Porque não te calas, Sócrates?

Razão parece ter a oposição que vem avisando para os excessos de marketing político de que padece o governo liderado por José Sócrates. Desde vendedor de ilusões a propagandista, passando até por mentiroso, os partidos à esquerda e à direita do PS já por diversas vezes mimosearam o primeiro-ministro por causa do que consideram ser a exorbitante capacidade de anunciar actos e intenções do seu executivo.
É certo que as alcunhas de vendedor de banha da cobra acabam sempre por assentar em quem está no poder, toma decisões ou promete tomar. Mas raramente o próprio as aceita como elogios à acção governativa.
Ora, José Sócrates quebrou essa tradição. Embora refutando os créditos de bom publicitário a nível interno, o chefe do governo encetou uma carreira comercial que o pode levar a ser convidado por uma das grandes multinacionais quando sair do governo, não tendo que aceitar um cargo na administração de alguma das maiores empresas caseiras, depósito inevitável para antigos governantes.
Na cimeira Ibero-Americana que decorreu em El Salvador os primeiros dez minutos da intervenção de José Sócrates foram dedicados à apologia do computador Magalhães, num momento de promoção, conforme lhe chamou o próprio. A campanha publicitária foi devidamente acompanhada pela oferta de 22 pequenos portáteis aos chefes de estado e de governo presentes que se entretinham a navegar nos mares da Internet enquanto Sócrates dava loas ao aparelho português, comercializado pela JP Sá Couto, empresa sob suspeita fiscal.

Entre muitos outros slogans Sócrates comparou o Magalhães a Tintim, que só por acaso não é português, para garantir que o portátil pode ser usado dos sete aos 77 anos. Abusou do nome do navegador português que ao serviço de Espanha descobriu a passagem marítima do Atlântico para o Pacífico, para seduzir os congéneres ibero-americanos, criando-lhes o desejo de navegarem, nãos nos mares, mas nas auto-estradas da informação. E qual profeta das vendas, arremessou o argumento mais elementar para ultrapassar as resistências dos governantes info-excluídos, demonstrando que o computador destinada às crianças é simples e resistente. O próprio presidente Chávez tentou parti-lo e não conseguiu.

Pouco ou nada interessa que o Magalhães não seja verdadeiramente português, mas sim o Classmate PC, produto concebido pela Intel, no sector dos NetBooks. É apenas montado em Portugal. Pouco importa que a Intel o venda noutros países, como é o caso da Indonésia onde o Magalhães é conhecido pelo nome de “Anoa”; da Índia em que se chama “Mileap-X”; da Itália sob a designação de “Jumpc”; e até no ibero-americano Brasil onde o computador responde quando lhe chamam “Mobo Kids”.
À imagem do que acontece por cá, a acreditar nas sondagens, é bem possível que o nosso primeiro-ministro tenha conseguido seduzir e convencer a plateia Ibero-Americana. É provável que a acção de marketing resulte e o país exporte muitos Magalhães, minorando a intensidade dos ventos da crise que sopram nesta direcção. Mas há fins que não justificam os meios.
Que falta fez um qualquer Chavéz naquela cimeira para chamar ao bom senso o nosso primeiro:
- Porque não te calas, Sócrates?!!!

 

Data de introdução: 2008-11-05



















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