Nasceu em 1876, sob a designação de Associação de Jesus, Maria e José e assinala, no próximo dia 19 de março, 140 anos de vida. Inicialmente o seu fundamento era o apoio à família e, com o dealbar da Revolução Industrial, a sua ação social corporizava-se através da Sopa dos Pobres, do Lactário e do Berçário.
Porém, com o passar dos anos a instituição promoveu uma profunda mudança do seu «core business», dedicando a sua atividade ao ensino. Para tal contou, desde 1913, com a colaboração das Religiosas Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição, que deixaram a instituição apenas nos ano de 2009, tendo ao longo dos anos gerido um total de 10 escolas em diversos locais da cidade do Porto. Com esta alteração deu-se também a mudança do nome, passando a instituição a designar-se Associação de Escolas de Jesus, Maria e José.
Mas com o sucessivo fecho dos estabelecimentos de ensino e a saída das religiosas, a Associação viveu uma situação bastante complicada, colocando-se mesmo a possibilidade do seu encerramento.
No entanto, em 2011 dá-se um novo volta-face e como que nasceu uma nova instituição, agora denominada simplesmente Associação do Monte Pedral, cujo propósito deixou de ser o ensino e passou a ser o apoio aos idosos e ainda aos jovens e desempregados.
“Este foi o segundo volta-face da instituição, o primeiro tinha sido há uns 100 anos. Em 2011 deu-se nova alteração profunda que passou pelo fim do ensino, porque a instituição estava numa situação que ia acabar por encerrar. Deu-se a volta a essa necessidade e mas antes disso fizemos um estudo para ver o que era necessário. Concluímos que já não tínhamos crianças para dar aulas e que a necessidade era na área dos idosos e jovens desempregados. Este foi o nosso ponto de partida e se não tivesse havido a nossa intervenção a Associação tinha encerrado”, refere Paulo Almeida, presidente da Direção da Associação, revelando: “Não queríamos que estes quase 140 anos de história terminassem, mas queríamos adaptarmo-nos, uma vez mais, às necessidades. Foi aí que surgiu a ideia de criar um Centro de Dia, um Serviço de Apoio Domiciliário (SAD) e uma resposta social nova, digamos assim, porque ainda está em estudo na Segurança Social, que se chama Incubadora Social. As duas primeiras com objetivo de dar resposta à população idosa e a Incubadora Social aos jovens e desempregados. Fizemos todas as démarches, sem dinheiro e sem apoios, e em 2011 encerrou-se a valência ensino e começámos a preparar o projeto para fazermos a Casa Jesus, Maria e José do Monte Pedral, assim batizada também para não perder o cariz cristão da obra”.
Paralelamente, a instituição realizou todo um trabalho de «rebranding», realizando uma mudança, em termos de marketing, criando “uma nova a imagem, um novo site”, com o objetivo de “retirar um pouco o cunho de Escola à instituição”, apostando no nome Associação do Monte Pedral.
Realizado o estudo para avaliar quais as necessidades da comunidade, a Associação partiu para a construção do equipamento, onde anteriormente havia a Escola de S. José.
“Em 2011 tirámos as devidas licenças, as obras demoraram cerca nove meses, foram feitas sem qualquer apoio e a Casa de Jesus, Maria e José do Monte Pedral foi inaugurada em 8 de dezembro de 2013”, conta Paulo Almeida, recordando: “A ideia original era instalar o Centro de Dia na antiga casa das religiosas que já estava devoluta, mas depois colocou-se a questão do que fazer com as escolas. Então optou-se por refazer o projeto e encontrou-se uma solução no local das escolas. E no dia 1 de fevereiro de 2014 recebemos os primeiros utentes. Em junho já tínhamos o primeiro acordo para a Cantina Social, em Outubro para o Centro de Dia e em junho de 2015 para o SAD”.
Atualmente, a Associação do Monte Pedral acolhe 55 idosos em Centro de Dia e apoia cerca de 21 utentes no SAD, servindo 100 refeições/dia através da Cantina Social, apoiada numa equipa de 15 funcionários.
Relativamente a esta resposta, Paulo Almeida recorda que ainda antes de o Governo lançar o Programa de Emergência Alimentar, já em 2010 a instituição instituíra a Cantina Social.
“Já em 2010 a instituição fazia uma coisa de que ainda não se falava, pois já fornecia refeições a pessoas carenciadas. E já na altura usávamos a designação de Cantina Social, porque nos apercebemos que havia pessoas com necessidades alimentares, entre os idosos e outras pessoas carenciadas. Aproveitávamos, então, a cantina da escola, que ainda funcionava, e fornecíamos refeições gratuitas”.
Apesar das grandes dificuldades em que a instituição se encontrava, a construção da Casa de Jesus, Maria e José fez-se sem qualquer apoio oficial.
“O dinheiro para a obra saiu do que sobrou da venda do edifício da escola de Santo António, sito na Foz, depois de pagas as dívidas e indemnizados os professores. Sobraram 100 mil euros e as obras importavam em mais de 200 mil euros, pelo que não havia dinheiro”, recorda o presidente da instituição, à altura tesoureiro, explicando o que se seguiu: “Só para ter uma ideia, e contas à merceeiro, o edifício da Foz vendeu-se por cerca de 800 mil euros e sobraram 100 mil euros! É certo que o valor das indemnizações com o encerramento da escola foi muito elevado, mas a situação da instituição era muito precária. Então, candidatámo-nos a uns programas, como o da EDP Solidária, no qual conseguimos 50 mil euros com a Incubadora Social, e hoje temos tudo pago e os primeiros funcionários é tudo gente licenciada ou que tem formação e que estava desempregada. O que faltava foi arranjado juntos de benfeitores e através das festinhas que fazemos na comunidade, como o arraial de Santo António, o cantar as janeiras e outras atividades, nas quais contamos sempre com o empenho do Grupo de Jovens da Comunidade do Monte Pedral (Cativ’arte)”.
O apoio da comunidade do Monte Pedral, onde há “muito bairrismo”, à Associação é muito evidente e, segundo Paulo Almeida, “a prova dessa interatividade é o número de sócios”. “Quando pegámos na Associação havia à volta de 80 associados, muitos já falecidos, mas hoje podemos dizer com orgulho que temos mais de 200 associados ativos. E não é apenas pelo dinheiro, é pelo que vem a seguir, como a participação nas nossas atividades e no vestir a camisola do Monte Pedral”, sustenta.
E se a resposta aos mais idosos surgiu pelo Centro de Dia e pelo SAD, já o apoio aos jovens desempregados acontece através de algo inovador.
“Bem, a Incubadora Social não tem nenhuma novidade e o que fazemos é simplesmente disponibilizar os recursos e conhecimentos que temos na instituição para apoiar quem quer criar o seu próprio emprego”, explica Paulo Almeida, acrescentando: “Os incubados convivem com a instituição e, numa primeira fase, desenvolvem o seu trabalho aqui dentro. Depois quando tiverem asas, saem da incubadora e implantam o seu negócio. Neste momento temos aqui a Doctor Gummy, que está numa fase muito avançada, tendo já obtido alguns prémios e algum protagonismo mediático para as suas gomas naturais, saudáveis e medicamentosas”.
Paulo Almeida lança mesmo um repto a outras instituições no sentido de seguirem o exemplo da Associação que preside.
“Isto não é novidade para as IPSS, porque, no fundo, é pegar naquilo que temos e rentabilizá-lo. O que fazemos é partilhar recursos, mas as IPSS, infelizmente, vivem muito voltadas para o seu umbigo e têm alguma renitência em se ligar a outros. O que fazemos é disponibilizar um espaço para trabalhar, que pode ser em coworking ou não, e depois ceder telefone, internet, água, luz e outros recursos que possam necessitar”, salienta, revelando algumas mais-valias para a própria instituição: “Neste momento, estão aqui incubadas uma série de empresas, que acabam, igualmente, por prestar alguns serviços à instituição. Temos a «Nós de Costura», que são duas senhoras que criaram um ateliê de costura cujo último trabalho foi fazer mais de 40 fardas para a instituição. Está cá um arquiteto que abriu um ateliê de design de interiores e arquitetura e que nos fez o projeto de remodelação do muro exterior da instituição. Temos também a CESE, que é um grupo de comunicação na área da Economia Social, que trabalha em colaboração com a UDIPSS Porto. E temos cá também um negócio na área das medicinas alternativas, concretamente na acupunctura, em que para além dos clientes próprios, trata igualmente dos nossos utentes”.
E se estas são as respostas já implementadas, a instituição olha o futuro com ambição e tem uma série de projetos que já estão em marcha.
“Há vários projetos, se Deus quiser em maio sairá um programa denominado Erasmus Sénior, que tecnicamente não tem custos para as IPSS e que passa por trocar utentes durante um dia entre as instituições aqui à volta. É algo que não acarreta custos-extra e o que vamos promover são experiências diferentes aos utentes das diferentes instituições. Em dezembro, no dia 8, pensamos fazer o lançamento do prémio «Ajudar faz bem», marca que já registámos, e que terá um júri da cidade que irá escolher alguém que se tenha destacado no ano de 2016 no apoio à família. Nessa altura, a propósito do prémio «Ajudar faz bem», vamos lançar a ERPI Jovem. Em 2017 queremos reunir os apoios necessários para ainda nesse ano lançar oficialmente a construção da ERPI Jovem, que não é nada de novo, pois é um conceito já existente nos países escandinavos. Na prática é uma casa que numa parte terá idosos em regime de lar e outra com quartos que podem ser utilizados por estudantes ou por outros jovens que estejam apenas de passagem, ao estilo do hostel. Estamos mesmo a pensar criar uma empresa no âmbito da Economia Social, até para termos outras vantagens. O objetivo é aproveitar as estruturas da Casa, como a cantina e a cozinha, entre outras. A ideia é que durante a noite quem não tem mobilidade fique lá a dormir, tendo a companhia dos jovens, que poderão ajudar em regime de voluntariado. É mais uma forma de praticar a intergeracionalidade”, explica Paulo Almeida, que revela as potenciais fontes de financiamento: “Uma das coisas que contamos para avançar com este projeto é o Portugal 2020, mas também através a Doctor Gummy. Criámos a marca Vitamina S, ou seja, Vitamina Solidária, e, como a Doctor Gummy vai começar a vender gomas na grande distribuição, parte dos lucros, pelo que está combinado, é para criar uma empresa no âmbito da Economia Social para apoiar causas e projetos sociais, entre os quais a ERPI Jovem”.
E se estes são os projetos mais estruturantes, há ainda um conjunto de intervenções que Paulo Almeida gostava de ver realizadas para requalificar a instituição, mas que têm enfrentado alguns obstáculos.
“Estamos a necessitar de abrir uma entrada no muro exterior para que a carrinha possa entrar e deixar os idosos mesmo à porta, porque, quando está mau tempo, é uma situação muito complicada. Já fizemos o pedido ao senhor bispo, mas o Espírito Santo ainda não chegou para podermos abrir uma entrada de dois metros no muro que serve a capela e a instituição. Se nós mandássemos o muro ia todo abaixo, a capela é bonita e está escondida, o adro serve para os mais pequenos jogarem à bola, mas os nossos portões continuam fechados, ao contrário do que diz o Papa Francisco… Por outro lado, repavimentar o adro era o ideal, depois era bom que o muro fosse abaixo e ótimo seria que a capela abrisse a porta à comunidade”.
Perante as dificuldades que quase fecharam a instituição, as coisas agora estão serenas e com boas perspetivas futuras.
“Neste momento somos uma instituição sustentável, geramos algum lucro, mas fruto de uma gestão muito eficaz, porque no poupar é que está o ganho. O facto de termos a gestão da casa muito controlada, feita ao cêntimo, e o abrirmo-nos aos outros são mais-valias para a sustentabilidade da instituição. A gestão profissional das IPSS justifica-se cada vez mais, seja com alguém contratado ou não, mas precisa de vestir a camisola e de estar lá todos os dias, porque uma IPSS não funciona em autogestão”.
Dando resposta nas freguesias de Ramalde, Cedofeita e Paranhos, a Associação do Monte Pedral, hoje, depara-se “com a dificuldade em dar resposta às necessidades e às solicitações, algumas até de zonas mais longe da cidade”, afirma Paulo Almeida.
Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)
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