As celebrações quaresmais e pascais, apesar de um progressiva laicização das tradições religiosas, sobretudo as que decorrem em espaço público, continuam a constituir um desafio à nossa condição de crentes, a interpelar-nos sobre a forma como vivemos a nossa cidadania cristã. Os relatos da paixão de Jesus, sobretudo quando encenados por gente que vive o que representa, colocam-nos uma interrogação de difícil resposta, a saber: o que levou um homem a aceitar sofrer e morrer, sem qualquer culpa, sem ter manifestado revolta ou ódio em relação a quem o fez crucificar num Cruz? Mesmo quem não tem educação cristã, conhece bem a história e sente a sua indiferença e agnosticismo um pouco tremidos e inseguros em face da trajectória de vida, morte e ressurreição do Nazareno! A cultura reinante não aceita a cruz, a adversidade, o perdão como propostas de filosofia de vida. Ao contrário: somos constantemente bombardeados com apelos a uma competitividade agressiva, ao sucesso a qualquer preço, ao consumo sem limites, a não olhar a meios para atingir fins! Não há inqueritos válidos.