de recolocar os servidores e a Igreja no seu lugar de perita em humanidade e de caminho para a humanidade.
A cruzada de purificação liderada por este Papa também é luz para as nossas Instituições: a razão da existência das Instituições é as pessoas. Pelo que a qualidade nas Instituições em que tanto se insiste não é apenas uma exigência na gestão ou nos equipamentos. Ainda é isso, sem dúvida. Mas a qualidade está sobretudo nas pessoas. Igualmente é todo um processo de capacidade de desenvolvida misericórdia, de contínua purificação, de inequívoca transparência, de iniludível exigência e de permanente verdade.
As Instituições de que todo o mundo carece são aquelas que são servidas por pessoas, que não se servem das pessoas, mas que estão ao serviço das pessoas.



Padre Lino Maia, Presidente da CNIS 

 

Data de introdução: 2010-05-05



















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