SOCIALIS, MAIA

Situação financeira deficitária preocupa

Carlos Teles assumiu a presidência da Socialis – Associação de Solidariedade Social, sita na Maia, em Setembro de 2013, depois de a fundadora e presidente desde da criação da instituição, Maria Luísa Costa, ter abandonado o cargo em conflito com a Segurança Social, por esta não renegociar o Acordo de Cooperação para a valência Centro de Apoio à Vida (CAV).
A Socialis foi criada em 22 de Fevereiro de 2001 para dar continuidade a um projecto de apoio comunitário iniciado pela Associação de Pais e Encarregados de Educação da Escola Secundária da Maia, com o propósito de promover e orientar os jovens e familiares na sua integração e valorização pessoal e social.
O arranque deu-se com a criação de um CATL, que actualmente ainda ocupa 60 crianças no período extra-escolar.
“Coincidiu com o facto de a, então, presidente da Associação de Pais ser assistente social. A Dra. Luísa Costa e mais um conjunto de pessoas criaram a Socialis, a que ela presidiu desde a fundação até Setembro do ano passado”, recorda o actual líder da instituição, prosseguindo: “A Socialis começou com o CATL, precisamente para dar apoio aos jovens que tinham algumas dificuldades de integração social. Esta foi a motivação inicial da Socialis”.
Depois, e apercebendo-se das necessidades de uma vasta comunidade, os responsáveis pela Socialis alargaram a resposta da instituição, criando outra valências, muitas apoiadas por Acordos de Cooperação atípicos.
“A partir daí, houve um conjunto de valências novas que foram sendo criadas, algumas das quais entretanto desapareceram, e fomos introduzindo novas capacidades, nomeadamente o Centro de Apoio à Vida (CAV), que agora é claramente o que projecta mais o nome da Socialis no exterior e o que tem mais expressão no interior da instituição. Quase 50% do orçamento da Socialis é direcionado para o CAV”, sustenta Carlos Teles.
O CAV foi mesmo o pomo da discórdia entre a anterior presidente e a Segurança Social, da qual a primeira exigia um aumento do apoio, o que não aconteceu, culminando com uma acção radical por parte de Maria Luísa Costa, que realizou uma greve de fome em frente ao Centro Regional da Segurança Social no Porto e que redundaria na sua demissão da presidência da instituição.
Actualmente, em CAV a instituição apoia mais de uma centena de jovens mães e seus rebentos. Em acolhimento, a Socialis tem cinco mães adolescentes e respectivos filhos, fazendo ainda o acompanhamento a mais 120, sendo que o Acordo de Cooperação cobre apenas 75.
“O CAV começou com o projecto Semente, que terminou em 2010, altura em que se estabeleceu a cooperação com a Segurança Social. Esta resposta surge devido à constatação da existência de mães muito jovens e impreparadas, não havendo uma casa de acolhimento que as pudesse apoiar”, revela Carlos Teles, acrescentando: “Estas mães adolescentes vêm de famílias que não têm capacidade para acolher a jovem e o seu filho. O CAV não acolhe apenas as jovens mães, mas apoia também as famílias”.
Para além do CAV, a instituição criou também a valência CLAII – Centro Local de Apoio à Integração de Imigrantes, através do qual apoio cerca de 320 imigrantes.
“O CLAII é um gabinete de apoio aos imigrantes, onde qualquer um se pode dirigir e procurar respostas sobre trabalho e outras áreas, podendo colocar todas as dúvidas que tenha. É uma forma de fazer o acolhimento e fazer a integração dessas pessoas”, explica o líder da Socialis, dando conta de outras virtudes da valência: “E tem uma outra vertente que é a interculturalidade, promovendo todos os anos um grande evento em torno disso. Nesse encontro diversas instituições dos variados países são convidados a vir à Maia mostrar a sua cultura, através da gastronomia, ou do folclore, ou seja, é um espaço para esses países se darem a conhecer melhor. É uma festa muito rica”.
A mais recente aposta da Socialis é a Creche Sweepy, inaugurada em 2011, mas as coisas não têm corrido como inicialmente se previa.
“Na altura era tida como uma necessidade e inclusive ia dar resposta a algumas necessidades da zona industrial. Porém, a realidade não tem mostrado muito essa necessidade. A creche tem, neste momento, 22 bebés, mas tem capacidade para 32. A verdade é que a afluência de bebés não tem sido a que se esperava no arranque da estrutura”, lamenta Carlos Teles, apontando algumas causas para esta situação: “Tudo afecta um pouco... Hoje a taxa de desemprego entre os jovens é elevadíssima e muitas mães, estando desempregadas, não colocam os filhos numa instituição, ficando com eles em casa. Esta conjuntura de crise não é favorável às creches”.
Esta é mais uma situação que não facilita a gestão da Socialis, sendo mais um obstáculo com que os seus responsáveis se deparam para levar a bom porto a missão da instituição.
“Em termos financeiros a gestão é complicada. Estamos, neste momento, com um défice e todos os anos estamos a ter problemas financeiros. A comparticipação do Estado, no nosso caso, ronda os 50%. Temos uma capacidade de angariação de fundos importante, com algumas empresas, como o Pingo Doce e o Continente, que nos apoiam regularmente, no caso daquelas empresas com bens alimentares para a instituição e para fazermos alguns cabazes para as famílias mais carenciadas”, sublinha Carlos Teles, cuja Direcção, incentivada pelo programa FAS3, tem feito uma grande aposta na angariação de fundos: “Fazemos muitos eventos de angariação de fundos e este é um desafio que estou sempre a fazer aos colaboradores. Esse é capaz de ser o nosso maior desafio, porque em termos técnicos temos uma excelente equipa e os feedbacks são muito positivos. O desafio está no aspecto financeiro, por isso o organigrama integra agora uma pessoa responsável pela angariação de fundos. O nosso objectivo é diminuir a dependência do Estado e procurar uma nova sede. No curto prazo temos a questão financeira para resolver, pois as dificuldades fazem-se sentir todos os anos”.
O espaço arrendado que a instituição ocupa no centro da cidade da Maia, um rés-do-chão de uma vivenda, não oferece as melhores condições de trabalho, pelo que uma nova sede é uma prioridade e um sonho antigo.
“Efectivamente, ainda é apenas um sonho, mas é algo que já vem de trás. Olhando às nossas instalações e ao trabalho que se faz na Socialis, é um objectivo merecido. Não se deve ver isso como um luxo ou um exagero, mas é uma forma de a Socialis prestar ainda um melhor apoio aos utentes do que aquele que já faz. Estas instalações são maiores do que parecem do exterior, mas não há luz natural e o espaço é exíguo, pelo que ter uma sede própria evitaria o pagamento da renda e era um prémio para esta equipa”, sustenta o presidente, que aponta como objectivo para o próximo mandato, “pelo menos, o lançamento da primeira pedra”.
A propósito da nossa sede, Carlos Teles considera que seria mais do que merecido pelo “empenho das funcionárias, que é muito relevante”.
“Para além de o fazerem bem, fazem-no por tempo superior do que o que deviam. O nosso manual de acolhimento inscreve que trabalhar na Socialis é mais do que fazer bem, é abraçar as causas que trabalhamos. Se não for assim não funciona… Isto é uma IPSS e pressupõe alguma entrega pessoal, pressupõe um abraçar das causas e o sentir que o seu trabalho vai proporcionar bem-estar ao utente e facilitar a sua integração social e isto deve valer mais do que o vencimento. É preciso espírito de missão”, assevera o presidente.
O Centro de Actividades de Tempos Livres, valência que está na génese da Socialis, continua a funcionar muito bem, apesar das mudanças legislativas de 2007 que foram coveiras de muitos ATL das IPSS. Apesar de se manter, funcionando com seis dezenas de crianças, o CATL da Socialis também sofreu o impacto da criação da escola a tempo inteiro. Porém, algo parece estar a mudar…
“Afectou o nosso CATL porque muitas respostas começaram a ser dadas pelas próprias escolas. No entanto, o nosso CATL não é apenas um centro de apoio ao estudo, pois temos também actividades pedagógicas, como oficinas de informática e fotografia, entre outras, pelo que tem uma mais-valia que o Plano Nacional de Educação não abrange e é nisso que nos temos apoiado”, afirma Carlos Teles, revelando uma alteração recente: “A afluência e pedidos de inscrição no CATL dispararam recentemente. Neste ano lectivo houve uma procura muito grande e estamos sempre a receber pedidos. Os resultados tem sido bastante bons, com alunos a ter muito bom aproveitamento, pelo que a instituição tem conseguido tirar todo o potencial dos miúdos. Também não podemos fazer mais do que isso... Estas crianças, muitas vezes, não têm condições, os pais não têm tempo ou capacidade económica para os colocar em ATL mais caros, pelo que têm que se apoiar nestas instituições para que os filhos tenham algum acompanhamento. É que a maioria dos utentes do CATL vêm de famílias desfavorecidas, inclusive, temos meninos que devido às dificuldades económicas das famílias, apesar do protocolo estabelecer um valor mínimo para a inscrição, nada pagam. Temos meninos a custo zero, porque os pais não têm condições económicas”.

Pedro vasco Oliveira (texto e fotos)

 

Data de introdução: 2014-05-26



















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