A morte não mata a vida

Depois de um fecundo pontificado de mais 26 anos à frente da Igreja Católica, João Paulo II - Papa Peregrino - como ficou conhecido, partiu, no passado dia 2 de Abril, para a sua última viagem. Esta, que aos olhos do mundo, parece não ter regresso mas, para quem acredita, ele viajou para junto do Pai e continuará a velar por todos nós neste mundo que ele tanto amou. Digo isto porque acredito que a morte não mata a vida, de contrário, não teria sentido continuar o nosso empenhamento a favor dos homens e mulheres do nosso tempo, principalmente daqueles que são mais desfavorecidos, nas diferentes instituições de solidariedade que gerimos em todo o país. O trabalho que desenvolvemos não é mais do que dar vida à vida, a começar nas crianças mais pequeninas que acolhemos nas creches das nossas instituições e a terminar nos cuidados que prestamos a milhares de idosos em lares, permitindo-lhes desfrutar de uma melhor qualidade de vida, depois de longos anos de canseiras e trabalhos.

O Papa João Paulo II deixa-nos um grande legado de amor pela vida, carinho para com os mais fracos e de denúncia profética das causas que provocam as injustiças que, por sua vez, trazem como consequências o aumento da pobreza, do desemprego, da delinquência juvenil, dos sem abrigo, numa palavra: fazem aumentar o número dos excluídos do nosso tempo. No início do seu pontificado apelou a todos os homens e mulheres de boa vontade, com a célebre frase: "não tenhais medo!...". De facto, ele não hesitou em enfrentar os poderosos, lutou contra as guerras com as armas da paz, da tolerância e do perdão. Aproximou povos, estados e religiões através de um diálogo sempre franco, aberto e isento de oportunismos. Só que os homens e mulheres com responsabilidades na política e na condução dos destinos do mundo, preferiram muitas vezes tapar os ouvidos perante o seu clamor a favor dos povos que todos os dias continuam a morrer, vítimas de guerras fratricidas, da fome e da intolerância.

Também nós, muitas vezes, ao contrário do que seria desejável, para não ferir susceptibilidades, preferimos evitar a verdade, contornar os problemas, fazer de conta que não vemos as injustiças a passar-nos ao lado e continuar a viver de "migalhas", que não dão para corrigir injustiças com mensalidades, com salários baixos e para prestar aos mais pobres serviços de merecida qualidade.

Nos últimos dias da sua estada neste mundo, João Paulo II quis mostrar que a vida é vencedora da morte. Que ele próprio não tinha nada a esconder, comunicando uma transparência de vida formidável. Os seus ensinamentos irão perdurar por muitos e muitos anos no coração de todos aqueles que partilharam e admiraram a sua conduta de vida. Também nós, dirigentes de Instituições de Solidariedade, temos ainda muito que caminhar, quer nos procedimentos, quer nas relações com as tutelas.
Temos que ter a coragem suficiente, à maneira de João Paulo II, de manter a cabeça levantada, de nos afirmar sem medos e, ao mesmo tempo, exigir que o nosso empenhamento seja reconhecido e dignificado. Não podemos permitir que a morte nos roube a vida, que todos queremos preservar e dignificar. 

* Membro do Conselho Fiscal da CNIS

 

Data de introdução: 2005-04-20



















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