CSBA, PÓVOA DE VARZIM

Seis décadas a dinamizar a freguesia de Amorim

A 9 de Fevereiro de 2012 o Centro Social Bonitos de Amorim inaugurou o novo espaço dedicado ao Centro de Dia, valência que funciona no denominado Edifício Padre Joaquim Figueiredo, que já albergava o Jardim-de-infância e a sede da instituição.
Este fora inaugurado a 9 de Fevereiro de 2009, com a pompa e circunstância que o acto e o edifício mereciam, ou não fosse esta instituição o verdadeiro motor social, recreativo e desportivo da freguesia de Amorim, uma das 12 que formam o concelho da Póvoa de Varzim.
De facto, o dia 9 de Fevereiro é marcante para esta IPSS, pois foi nesse dia que no ido ano de 1952, por iniciativa do padre Joaquim Figueiredo, nasceu o, então denominado, Centro de Assistência Bonitos de Amorim. A instituição foi buscar o nome, não apenas à freguesia onde que está sediada, mas também à família benemérita, os Bonitos, que emigrada no Brasil, contribuiu decisivamente para a criação da mesma e o desenvolvimento da freguesia.
Se nos dias que correm a missão do Centro passa pelo apoio à infância e à terceira idade e pela dinamização desportiva e cultural da freguesia de Amorim, ao tempo do seu nascimento as preocupações eram outras e bem mais primárias. Nas primeiras duas décadas de vida da instituição, a grande inquietação dos responsáveis pela instituição era dar assistência a uma comunidade empobrecida, distribuindo essencialmente refeições diárias e alimentos por entre os mais carenciados. Nesse período, também a assistência médica fazia parte dos serviços que o Centro prestava aos amorinenses, pois nada mais existia na mesma.
“Quando o Centro surgiu, graças ao padre Joaquim Figueiredo, o que fazia realmente falta era alimentar muitas famílias pobres, daí que ele tenha implantado a chamada beneficente, ou seja, uma obra que desse sopa aos pobres, que agora se chamam carenciados ou desfavorecidos…”, começa por contar, ao SOLIDARIEDADE, Domingos dos Santos, presidente da instituição, explicando como esta foi crescendo e diversificando a sua missão: “Depois a freguesia começou a crescer e a evoluir e, por volta de 1974, 1975, as fábricas passaram a instalar-se por aqui e as pessoas da freguesia, que era essencialmente rural, começaram a fugir para as fábricas. Nessa altura, ele comprou umas casinhas velhas neste local onde agora estamos instalados e implantou um jardim-de-infância, numas condições ainda muito precárias”.

APOIO À INFÂNCIA

Assim, quando há 60 anos o Centro surgiu para matar a fome a quem precisava, com a evolução do País e da sociedade a instituição adaptou-se aos novos tempos e passou a dar resposta às novas necessidades da comunidade amorinense.
Atentos ao que se passava, os dirigentes da instituição decidem interromper a confecção de refeições, passando apenas a distribuir géneros alimentícios pelos mais carenciados, e a avançar para a criação de um jardim-de-infância que desse resposta à grande necessidade de uma população que trabalhava nas fábricas do concelho e que não tinha onde deixar os filhos.
“Onde agora abrimos o Centro de Dia era, nessa altura, um jardim-de-infância modelo, inaugurado em 1982. Já nesse tempo oferecia resposta de berçário e infantário. As coisas foram evoluindo e, entretanto, como o País passou a ser rico, ou melhor, a querer viver como os ricos, começaram as exigências de mais e melhores condições e, então, há cinco anos construímos estas novas instalações, onde funcionam todas as nossas valências de apoio à infância, desde o berçário ao ATL”, explica o presidente da instituição no cargo há 15 anos.
Foi igualmente nesse ano de 1982 que a instituição alterou a sua designação, adoptando, então, a de Centro Social Bonitos de Amorim (CSBA). Esta alteração foi sugerida pelo, na altura, Ministério dos Assuntos Sociais, dando assim capacidade estatutária à instituição de, no futuro, poder albergar outras valências. Três anos volvidos, o Centro procedeu a nova alteração de estatutos, deixando de ser considerada Pessoa Colectiva de tipo associativo, para passar a ser uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS).

DAR A MÃO AOS IDOSOS

O crescimento da instituição e o desenvolvimento da sociedade voltou a colocar novos problemas e o Centro Social voltou uma vez mais a adaptar-se para conseguir responder satisfatoriamente à comunidade.
A fome já não era um problema em Amorim e o apoio à infância tinha já uma resposta muito satisfatória para os padrões da altura, pelo que os responsáveis da instituição, já com Domingos dos Santos à cabeça, percebem que a falta de apoio aos mais velhos era a nova etapa que o Centro Social tinha que percorrer.
“O apoio mais directo à Terceira Idade coincide com a minha chegada à Direcção e começou pelo Serviço de Apoio Domiciliário”, afirma Domingos dos Santos, natural de Arouca, mas há mais de quatro décadas a viver em Amorim.
“Senti que havia a necessidade de muita gente ser apoiada no domicílio. A nossa ideia nunca foi propriamente a de ter um lar ou um centro de dia, mas a de prestar apoio a quem precisava nos seus domicílios, porque muitas pessoas iam trabalhar e os pais ficavam em casa sozinhos, muitos deles acamados e sem qualquer apoio durante todo o dia”, justifica o líder do CSBA, explicando como montaram o serviço que hoje cobre várias freguesias do concelho da Póvoa de Varzim: “Foi, então, que propus à Direcção fazer algo pelos mais velhos. Deitámos mãos à obra e, em parceria com o Centro de Emprego, criámos uma empresa de inserção, que era a forma de recebermos ajuda financeira, pois só por nós não tínhamos capacidade para o fazer. Já lá vão 11 anos e tentamos chegar ao maior número de pessoas possível, mas também já não conseguimos admitir mais utentes, pois o dinheiro é sempre pouco”.
A razão por que o Serviço de Apoio Domiciliário cobre outras freguesias, inclusive a freguesia-sede do concelho, é simplesmente para rentabilizar o mesmo.
“Nessa altura aqui em Amorim eram cerca de quatro ou cinco pessoas que necessitavam de ser apoiadas em casa, dado que esta não era uma freguesia com muitas necessidades nesse capítulo, mas como tínhamos que rentabilizar o serviço decidimos alargar a outras freguesias, até porque, na altura, não havia mais ninguém a fazê-lo. E até tivemos que parar de admitir pessoas para manter a sustentabilidade do serviço”.
É da experiência no apoio ao domicílio aos mais velhos e da percepção das necessidades destes no dia-a-dia que os responsáveis pelo CSBA apostam, então, na criação da valência de Centro de Dia, inaugurada o mês passado.
“Como tínhamos este edifício com condições e este lado estava um pouco desaproveitado, pois só a cozinha aqui funcionava, e na freguesia ainda há muitas pessoas que estão sozinhas em casa o dia todo e nada têm com que se entreter, achámos que devíamos fazer algo mais por elas. Algumas dessas pessoas são as que apoiamos diariamente”, começa por contar Domingos dos Santos, explicando a razão que os fez avançar para a criação do Centro de Dia: “Uma das coisas que estas pessoas nos diziam é que gostavam que as funcionárias do Apoio Domiciliário ficassem um pouco mais de tempo em casa com elas para conversar e lhes fazerem um pouco de companhia, mas, como é natural, não podiam lá ficar a conversar, pois têm outros domicílios para visitar… Então, decidimos avançar para a construção de um Centro de Dia. Tínhamos este espaço onde está a funcionar, candidatámo-nos ao Programa PARES II. Apesar de ter sido um pouco difícil, conseguimos concretizar a nossa ideia e, então, fizemos aqui este Centro de Dia para 35 utentes”.

NO FIO DA NAVALHA

Apesar de apenas contar com as comparticipações dos utentes e da Segurança Social – de resto, a instituição conta com cerca de mil sócios pagantes cuja quota são 50 cêntimos por mês –, Domingos dos Santos sustenta que as contas da instituição estão controladas. O Centro de Dia é uma obra que orçou em cerca de 300 mil euros, em que 50% foi comparticipado pelo Programa PARES e outros 50% pagos pelo CSBA.
“Ao recorrermos ao crédito para realizarmos a obra no edifício que alberga o apoio à infância, que rondou um milhão de euros, fizemos um crédito de 600 mil euros à banca, mas já nessa altura sabíamos que parte deste dinheiro seria para destinar para esta obra do Centro de Dia. A ideia era que sobrasse algum para realizarmos esta obra”, explica o presidente da instituição, que sublinha a necessidade de uma gestão bastante rigorosa: “Andamos sempre no fio da navalha, mas ainda nunca nos cortámos. E nesta conjuntura de crise não está fácil, mas estas casas têm que ser geridas como empresas. Depois, há duas coisas que aqui na instituição, e até à data, nunca fiz que foi andar de mão estendida para quem quer que fosse e tudo o que é para fazermos é necessário termos fundos para as realizar”.
Actualmente, o CSBA conta com uma equipa de 40 funcionários, que dão apoio na infância a 45 crianças em creche, 100 no pré-escolar e a outra centena no ATL. Ainda assim, a instituição tem uma lista de espera de cerca de 70 crianças. No apoio à terceira idade, o Centro conta com 30 utentes no Serviço de Apoio Domiciliário, mas tem capacidade para mais 10, enquanto o recém-inaugurado Centro de Dia é já frequentado por 18 idosos, mas a capacidade é de 35.

NOVO PROJECTO NA FORJA

“Neste momento, temos 18 idosos e não temos mais porque queremos ir devagarinho que é para fazermos as coisas como devem de ser”, justifica o responsável pela instituição.
Apesar de ter inaugurado o Centro de Dia no passado mês de Fevereiro, Domingos dos Santos tem já um outro sonho, porque considera ser importante para dar melhor qualidade de vida a determinadas pessoas. O projecto passa pela construção de “um pequeno lar de idosos, porque é algo que faz falta”.
“A gente quer sempre mais e há sempre alguma coisa que faz falta. Sou contra os lares residenciais, porque acho que quando um pai leva o filho à escola e o vai buscar à noite, mais tarde também é obrigação do filho levar o pai ou a mãe de manhã a um Centro de Dia e ir buscá-lo ao fim do dia. Mas também sei que há pessoas que não têm família e a essas temos que lhes dar um lar. E esse é o sonho que temos aqui no centro. Há quem diga que é uma utopia, mas também quando começámos a fazer tudo isto fui criticado por isso… E já lancei o desafio a algumas pessoas, porque se alguém nos oferecesse um terreno, nós avançávamos para construção de um pequeno lar”.

APOIO À CULTURA E DESPORTO

Curioso e não muito comum é o facto de ser o CSBA o grande dinamizador de todas as actividades na freguesia. Ou seja, para além do apoio à infância e à terceira idade, a instituição é ainda quem promova toda a actividade cultural, recreativa e desportiva em Amorim.
“No futebol temos todos os escalões, com cerca de 150 atletas, desde as escolinhas até aos seniores e até temos uma equipa feminina, e temos ainda atletismo e ginástica”, explica Domingos dos Santos, acrescentando: “O Grupo de Danças e Cantares do CSBA é uma daquelas coisas que a população da freguesia gostava muito de ter e como éramos muito solicitados para criar um rancho folclórico, avançámos… Um grupo destes se não tiver por detrás um suporte não vai a lado nenhum, porque só dá prejuízo. Mas achámos por bem que o Centro o promovesse e já vai fazer cinco anos de existência. O grupo é composto por pessoas de diversas idades, se bem que são os mais velhos a maioria. Os mais novos ainda têm alguma vergonha de integrar o grupo, mas, neste momento, o grupo integra gente dos 7 aos 70 anos”.
A terminar, Domingos dos Santos não tem dúvida em afirmar que “sem o Centro Social Bonitos de Amorim, a freguesia seria muito mais pobre e viver-se-ia muito pior”.

Pedro Vasco Oliveira

 

Data de introdução: 2012-03-09



















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