BUSS – BALCÃO ÚNICO DE SOLIDARIEDADE SOCIAL

Solidariedade em rede é urgente para se chegar a mais gente

Criado em Outubro de 2004, no âmbito do projecto Aveiro Digital, o BUSS – Balcão Único de Solidariedade Social tem de se tornar auto-sustentável, quando completar dois anos de existência. Para isso, precisa de alargar o seu raio de acção, “massificando” a quantidade de instituições e de pessoas, para atingir uma abrangência regional e mesmo nacional, sublinha ao SOLIDARIEDADE Tiago Lagarto, representante neste consórcio do CNE (Corpo Nacional de Escutas) e gestor do projecto, do qual fazem parte mais sete parceiros, nomeadamente, a Associação Betel de Ponte de Vagos, a Cáritas Diocesana de Aveiro, a Delegação de Aveiro da Cruz Vermelha Portuguesa, a Obra da Providência da Gafanha da Nazaré, o Centro Social Paroquial de Nossa Senhora de Fátima, a Rádio Terra Nova da Gafanha da Nazaré e a empresa Senso Comum.


Para o nosso entrevistado, este consórcio nasceu por todos os parceiros acreditarem que, nos tempos que correm, se tornar urgente a solidariedade em rede, para se chegar a mais gente. E se é verdade que todas as instituições vivem a solidariedade em relação às pessoas, também é imperioso fazer com que as instituições cultivem a solidariedade entre si, adianta-nos Tiago Lagarto.

“Neste momento, o nosso raio de acção está demasiado limitado, existindo poucos cidadãos, instituições e empresas registados no portal do projecto, que mora em www.bussocial.org”, frisa o nosso entrevistado. O registo é indispensável, quer para quem deseja oferecer bens e serviços, quer para quem pretende recebê-los. O processo de registo é facílimo e gratuito, ao mesmo tempo que viabiliza uma iniciativa de grande alcance social, totalmente voltada para quem cultiva o gosto de dar e para quem precisa de receber.

As ofertas, que têm de ser registadas no BUSS, não acarretam para quem dá e para quem recebe qualquer despesa, “a não ser o tempo que é preciso para quem oferece e para quem quer receber se encontrarem; a partir daí, é necessário ir buscar os bens oferecidos ou ter uma porta aberta para os acolher”, esclarece. E acrescenta: “por exemplo, ainda não temos nenhuma instituição no Porto que seja capaz de receber as ofertas que têm sido doadas nessa cidade.”

O portal não faz, neste momento, nenhum serviço de transporte ou de armazenamento dos bens (aceitam-se ofertas), porque a sua função apenas se situa ao nível do estímulo da troca e da implementação da solidariedade on-line. “Depois dos contactos estabelecidos através do BUSS, as instituições e os cidadãos têm de se entender para se concretizar a doação e a recepção”, refere Tiago Lagarto.
“A solidariedade em rede – lembra – cultiva a máxima de que ‘o que não serve para um pode servir para outro’, sendo certo que nem sempre o primeiro tem conhecimento de alguém que possa necessitar de um bem que já não lhe serve para nada, na empresa ou em casa.”

Adianta que, frequentemente, pessoas, instituições e empresas atiram para o lixo ou inutilizam objectos que podem ser muito úteis para outros. “Este conhecimento de que um bem ainda pode servir só pode existir se houver a noção de que estamos em sociedade e que há necessidades diferenciadas nas comunidades”, refere.
No BUSS, os objectivos sublinham que “não há apenas partilha de bens, mas há ainda partilha de conhecimentos e de disponibilidades; não podemos pensar que somente temos objectos para oferecer, porque o nosso tempo também pode e deve ser partilhado”, acrescenta o nosso interlocutor. Nessa linha, o portal pode dar uma ajuda, registando as ofertas de horas livres que cada cidadão pretende oferecer à comunidade.
Neste momento, o CNE, que é uma escola de valores em que avulta a solidariedade, apenas está representado pelo Agrupamento nº 588 da Gafanha da Nazaré, “mas os órgãos regionais já estão por dentro do assunto”. Em breve, vai ser dinamizada uma iniciativa de divulgação do projecto dentro do Escutismo, “para trazermos mais Agrupamentos e mais jovens a esta rede”, salienta Tiago Lagarto. “O BUSS pretende implementar – garante – acções educativas junto daquela organização juvenil, no pressuposto de que o CNE tem na solidariedade um dos valores mais fortes.”

“O BUSS não quer substituir nada nem ninguém; somente deseja facilitar a vida a todos. Há, de facto, algumas dificuldades por parte de certos sectores da nossa sociedade em aderirem às novas tecnologias, mas também há resistências ao conceito de solidariedade”, enfatiza ao SOLIDARIEDADE o nosso entrevistado. Essas dificuldades e resistências, “que são um perigo”, devem levar-nos a insistir e a acreditar que “é possível e urgente facilitar a vida às pessoas e às instituições”, numa época em que as preocupações nos absorvem e nos levam a esquecer ou a ignorar os outros, sobretudo os que mais precisam.

Quanto aos bens a ofertar, Tiago Lagarto dá como exemplo o facto, hoje muito frequente, de empresas e famílias reformularem os seus sistemas informáticos e outros equipamentos, bem como mobiliário, não sabendo, normalmente, o que hão-de fazer deles. Urge, então, dizer a todos que “esses bens afinal ainda poderão ser muito úteis a pessoas ou instituições”. Refere que os ofertantes podem até usufruir da Lei do Mecenato, porque as instituições beneficiadas passam recibo.

Quanto aos bens alimentares, aponta um caso recente: “Uma empresa tinha um lote de cereais para bebés, cujo prazo de validade estava em vias de caducar. Feito o registo da doação, o lote dos cereais foi entregue a uma instituição, que resolveu partilhar a oferta com outras instituições, por não ter capacidade para consumir tudo nos prazos estabelecidos.”

* Texto e foto
http://pela-positiva.blogspot.com/

 

Data de introdução: 2006-06-10



















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