1. Por decisão do Parlamento e do Conselho Europeu e com o lema “o nosso mundo, a nossa dignidade, o nosso futuro”, 2015 é o “Ano Europeu para o Desenvolvimento”. Tem como objetivos: informar sobre a cooperação para o desenvolvimento da União e dos respetivos Estados-Membros; fomentar a participação direta, o pensamento crítico e o interesse ativo na cooperação para o desenvolvimento, inclusive na formulação e execução das respetivas políticas; sensibilizar para os benefícios decorrentes da política de cooperação não apenas para os beneficiários da ajuda ao desenvolvimento da União mas também para os cidadãos.
2. O "ano europeu para o desenvolvimento" decorre quando já se sabe que, no próximo ano, metade da riqueza mundial estará nas mãos de cerca de 1% da população. É um número impressionante e que mostra como há muita coisa errada na distribuição da riqueza. Poucos com muito e muitos com pouco ou sem nada. É certo que a existência de quem cria riqueza é decisiva para o desenvolvimento, através da criação de emprego em larga escala, mas como se pode combater a pobreza e as desigualdades (mais de mil milhões vivem com pouco mais de um euro por dia) se, no final, grande parte do "bolo" fica nas mãos de poucos, alguns dos quais provavelmente à revelia do bem comum?
Os cultores da ciência económica, os operadores do sector e os responsáveis políticos devem advertir para a urgência de se repensar a economia, considerando, por um lado, a dramática pobreza mundial de milhões de pessoas e, por outro, o facto de que as atuais estruturas económicas, sociais e culturais sentem dificuldade em assumir as exigências de um autêntico progresso. As legítimas exigências de eficiência económica deverão ser mais harmonizadas com as exigências da verdade, da participação política e da justiça social. Em concreto, isto significa tecer de solidariedade as redes das interdependências económicas, políticas e sociais, que os processos de globalização em curso tendem a acrescentar.
3. Neste esforço de repensamento, que se perfila articulado e tende a incidir nas conceções da realidade económica importa ter presente aquele princípio segundo o qual os bens são bem quando ao serviço da pessoa toda e do maior número possível de pessoas. É também preciosa a cultura de uma verdadeira "civilização do amor" em que o imperativo do dom poderá levar a uma forma de vida assente e orientada para a verdadeira esperança. Civilização onde mais que querer ter um lugar, sobressai o querer ser e o procurar ser o lugar onde cada um se poderá encontrar consigo mesmo, com os outros e com o mundo. Será sempre uma civilização do bem maior, para o qual são orientadas vontades e bens, capacidades e dons.
Construir e contribuir para uma civilização do amor para o "Desenvolvimento do nosso Mundo, da nossa Dignidade e do nosso Futuro", implica audácia e capacidade de robustecer uma vivência do Encontro (como lembra o papa Francisco na Evangelii Gaudium). Vivência onde todos se reconhecem igualmente dignos, mas diferentemente capazes de sonhar e realizar as condições de vida que da relação leve à comunhão.
Assim se constrói uma sociedade onde o desenvolvimento coletivo se manifesta no crescimento de cada um e de todos e em que o desenvolvimento pessoal faz sentido, por ser parte de um desenvolvimento coletivo assente na justiça e na verdadeira solidariedade (aquela que solidifica a fraternidade), que não sinta vergonha em partilhar para assistir aqueles que mais necessitam, mas sempre na senda da plenitude da Pessoa toda e de todas as Pessoas.
Lino Maia
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