Allons enfants de la Patrie

1. Em França, o Presidente Chirac acabou por promulgar a lei proposta pelo governo Villepin sobre o chamado CPE - Contrato Primeiro Emprego.
Na resposta, adivinhava-se uma explosão social: greve e paralisação dos liceus (acho que em França ainda lhes chamam assim, ao invés do que o igualitarismo parolo fez em Portugal, que foi acabar com eles, por terem "marca de classe") e das universidades; luta acesa no mundo do trabalho, com a frente sindical ao lado dos estudantes, como sucedera em Maio de 68.
Ainda hoje se discute muito o fenómeno do Maio de 1968, as suas causas, as suas manifestações, os seus efeitos.
Como um jornal salientou no mês passado, é a geração do Maio de 1968 que hoje ocupa o espaço do poder da sociedade francesa - poder político, poder económico, influência intelectual, relevo social -, e que não abre nesse espaço clareiras para o acesso dos jovens adultos franceses.
(E sobram sempre, nas margens, aqueles que ficaram agarrados aos sonhos da juventude e que, quarenta anos depois, ainda pensam que têm 20 anos - e que, em França como noutras paragens, são por isso mesmo chamados "soixante-huitardes retardados").
Não vejo que seja um mal essa adaptação à vida, à realidade e também à gravidade que o decurso do tempo traz necessariamente a todos. Como dizia Willy Brandt "esquerdista aos 20, comunista aos 30, social-democrata aos 40".
Nem me parece saudável, do mesmo modo, que os jovens pautem e meçam o seu comportamento de hoje pelas expectativas que tenham em relação ao sucesso futuro.
Tão fora de sentido é um "soixante-huitarde retardado", como um jovem com a circunspecção e a previsibilidade de um adulto avançado.
(Para isso bastam os jovens das juventudes partidárias, que quase desde o berço - os cueiros, diria Freitas do Amaral - programam a sua carreira de sucesso).

2. Também por isso, esta luta dos jovens franceses tem um aspecto que devemos saudar.
Num tempo em que a sociedade do consumo e da abastança oferece tudo a todos em cada esquina; os conflitos de gerações quase desapareceram, com a desagregação da família nuns casos; e o desaparecimento da autoridade noutros; onde a escassez de crianças lhe confere o papel central no núcleo familiar; com a escola organizada segundo o princípio do prazer, e em que as sanções dantes aplicadas aos alunos são substituídas pelas sovas que estes e os seus familiares ministram aos professores; num tempo assim, é bom que a juventude francesa adira com entusiasmo a uma causa, pegue desta forma numa bandeira.
Mesmo que fosse injusta a luta, e boa a lei, o simples facto de ter conseguido mobilizar o entusiasmo dos vinte anos de tanta gente bastaria para conferir a Dominique de Villepin e a Chirac um crédito porventura maior do que aquele que mereceriam.

3 - Sucede que a lei é má, e a luta justa.
Do que se trata é de uma lei que permite aos patrões - aos empreendedores, como se diz agora - admitir ao trabalho jovens em primeiro emprego e mandá-los para a rua ao fim de dois anos sem ter que invocar nenhum motivo.
Entendem os franceses que o que muito provavelmente sucederá será os patrões explorarem a força de trabalho desses jovens saudáveis em primeiro emprego e, de dois em dois anos, irem renovando stocks, mandando embora uma rodada e admitindo outra, cada uma sempre fazendo o melhor que pode, na esperança de que lhe calhe a sorte de ganhar emprego estável, esperança que o fim do prazo finalmente lhe revelará ser vã.
Estou em crer que, com a maioria dos empresários cá da terra - os que apresentam resultados negativos e, por isso, não pagam impostos -, o panorama seria esse, se a lei fosse essa.
Em França, será igual - pois não é verdade que o capitalismo não tem pátria, como dizia o outro? E tinha razão.
Por cá, no entanto, o Governo está nas boas graças e sobe nas sondagens.
E também não creio que, no sector laboral, alguém pense numa lei como esta.
De modo que nos vai faltando a faúlha que incendeia as almas juvenis, que bem precisadas andam de algum fogo que as mova.
Não haverá um governante que ponha isto em polvorosa?
Talvez o Prof. Freitas do Amaral, quem sabe…? 

* Presidente da Direcção do Centro Social de Ermesinde

 

Data de introdução: 2006-04-06



















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