AETP - ASSOCIAÇÃO DE ESCOLAS DE TORNE E DO PRADO, VILA NOVA DE GAIA

Escola e Igreja criadas há 150 anos são atualmente uma IPSS de referência

Apesar de apenas em 1989 ter adquirido o estatuto de IPSS, a Associação de Escolas de Torne e do Prado (AETP) tem a sua génese no ido ano de 1868. Foi há 150 anos que Diogo Cassels, um jovem de vinte e poucos anos, lançou os alicerces da Igreja Lusitana e da obra social que hoje apoia não só crianças em idade pré-escolar, como centenas de idosos e de famílias carenciadas e beneficiárias do RSI.
“Estamos a celebrar 150 anos da Igreja Lusitana e da Escola do Torne dado que a ambas nasceram ao mesmo tempo e por ação de um homem, Diogo Cassels, em 1868”, afirma o bispo Jorge Pina Cabral, contando ainda que o fundador, “na altura um jovem de vinte e poucos anos, teve a visão, inspirado por Deus, para iniciar uma obra de serviço à comunidade, nas suas dimensões religiosa e social, com uma escola primária”.
Século e meio é um aniversário redondo, “cheio de significado e que tinha que ser celebrado dignamente”, pois “150 anos expressa que a obra da Igreja e da Escola do Torne estão já muito inculturadas neste contexto social e comunitário de Vila Nova de Gaia”.
Para o bispo Pina Cabral, “Diogo Cassels foi bastante visionário, porque, por um lado, criou uma outra proposta de culto para a comunidade, que não a, então, dominante Católica Romana – ou seja, teve uma perspetiva ecuménica e a Igreja surge com outro tipo de culto, outra sensibilidade litúrgica –, e, por outro, fruto desse novo modo de estar de fé, surge também um comprometido serviço à comunidade, naquilo que estava a escassear então e que era a instrução primária”.
Para além disso, “teve a preocupação de dirigir esse serviço para as classes mais pobres”, sublinha, constatando: “Efetivamente, ao longo de muitas gerações, a Escola do Torne dirigiu-se para as camadas mais desfavorecidas da população. Para Diogo Cassels, ao dar instrução estava a capacitar o cidadão para o seu próprio desenvolvimento social”.
E a verdade é que tudo começou num edifício que à semana era escola e ao fim-de-semana igreja e que, ao longo de 150 anos, evoluiu de um serviço que começou por ser de instrução primária para diversas formas de serviço à comunidade, como acontece hoje.
Aliás, as escolas primárias do Torne e do Prado, ambas em Vila Nova de Gaia, foram encerradas em 1999, numa altura em que “já havia uma rede pública de escolas e, por outro lado, já eram projetos economicamente insustentáveis”.
Refira-se que a Igreja Lusitana promoveu “em quase todas as suas paróquias de norte a sul do país” a existência de uma escola primária e as duas que se mantiveram até mais tarde foram, precisamente, as do Torne e do Prado, ambas até 1999.
Face à situação, o Sínodo da Igreja Lusitana Católica Apostólica Evangélica (Comunhão Anglicana) decidiu encerrar as escolas e “desenvolver novos serviços que fossem necessários à comunidade”.
Nos diz que correm, a AETP acolhe 42 bebés em creche e 48 crianças em pré-escolar, apoia 260 idosos no Centro Comunitário, que agrega o Centro Social do Bom Pastor (no Candal) e o Centro Social Salvador do Mundo (em Coimbrões) e dá resposta a 440 famílias no âmbito do Rendimento Social de Inserção (RSI), tudo com uma equipa de 32 trabalhadores, a que se junta uma série de voluntários.
O arranque e desenvolvimento das atuais respostas dá-se pela infância, porque “aquando do encerramento das escolas a Associação já tinha duas salas de jardim-infantil”, pelo que a aposta foi pela continuidade na área do ensino pré-escolar.
“Desenvolvemos o pré-escolar, alargámos as salas e criámos o jardim-de-infância e creche do Torne e depois criámos ainda um Centro de Atividades de Tempos Livres do Torne para dar apoio às escolas públicas vizinhas da instituição”, conta o bispo Pina Cabral, ressalvando que o CATL já não existe, tal como aconteceu a muitas IPSS que avançaram com essa valência antes de o Estado dar resposta pública.
Num momento de grande dificuldade para as IPSS, a AETP tem, segundo o seu presidente, uma situação financeira “estável, mas é um estável muito à justa”, porque “o valor dos acordos de cooperação é insuficiente para cobrir as necessidades da instituição”.
Servindo uma população maioritariamente carenciada, “a verdade é que há muitos utentes que têm uma comparticipação baixa”, o que não ajuda.
“A instituição tenta desenvolver novas receitas, através de negócios sociais, que são a prestação de serviços de lavandaria, a confeção de alimentos e de bolos para o exterior, o aluguer das instalações e algumas campanhas de angariação de fundos”, revela o bispo Jorge Pina Cabral, destacando algo essencial ao equilíbrio da AETP, pois não tem custos com instalações: “Uma particularidade interessante é o facto de, embora a AETP seja legalmente autónoma da Igreja, os órgãos sociais são compostos por membros desta e, por isso, consideramos a AETP uma das expressões do trabalho social da Igreja. Como a instituição desenvolve as suas atividades em instalações da Igreja, através de contratos de comodato, esta acaba por ser uma dimensão importante para o equilíbrio financeiro da instituição. E isto estende-se ao jardim-infantil, que funciona em instalações também cedidas em regime de comodato pela Câmara Municipal de Gaia”.
Reconhecendo que a Igreja não ajuda financeiramente, o bispo sublinha que “o disponibilizar as instalações já é uma ajuda muito grande à sustentabilidade”.
O que não tem ajudado nada a que a instituição mantenha contas saudáveis é o compromisso do Estado. Para o bispo Pina Cabral o que se passa com os Protocolos do RSI “é um escândalo”!
“No apoio que a instituição dá no RSI não só não há comparticipação dos utentes, pela própria natureza do acordo, como é uma valência subfinanciada pelo Estado. Isto é um ponto importante e a AETP orgulha-se de estar na linha da frente das instituições a nível nacional que têm chamado a atenção para o subfinanciamento do Estado aos protocolos do RSI. É um escândalo!”, assevera, acrescentando: “Há um subfinanciamento do Estado aos protocolos do RSI que faz com que, neste momento, esse trabalho esteja a ser financeiramente um custo acrescido para as instituições. É um escândalo o modo como o Estado está a tratar os Protocolos do RSI, dado que se demitiu das suas funções. E atualmente são um encargo oneroso para as instituições e nós somos uma delas”.
A situação só não é grave na AETP, porque em sentido contrário o jardim-de-infância melhorou os resultados.
“Na creche e jardim-infantil podemos dizer que estabilizámos as comparticipações e agora que temos boas instalações conseguimos uma maior comparticipação dos utentes, embora acolhamos crianças de diferentes estratos económicos”, revela, constatando, porém, “um decréscimo da comparticipação dos utentes do Centro Comunitário, por razões diversas”.
Na senda da melhoria dos serviços e da satisfação dos utentes, periodicamente o Centro Comunitário promove as chamadas reuniões gerais de utentes.
“A ideia da Reunião Geral de Utentes é para que eles participem também na programação de atividades. Um Centro Comunitário é uma resposta atípica, logo direciona as suas atividades para as necessidades do meio. Nesse sentido, essas reuniões são importantes para se aferir daquilo que os utentes necessitam e o que o meio procura. Então, a resposta vai sendo ajustada e isso pressupõe esta relação de escutar, sugerir, ouvir e também de melhorar os serviços, porque é bom avaliar a qualidade dos serviços que prestamos”, argumenta o bispo Jorge Pina Cabral.
Com os olhos no futuro, a AETP tem em marcha o seu Plano Estratégico 2018-2020, com fortes apostas na valorização dos recursos humanos, redefinição da estratégia de comunicação, desenvolvimento de diversos projetos, como o «Ecos Humanos», a loja social, o «Clube+» e o «Pés no Risco», que já conta quatro anos de atividade e trabalha com 20 jovens.
Lançar o novo projeto «Ecos Humanos», cuja “finalidade é a reciclagem de material diverso cujo produto servirá para apoiar, através de géneros alimentícios, os utentes mais carenciados”, e continuar o «Pés no Risco», que “trabalha diariamente com jovens em situação de vulnerabilidade, dando-lhes apoio a nível escolar e no desenvolvimento de competências”, são as grandes apostas da AETP.
E porque 150 anos não são 150 dias ou 150 semanas, a Associação de Escolas do Torne e do Prado calendarizou “um programa alargado”, que “começou em outubro deste ano e prolonga-se até outubro de 2019”.
As celebrações contaram já com uma série de eventos públicos, entre eles “uma exposição que esteve patente no Arquivo Municipal e a edição de livros, nomeadamente alusivos ao fundador Diogo Cassels”.
“A ideia é que o espírito e a visão de Diogo Cassels possa continuar presente naqueles que agora assumem a obra. Há uma celebração da memória no sentido de nos projetarmos no futuro, pelo que vamos continuar as celebrações que vão incluir ainda a pintura de um mural nas paredes que dão para a Avenida da República, a edição de um livro sobre a vida e a obra de Diogo Cassels dedicado às crianças, que inclui um cd musical”, conta o bispo Jorge Pina Cabral, que recorda ainda que o fundador da Escola do Torne “construiu um bairro de habitação económica, uma cantina social, esteve ligado às mutualidades e desenvolveu diversas atividades e modelos pedagógicos de educação, juntando sempre uma visão caritativa a uma outra mais integral”.

Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)

 

Data de introdução: 2018-12-27



















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