CENTRO DE APOIO SÓCIO CULTURAL UNIDADE ZAMBUJALENSE, SESIMBRA

Da Comissão da Aldeia nasceu uma instituição

Foi depois dos tempos conturbados da Revolução de Abril e com a queda definitiva do Estado Novo, que a população do lugar do Zambujal criou a “Comissão da Aldeia”, um grupo de pessoas que pretendia desenvolver a localidade, já que o Estado-previdência tardava em chegar àquela zona do concelho de Sesimbra. O Zambujal pertence à freguesia de Nossa Senhora do Castelo, criada nos primórdios da nação portuguesa. É a maior freguesia do concelho em território e a segunda em população com mais de 15 mil habitantes (Censos 2001).

“Não tínhamos água, luz, nada!”, lembra Júlio Puquério, membro dessa antiga comissão da aldeia e actual vice-presidente do Centro de Apoio Sócio Cultural Unidade Zambujalense (C.A.S.C.U.Z). A população meteu mãos à obra e reconstruiu uma antiga escola em ruínas para poder arranjar um espaço onde as mães pudessem deixar os filhos. “Havia mães que tinham que levar os filhos para os campos, pois não havia nada e pensou-se em fazer um jardim infantil, embora na altura o conceito fosse estranho para quase toda a gente”. Nos finais da década de 70 começaram o trabalho com 14 crianças e em Novembro de 1979 nasce oficialmente o C.A.S.C.U.Z enquanto instituição particular de solidariedade social. Depois do jardim infantil, houve necessidade de criar uma reposta para crianças mais velhas que continuavam sem ter onde ficar depois da escola. Em 1980 a instituição abre as portas ao ATL. “Tudo isto foi feito com o trabalho de todos, em jornadas pós-laboral e ao fim de semana”, explica Júlio Puquério.

Já com algumas respostas a nível infantil, o centro parte para a cobertura da terceira idade, uma faixa etária sem qualquer tipo de apoio na altura. “Muitos idosos, quando já eram muito velhinhos e sem força para trabalhar, acabavam por andar a pedir esmola e nós queríamos ajudar essas pessoas, pois não havia mais nada”. Assim, em 81 nasce o Centro de Convívio através da adaptação das instalações já existentes.
O trabalho na instituição não parou e as necessidades eram muitas num lugar com cerca de 3 mil habitantes e mais de 50 por cento de população idosa. A direcção assim avançou com a valência de apoio domiciliário, já no fim da década de 80. “O apoio domiciliário tornou-se numa grande necessidade para esta comunidade, pois havia muitas famílias que preferiam manter os seus idosos em casa, desde que com algum apoio”, refere o vice-presidente do C.A.S.C.U.Z.

Com a casa a crescer e o número de utentes a aumentar, a direcção lançou-se num projecto para novas instalações destinadas aos idosos. Para além de manter o centro de dia e o centro de convívio deu-se início também aos procedimentos para a criação de um lar de idosos, inaugurado em 2002. Actualmente, o lar dá apoio a 65 utentes, embora estejam em lista de espera mais de 200 pessoas. “A população cada vez mais recorre a esta resposta e só existem duas instituições com esta valência no concelho, nós e a Santa Casa da Misericórdia, pelo que a procura é muito grande”, esclarece Filipa Marques, técnica de recursos humanos da instituição.

Com 180 utentes em valências de terceira idade, o CASCUZ avançou para a criação de um hospital de retaguarda, financiado pelo Ministério da Saúde, bem como a prestação de cuidados de saúde de forma mais regular. “Com a idade, as pessoas vão perdendo os seus níveis de autonomia e isso era muito visível no nosso Centro, por isso implementamos a fisioterapia e mais tarde o hospital de retaguarda”, explica a técnica. Na equipa técnica, o Centro conta com o trabalho de uma médica, dois enfermeiros, um fisioterapeuta, um fisiatra e uma psicóloga clínica. Esta equipa também dá apoio à população local, em casos pontuais. “Já que o Estado não chega, chegamos nós”, sublinha Júlio Puquério.
A parte infantil não foi descurada e em 2008 entraram em funcionamento as novas instalações do jardim-de-infância, tendo o edifício antigo sido demolido para mais tarde dar origem a um berçário e a uma creche. “Embora as crianças estivessem num edifício reconstruído, não tinham as condições necessárias e havia a vontade de alargar a outras valências, por isso concorremos ao FEDER, o que nos permitiu construir o edifício que hoje temos”, explica o vice-presidente.

A 5 quilómetros da sede de concelho, Sesimbra, o C.A.S.C.U.Z tornou-se no segundo maior empregador da zona, com 109 funcionários e um total de 328 utentes. Com nove carrinhas próprias para transporte, a interactividade é muito fomentada, quer a nível inter-geracional quer a nível de intercâmbios. “Uma vez por mês, os nossos idosos vão visitar outra instituição e depois essa instituição vem cá, é uma forma de mantermos as pessoas na comunidade”, diz Filipa Marques. O Centro também organiza colónias de férias para idosos, quer utentes, quer associados e já mandou mais de 200 pessoas de férias à ilha da Madeira e cerca de 100 ao arquipélago dos Açores. Os passeios diários, as idas ao mercado ou à natação também são incentivados. “Nós não queremos um armazém de idosos, queremos vida nesta instituição”, afirma o vice-presidente.

A ideia de promoção de um envelhecimento activo está muito vincada na direcção que aponta como projecto futuro a construção de um complexo com piscina e hidroginástica. “Temos um terreno que nos foi cedido por uma utente, mas esta é ainda uma ideia que está na gaveta e que temos que explorar”.
A direcção do Centro está também a apostar na certificação das valências e já solicitou uma auditoria externa de avaliação da instituição. “Estamos a aguardar o relatório final para depois traçar um plano de melhoria”, adianta a técnica de recursos humanos.
Júlio Puquério lembra os tempos da Comissão da Aldeia e olha, orgulhoso, para a obra em que se veio a tornar. “Nessa altura, em que não tínhamos nada, eu tinha esperança de que pudéssemos crescer e hoje a população do Zambujal vê este Centro como um filho”, diz.

Texto e fotos: Milene Câmara

 

Data de introdução: 2010-05-06



















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